Cíntia Moscovich
Eternamente de pés descalços, cabelos compridos, acompanhado por seu alaúde, Juca Chaves morreu aos 84 anos, em 25 de março, em Salvador, cidade em que escolheu viver ao lado de Yara, o grande amor de sua vida, e de Maria Morena e Maria Clara, as filhas adotivas. Juca nasceu no Rio e, em verdade, se chamava Jurandyr Czaczkes Chaves (aportuguesou o nome), filho de Josef Czaczkes e de Clarita Wainstein, judeus cujas famílias chegaram ao Brasil fugindo de perseguições na Áustria e na Lituânia respectivamente. Com formação em música clássica, dono de raciocínio ágil e de um infinito rol de piadas, Juca foi apelidado de “Menestrel Maldito” por Vinicius de Moraes. Amante dos carros Jaguar, com um humor fino e muito cínico (um de seus bordões era “Ajude o Juquinha a comprar seu caviar”), foi também crítico do autoritarismo (Caixinha, Obrigado, Presidente Bossa Nova), sempre afiado e elegante: fugia de grosserias e obviedades, embora não perdesse a chance de criticar os governos, o que lhe rendeu o exílio em Portugal — e, ao criticar o governo salazarista, teve de se refugiar na Itália.