Dois exemplos ilustram com perfeição como questões ambientais ou de prevenção são colocadas em segundo plano no Brasil.
Só agora, com boa parte das ruas e avenidas de Porto Alegre inundadas, é que a prefeitura irá apurar por que o Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) não deu atenção devida aos alertas feitos por seus próprios engenheiros de que havia risco de alagamento por deficiência das casas de bomba.
Um dos avisos, conforme reportagem da jornalista Adriana Irion, do GDI, foi feito em novembro do ano passado. Mas alertas anteriores eram dados desde 2018, ou seja seis anos atrás. Esses documentos tramitaram em duas secretarias. Alguém não viu, alguém guardou em uma gaveta ou tudo se perdeu na burocracia.
Como diz o ditado, depois de portas arrombadas, trancas de ferro.
É fundamental que haja investigação, determinada pelo prefeito Sebastião Melo. Mas espera-se que ela seja feita com independência, porque é sempre temerário quando o próprio órgão faz a apuração do que ocorreu atrás de suas próprias paredes.
O outro exemplo de como a prevenção é colocada no final da fila das prioridades diz respeito à revelação da Folha de S. Paulo desta segunda-feira (27) segundo a qual os projetos encaminhados pelo governo Eduardo Leite sobre obras relacionadas a alagamentos não foram incluídos no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Você deve lembrar: no ano passado, o presidente Lula pediu aos governadores que encaminhassem as três obras prioritárias de cada Estado. O Piratini encaminhou 27, entre pontes, duplicação de rodovias e construção de barragens. Na lista, estavam duas obras de prevenção a cheias - uma delas previa a construção de um sistema de diques de quase R$ 450 milhões para evitar inundações em Eldorado do Sul; e outra criaria uma barreira contra cheias no Rio Gravataí e afluentes, em Alvorada e Porto Alegre, a um custo de R$ 2 bilhões.
No novo PAC foram incluídas várias obras no Estado, como a duplicação da BR-116 e a construção de acessos à nova Ponte do Guaíba. Todas importantes, sem dúvida.
O cobertor é curto e é necessário eleger prioridades. Mas aquelas que foram eleitas e as que foram deixadas de fora revelam muito sobre como um país e seus governantes pensam sobre o futuro.