
O Rio Grande do Sul alcançou, em 2024, o menor índice de roubos de veículos em 22 anos. Em 2002, quando a Secretaria da Segurança Pública (SSP) iniciou a série histórica, houve 8.380 registros deste tipo de crime. Em 2024, foram 2.287 casos, uma queda de 73% entre os dois períodos.
Na prática, isso significa que o RS saiu de 23 roubos de veículos por dia, há duas décadas, para seis casos diários, em média, no ano passado. Em comparação a 2014, quando foram 13.754 casos, a redução foi de 83%.
O ápice deste tipo de crime no Estado ocorreu em 2015, quando o RS tinha média de 50 casos diários — 18.138 no ano. Desde 2018, entretanto, o Estado vem apresentando quedas consecutivas neste indicador criminal.
O delegado João Paulo de Abreu, diretor da Divisão de Investigação Criminal (Dinc) do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), explica que o combate ao roubo de veículos é uma das prioridades do programa RS Seguro, implementado pelo governo do Estado em 2019. Conforme o delegado, muitos automóveis roubados são usados por criminosos para cometer outros delitos.
— Hoje, você tem pessoas que roubam veículos automotores que não são, necessariamente, usados para o desmonte de peças. Há, sim, a prática desses roubos por criminosos que são, por vezes, demandados a furtar e subtrair esses bens para destinar ao crime organizado, justamente para se utilizar deles em outros crimes — sublinha.
O delegado diz, também, que há relação entre a queda dos roubos de veículos com a redução de outros crimes, como os homicídios.
— Não dá para se olhar de forma isolada para esse tipo de crime. O veículo é meio, ele é instrumento para a prática de vários outros crimes. Quando você executa um trabalho de investigação criminal, de segurança pública, que consegue diminuir indicadores de outros crimes, como homicídios, roubos a banco, sequestros, tráfico de drogas, necessariamente, ou de forma decorrente, o roubo de veículos diminui — comenta.
Três pilares de combate
Entre 2023 e 2024, a redução dos casos de roubos de veículos foi de 36%, seguindo o padrão de queda dos seis anos anteriores. Em Porto Alegre, houve 3.641 roubos de veículos em 2002 contra 730 em 2024, uma redução de 80% no período.
A delegada Vanessa Pitrez, diretora do Deic, explica que a Polícia Civil atua em três pilares para o combate aos roubos de veículos. São eles:
- Monitoramento e análise criminal permanente, com uso do cercamento eletrônico e demais ferramentas de inteligência, de todas ocorrências registradas na Capital;
- Saturação de área — com equipes de sobreaviso 24 horas por dia, para deslocamento imediato ao local do roubo e cobertura das localidades que apresentam maior incidência do crime;
- Investigação qualificada com coleta robusta de prova, especialmente pericial, que garanta a identificação do autor do crime e sua permanência na prisão.
— Com essa estratégia, conseguimos não só obter a maior redução da série histórica nos roubos de veículo como alcançar um índice de elucidação de 96% dos casos investigados pelo Deic que foram remetidos à Justiça — diz a diretora.
Operações de repressão ao crime
A delegada ressalta a importância das operações policiais realizadas pela Polícia Civil e demais órgãos de segurança para reprimir este tipo de delito.
Entre as investidas deflagradas em 2024, Pitrez destaca a Operação Vans, em abril, quando um homem de 29 anos foi preso suspeito pelos roubos de cinco veículos cometidos nos bairros Mont'Serrat, Bella Vista, Auxiliadora e São João, em Porto Alegre. Ele foi reconhecido pela marca do tênis que usava — o que deu nome à operação.
Já na Operação Édipo, no mesmo mês, em que foram presos dois homens em Ipanema, na Zona Sul, a mãe de um deles tinha a função de guardar os veículos roubados até as trocas das placas. O fato, inclusive, inspirou o nome da operação, em alusão a Édipo, personagem da mitologia grega que matou o pai e se casou com a própria mãe.
Além das operações, a diretora do Deic salienta que a polícia também reduziu o tempo de devolução dos veículos recuperados para as vítimas.
— Isso porque fizemos parceria com o IGP (Instituto-Geral de Perícias), que realiza três vezes por semana as perícias nos veículos recuperados no próprio Deic e permite a devolução imediata às vítimas — ressalta.

Atuação conjunta
O delegado João Paulo Abreu, da Divisão de Investigação Criminal (Dinc), afirma que a atuação conjunta das forças de segurança, como as polícias Civil, Federal e a Brigada Militar (BM) é essencial para a manutenção da queda da criminalidade.
O comandante-geral da BM, Cláudio Santos Feoli, pontua que a atuação da BM no combate aos roubos de veículos é focada, principalmente, em análise criminal.
—Verificamos quais são os locais de maior incidência de ocorrências e posicionamos o policiamento ostensivo, preventivo, nesses locais, evitando ocorrências futuras. Além disso, nós acompanhamos junto com a Polícia Civil o movimento das quadrilhas que se especializam nesse tipo de crime, fazendo com que a gente tenha uma ação mais direta sobre aqueles que causam o problema — diz.
Ele também destaca a importância do cercamento eletrônico e das operações realizadas em desmanches.
Como denunciar
Quem tiver informações que possam ajudar a elucidar crimes relacionados a roubos de veículos pode denunciar anonimamente à Polícia Civil pelos canais abaixo:
- Disque-denúncia do Deic: 0800-510 2828
- WhatsApp e Telegram: (51) 98444-0606
- Site da Polícia Civil: www.pc.rs.gov.br
- Presencialmente, na delegacia mais próxima.