Francisco Marshall
Há uma lenda urbana de que as casas das cidades romanas (domus) não podiam ser muito altas para não impor sombra às habitações vizinhas; todavia, não há na documentação arquitetônica e jurídica latina qualquer sinal desta norma, mesmo que ela pareça sensível e desejável. Em seu apogeu, na era imperial, Roma chegou a ter mais de 1 milhão de habitantes, boa parte destes vivendo em edifícios de até 10 andares, as chamadas insulae (ilhas). Federico Fellini (1920-1993) reproduziu a seu modo uma insula nas cenas iniciais de seu Satyricon de Fellini (1969). Preocupado com incêndios e terremotos, Augusto (63 a.C.-14 d.C.) regulou a altura máxima dos prédios em 68 pés romanos (cerca de 20 metros); após o grande incêndio de Roma, em 64 d.C., Nero (37-68 d.C.) reduziu ainda mais a altura permitida, para 58 pés (cerca de 17 metros). E nós, nesta Capital, que fazemos diante das ilhas que ferem o céu e os sonhos da cidade?