A briga entre torcedores de Brasil e Argentina, com intervenção dura da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que retardou em 30 minutos o início da partida entre as duas seleções pelas eliminatórias da Copa, segue repercutindo. Principalmente pela guerra de versões entre os organizadores do confronto. E está também expondo uma nova realidade na CBF, com poder concentrado nas mãos do presidente Ednaldo Rodrigues.
A confusão no Maracanã começou no momento da execução dos hinos de Brasil e Argentina. Torcedores das duas seleções começaram a se desentender, e logo depois teve início uma briga generalizada no setor atrás de um dos gols do estádio. Rapidamente a Polícia Militar entrou em ação, e com o uso de força reprimiu os torcedores argentinos. Como a ação foi somente do lado dos visitantes, os jogadores argentinos, liderados por Messi, foram até o local, mostraram a sua indignação e voltaram para o vestiário, retardando o início do jogo.
Naquele momento, o que mais chamou a atenção foi o fato de não haver separação entre as torcidas. Brasileiros e argentinos estavam juntos no setor de cadeiras, o que tornou difícil o controle da confusão. A partir disso, começou uma guerra de versões.
A CBF diz que a responsabilidade da segurança do estádio é da Polícia Militar e do Maracanã. A Polícia Militar alega que a organização do jogo foi feita pela CBF. E a Federação Carioca de Futebol reclama que a CBF afastou a entidade da organização do confronto, expondo uma relação que não é boa entre Ednaldo Rodrigues (presidente da CBF) e Rubens Lopes (presidente da FERJ).
Aliás, esta é uma questão muito comentada nos bastidores do futebol brasileiro atualmente. Ednaldo Rodrigues, na visão de presidentes de federações e vice-presidentes da CBF, é muito centralizador. É ele quem toma todas as principais decisões, sem ouvir opiniões. Isso vale para as questões administrativas e do futebol.
No caso da Seleção Brasileira, depois da Copa de 2022, até hoje não foi contratado um diretor de seleções. É o presidente que centraliza toda o processo de escolha do técnico da equipe, passando pela definição do interino Fernando Diniz e a tentativa de trazer Carlo Ancelotti.
A posição oficial de CBF, FERJ e Polícia Militar sobre a confusão
O que disse a FERJ
Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ) e vice-presidente da CBF, se antecipou a confusão que aconteceu na partida desta terça-feira (21).
"Nesse sentido, em que pese a expertise da FERJ na organização/operacionalização de partidas de futebol com grande demanda de torcedores no Estádio do Maracanã (atuando sempre em conjunto com os demais órgãos e entidades públicas e privadas envolvidas nos eventos. Toda a responsabilidade operacional, de segurança, tributária, financeira e qualquer outra cabe única e diretamente à CBF".
Nota da CBF
"CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL vem prestar os seguintes esclarecimentos sobre os incidentes ocorridos no jogo Brasil x Argentina, realizado nesta terça-feira 21/11/2023, no Maracanã, válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA 2023.
É importante esclarecer que a organização e o planejamento da partida foram realizados de forma cuidadosa e estratégica pela CBF, em conjunto e em constante diálogo com todos os órgãos públicos competentes, especialmente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Todo o planejamento do jogo, em especial os planos de ação e o de segurança, foi sim debatido com as autoridades públicas do Rio de Janeiro em reuniões realizadas entre as partes.
Os planos de ação e segurança foram aprovados sem qualquer ressalva ou recomendação pelas autoridades de segurança pública presentes (Polícia Militar RJ, SEPOL, Ministério Público, Juizado do Torcedor, Guarda Municipal, CET-RIO, Subprefeitura, Concessionária Maracanã, SEOP, etc.), dentre as quais a Polícia Militar do RJ, na primeira reunião realizada na sede da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), no dia 16 de novembro de 2023, às 11:00h. Além dos planos de ação e se segurança, os participantes da reunião trataram também de toda a montagem da operação da partida, contando com a participação de todas as partes diretamente envolvidas e responsáveis pela organização da partida e autoridades públicas.
