Zeni Isquierdo Danelon, 70 anos, já tinha o texto opinativo e a paixão pelo português correto como marcas registradas da sua escrita nos tempos de escola, em Camaquã, mas não fez das letras sua profissão. Optou por dedicar a maior parte da trajetória profissional à Caixa Econômica Federal, de onde se aposentou após 25 anos de serviço.
Ainda assim, a aposentada relata que sempre reservou um espaço extra no seu dia a dia para as palavras: produziu colunas para jornais locais – “num estilo Martha Medeiros de Camaquã”, brinca –, participou da redação da biografia de uma amiga e da revisão e pesquisa para um livro sobre a história do General Zeca Netto, um líder maragato da Revolução de 1923. No entanto, restava uma lacuna: faltava um livro para chamar de seu.
Quis o destino que a primeira obra de Zeni fosse publicada quando ela já ocupava orgulhosamente o posto de avó da menina Helena, quatro anos. Foi a pequena que motivou a matriarca a registrar em papel a história dos 16 irmãos Izquierdo, uma família de origem espanhola que morava em Chácara Velha. O livro também tem relatos do lado italiano da família, que veio por meio do casamento de Zeni com o marido, Odino Miolli Danelon, e mais algumas crônicas e histórias de viagens.
— Minha aventura pela escrita nos últimos anos me surpreendeu e surpreendeu a todo mundo. Amigos e familiares sabiam que eu gostava de escrever, mas não imaginavam que estava com a mente tão ativa a ponto de escrever um livro. Fui aos poucos aprendendo sobre as ferramentas para contar uma história e me convenci de que, sim, eu tinha uma história para contar. A minha — descreve a aposentada.
Durante a pandemia, Zeni enfim encontrou tempo e meios para estudar a escrita através de oficinas. Em um dos cursos que fez pela internet, o de formação de escritores da editora Metamorfose, da Capital, soube da possibilidade de publicar um livro autoral e agarrou-a.
Mesmo assim, não se considera escritora e prefere que a chamem simplesmente de “organizadora de palavras”. Qualquer que seja o crédito, fato é que a autora colocou no mundo uma obra de valor sentimental para a família, com cerca de 300 páginas, ilustrada com muitas fotos e redigida em fonte tamanho 13,5, “numa letra bastante clara e confortável para ler, por pavor de livro com letra pequena”, observa ela. A publicação se chama E Agóia? Memórias e Histórias da Vovó Dini, imitando o jeito de falar da neta na palavra “agora”.
A cereja do bolo foi o lançamento. Zeni garante que a cerimônia para 90 pessoas foi tão marcante que hoje é considerada como mais um sonho de menina realizado na fase adulta.
— Quando completei 15 anos, fazia apenas quatro meses que meu pai tinha falecido, então não teve celebração, passou em branco. O lançamento foi a festa que nunca tive, com tudo aquilo que tu contratas para uma comemoração de 15, com cerimonialista, músico, promoter e fotógrafo — festeja.
Nos links a seguir, confira a íntegra da reportagem sobre gaúchas que realizaram sonhos de infância em 2022: