A tempestade da última terça-feira (16) assustou os gaúchos. As fortes rajadas de vento e o aguaceiro afetaram mais de 50 municípios de diferentes regiões. Apesar de ter sido prevista, a condição foi mais preocupante do que o esperado. Em 48 horas, algumas cidades chegaram a registrar volumes de chuva iguais ou superiores à média esperada para todo o mês de janeiro, como ocorreu em Ijuí, onde a chuva de dois dias foi 15% maior do que o estimado para janeiro.
As estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) são responsáveis por medir a quantidade total de chuva que ocorre em uma determinada área durante um período específico de tempo. Da tarde de terça-feira até a tarde desta quinta-feira (18), diversos municípios registraram volumes que ultrapassam os 50 milímetros. Esse valor já pode ser entendido como alto.
— Nós consideramos que uma chuva fraca a moderada é de 5mm a 15mm por dia. Acima dos 20mm ou dos 25mm em 24h já é forte e pode ser preocupante. Quando chove, por exemplo, acima dos 30mm em um dia, já é o suficiente para causar alagamentos e outros transtornos — explica Guilherme Alves Borges, meteorologista da Climatempo.
Em Porto Alegre, por exemplo, choveu 68,8 milímetros em 48 horas. O valor é o equivalente a quase 62% da média histórica para o mês inteiro de janeiro na cidade, que é de 112,1 milímetros. Já em Canoas, município da Região Metropolitana que foi afetado por uma supercélula na terça-feira, o total de chuva ficou em 80,8 milímetros, o que também pode ser considerado bastante alto. O Inmet e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) não têm dados históricos da cidade para fazer uma comparação.
Os órgãos também não contam com uma estação meteorológica em Cachoeirinha, onde um óbito por causa da tempestade foi registrado. Estima-se que o volume total de chuva no local se aproxime ao que foi apontado em outros municípios, como Porto Alegre, Canoas e Alvorada, onde 54,8mm foram registrados em 48h.
Já nos municípios do noroeste do Estado e da Região das Missões, por exemplo, o volume total de chuva desses dois dias ultrapassou o que costuma chover no mês inteiro. Em Ijuí choveu 197,8mm, cerca de 15% a mais da média histórica de janeiro, que, na cidade, é de 172mm. Em outros municípios, como Santa Rosa, Santo Ângelo e Palmeira das Missões, os valores também surpreenderam e em dois dias somaram mais do que o esperado para todo mês.
— Podemos considerar esse evento como atípico porque foi uma combinação de sistemas meteorológicos, mas aí nós vamos entrar no fator das mudanças climáticas. Então já sabemos que o El Niño deixa os volumes de chuva acima da média, mas nessa situação de mudanças climáticas em que vivemos, acima da média vira um valor muito alto mesmo. Ter, em 48h, uma quantidade de chuva superior à média prevista para o mês é uma condição considerada extrema — pontua Borges.
O especialista salienta que ainda faltam 12 dias para acabar o mês de janeiro. Como o El Niño está passando pelo pico de atuação, é possível que novos eventos de chuva intensa aconteçam, podendo aumentar ainda mais esses valores. É importante ressaltar que a reportagem não considerou o volume total do mês de janeiro até agora, apenas as 48h entre terça e quinta-feira.
*Produção: Yasmim Girardi