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“Será que eu estou muito velha para isso?” é a pergunta que, de uma ou de outra forma, ressoou nas mentes das três entrevistadas para esta matéria quando consideraram retomar os sonhos infantis. Depois de realizados, a resposta delas vai na linha de que idade não é impeditivo para sonhar e realizar e de que, na rotina burocrática do adulto, faz bem inserir alguns momentos para ser feliz como criança.
Uma das melhores coisas que aconteceram este ano para a professora de educação física Vera Lúcia Maia Cariello foi tornar-se “dona e proprietária” de um par de patins cor de rosa. E foi uma evolução gigantesca na comparação com as simples sandálias de rodinhas que teve na infância, seu primeiro e único contato com a patinação até então.
Desde março, a porto-alegrense de 53 anos se equilibra e faz firulas sobre quatro rodinhas, para o desespero da mãe, que teme que a filha adulta caia um tombo e se machuque. Vera argumenta que é possível realizar esse sonho tardiamente, desde que os limites do seu corpo sejam respeitados e seja feita uma força para romper barreiras da mente.
— Patinar é maravilhoso, dá uma sensação muito boa de liberdade e prazer. E ajuda a trabalhar muito a questão das inseguranças, já que patinação quer dizer negociar com o medo o tempo inteiro. Cada vez que tu sobes nos patins e tentas aprender uma manobra nova, tens que te superar para evoluir. Isso é um aprendizado que levo para fora do esporte. Mais do que uma atividade física, é um trabalho emocional que mostra que sou capaz de superar situações difíceis — afirma Vera.
O convite para o rinque veio por acaso. Vera perambulava pelas redes sociais quando foi impactada por um anúncio de “venha para uma aula experimental na escola Corpo em Movimento”. A professora se identificou com a prática, cujas aulas são intensas, para suar mesmo. A maioria das colegas é criança, mas há adultas também – principalmente mães que se inspiraram nas filhas patinadoras e acabaram se matriculando.
— Tu começas tentando caminhar com patins, te segurando na barra. Aos poucos, passas a andar de frente, a girar no próprio eixo, a fazer curvas cruzando uma perna na frente da outra e outras manobras. Tudo pode ser feito de costas também, o meu maior desafio. Essa é a superação que estou buscando para os próximos meses — afirma.
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No embalo da patinação, foram ficando para trás preconceitos e se abrindo novos caminhos. Por meio do convite de uma colega que conheceu na quadra, Vera acabou se envolvendo também com o tecido acrobático, mais uma atividade que exala adrenalina e pressupõe superação de receios. Desde agosto, a semana da professora de educação física tem três dias reservados aos patins e um ao tecido.
— Espero que meu exemplo incentive o pessoal de mais idade e os faça entender que nunca é tarde para começar uma atividade física. Não precisa fazer só caminhada, pode ser um esporte que exija mais do corpo e que tenha um pouco mais de risco. O importante é fazer tudo com acompanhamento de profissionais habilitados e de acordo com a própria consciência corporal — recomenda ela.
Nos links a seguir, confira a íntegra da reportagem sobre gaúchas que realizaram sonhos de infância em 2022: