Há muitas novelas, de naturezas variadas, que se arrastam há décadas no Brasil. O que elas têm em comum? Nunca terminam, seja qual for o tema. A reforma tributária, por exemplo. Há especialistas que passaram a vida falando sobre ela em seminários e congressos e simpósios e programas de TV.
Colocá-la no papel e votá-la no Congresso seria a solução para todas as desigualdades, da distribuição de renda às diferenças de cotas de TV de Flamengo e Corinthians para os outros, passando pelo fim da fome e das gritarias sertanejas. Um mundo novo, enfim. Os governadores, diante de qualquer problema, em qualquer Estado, do Sergipe ao Rio Grande do Sul, alegam em tom compungido:
– É o que eu sempre disse: está na hora deste país ter coragem e fazer a reforma tributária!
E tem a Arena.
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Conversei com Romildo Bolzan esta semana, na sala da presidência, para gravar meu quadro no Bom Dia RS, da RBS TV, o Te Pago um Café. No meio do papo sobre vender ou não Luan, o sonho de contratar Lucas Leiva e a chegada do atacante Arroyo, falamos da Arena quase por obrigação. Até perguntei sob outra ótica, para não cair na lenga-lenga de datas:
– Depois do título da Copa do Brasil, o assunto Arena não perdeu urgência na cabeça do torcedor, à medida que ficou provada a capacidade do Grêmio de fazer time e ser campeão com ou sem se adonar de todas as receitas da Arena? Como estão as coisas?
A resposta presidencial me surpreendeu:
– As coisas não estão.
– Como assim?
– Não estão.
A rigor, saímos da mesa de negociação. Percebemos que o nosso protagonismo travava o processo. Então, chegamos a um limite e recuamos. Hoje, em tese, fica tudo como está. Em junho, talvez tenhamos novidades.
– Então a gestão do estádio não é mais essencial?
– Claro que é! Não temos a renda dos jogos, não podemos fazer campanha de sócios, não temos o direito de usar o estádio para eventos e lucrar com eles. Mas, como andavam as conversas, não nos adiantava. Nosso protagonismo nas tratativas acabava nos prejudicando – afirmou Bolzan, em tom enigmático.
Acho que entendi o recuo estratégico do presidente. Sem os gremistas, o que a OAS pode fazer com a Arena? Nada além de perder dinheiro. A empreiteira depende do Grêmio – e da boa vontade do juiz Sérgio Moro, já que a empreiteira está enrolada até o pescoço na Operação Lava-Jato.
Bolzan cansou de tanto negociar e esperar. Esperar e negociar. Entendeu que não havia mais nada a dizer ou fazer. Tudo já havia sido dito ou feito. Quando tudo se acertava, surgia um fato novo que reembaralhava as cartas. São tantos os interesses jurídicos envolvidos, potencializados pela recuperação judicial da OAS, que o cansaço bateu. Bolzan, que tem na paciência uma de suas virtudes, encheu o saco. Resolveu se fazer de difícil, obrigando a endividada construtora a correr atrás.
– Bem, mas e agora, presidente? – eu insisti.
– Esperemos junho chegar. Os bancos aceitaram nossos termos para fornecer as garantias. Mas não todos.
– E?
– Junho.
Então está certo: junho.
Mais um prazo. A tacada dará certo? Não faço a menor ideia. Será o fim da novela? Só vendo para crer. Se bem que ninguém acreditava que Bolzan tirasse o Grêmio da fila de 15 anos sem títulos nacionais, e ele tirou. Se conseguir comprar a Arena, não duvido que a Frente Nacional dos Prefeitos o convoque, na condição de ex-prefeito de Osório, a assinar um projetinho de reforma tributária. Porque se a novela da Arena terminar, tudo passa a ser possível no Brasil pós-Joesley.