Na segunda-feira (20), o plano operacional para o jogo foi igualmente aprovado sem qualquer ressalva ou recomendação na reunião realizada no Estádio Maracanã, com a presença da CBF, representantes da CONMEBOL, da Polícia Militar RJ, das empresas responsáveis pela operação do Maracanã, e que operam mais de 70 jogos no estádio por ano, e outras autoridades públicas.
A realização da partida com torcida mista sempre foi de ciência da Polícia Militar do RJ e das demais autoridades públicas, pois é o padrão em competições organizadas pela FIFA e CONMEBOL, como ocorre nas Eliminatórias da Copa do Mundo, na própria Copa do Mundo, Copa América e outras competições. Outros jogos entre Brasil e Argentina, até de maior apelo, como a semifinal da Copa América de 2019, também foram disputados com torcida mista. Não se trata de um modelo inventado ou imposto pela CBF.
Ou seja, todo o plano de ação e de segurança foi elaborado e dimensionado já considerando a classificação do jogo como vermelha e com a presença de torcida mista, tanto que atuaram na segurança da partida 1050 vigilantes privados e mais de 700 policiais militares da Polícia Militar RJ.
Portanto, a CBF reafirma que foi cumprido rigorosamente o plano de ação, de segurança e operação da partida, tal qual foi aprovado pela Polícia Militar RJ e demais autoridades.
Por fim, a única recomendação recebida pela CBF de qualquer autoridade pública ao longo de todo o período que antecedeu a partida entre Brasil e Argentina, foi uma recomendação do Ministério Público, da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Ordem Urbanística da Capital, para que 'NÃO realizem partidas de futebol no ano de 2023 com o formato de disponibilização da carga total de ingressos através de um tíquete eletrônico apresentado mediante exibição do aparelho de telefonia celular, tal como ocorrido na partida da final da Copa Libertadores no dia 04 de novembro de 2023” e que “Exijam no ano de 2023 dos torcedores que se aproximem das catracas a exibição de evidência física (tíquete de papel e/ou cartão de sócio torcedores) de que o torcedor possui um tíquete de ingresso para se aproximar das catracas do Estádio Mário Filho – Maracanã, de modo a evitar a invasão de torcedores que não possuam ingressos para assistir à partida.'"
Nota oficial da PMERJ
"A respeito dos lamentáveis episódios que antecederam a partida entre Brasil e Argentina na noite de terça-feira no Maracanã, a Secretaria de Estado de Polícia Militar vem a público prestar os seguintes esclarecimentos:
O Batalhão Especializado em Policiamento em Estádios (BEPE), referência nacional em sua especialidade, cumpriu rigorosamente sua missão, conforme legislação vigente.
Em eventos privados, como a partida desta terça-feira, a legislação determina que toda a organização fique a cargo das entidades promotoras envolvidas.
A segurança das arquibancadas estava a cargo de uma empresa especializada contratada pela CBF. Seguindo protocolos próprios, coube à CBF a decisão de liberar a venda de ingressos sem critério de cotas para torcedores dos dois países e, mais grave, de não delimitar espaços nos setores de arquibancadas para cada torcida, uma prática utilizada com sucesso nas praças esportivas do Estado do Rio de Janeiro.
Vale destacar que a Polícia Militar, por meio do BEPE, só foi informada sobre o critério de vendas de ingressos e adoção de setores mistos, ou seja, sem a divisão de torcidas, em reunião realizada na última quinta-feira, 16 de novembro, dois dias depois do início da comercialização de ingressos. No dia 16, todos os ingressos já tinham sido vendidos.
É importante pontuar que, inicialmente, a venda para torcedores argentinos foi direcionada para o setor sul do estádio (local onde ocorreu o confronto entre torcedores). Contudo, o setor acabou liberado para todos os torcedores, transformando a área, que deveria ser restrita, em arquibancada mista."