Em depoimento à Polícia Civil, a ex-namorada do policial militar que matou quatro homens da mesma família em uma pizzaria na zona norte de Porto Alegre disse que os dois terminaram o relacionamento em setembro do ano passado. Ela afirma que na madrugada de 13 de junho não foi procurada pelo ex por ligações ou mensagens. A jovem falou na 5º Delegacia de Homicídios de Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital em 16 de junho. GZH teve acesso ao relato.
A ex-companheira foi ouvida no inquérito por ser a pessoa que o soldado procurava por volta das 5h de 13 de junho, quando entrou na casa da família Lucena durante uma confraternização. O PM conta que saiu de uma boate em Alvorada, na Região Metropolitana, foi até a casa da ex e, como ela não estava, decidiu ir até a residência de uma amiga dela, no Morro Santana, na mesma rua onde a família Lucena vive. Ao ouvir o som e ver que estava ocorrendo uma festa, ele entrou na casa sem se identificar procurando pela jovem e não a encontrou.
Dentro do local, iniciou-se um desentendimento. A família alega que ele deu três tapas nas costas de uma das mulheres, o soldado nega. O policial também mandou baixar o som. O PM correu e buscou abrigo em uma pizzaria, na Avenida Manoel Elias, onde quatro homens e duas mulheres da família foram atrás dele. No delivery, os homens foram mortos a tiros: os irmãos Cristiano Lucena Terra, 38 anos, e Christian Lucena Terra, 33 anos, o sobrinho deles, Alexsander Terra Moraes, 26 anos, e o primo Alisson Corrêa Silva, 28 anos.
À polícia, a ex-namorada disse que se relacionou com o soldado por três anos e que desde setembro do ano passado, estão separados. Desde então, ele tentou reatar o namoro em algumas oportunidades:
— Mantínhamos um pouco de contato, conversamos algumas vezes. Ele foi até lá em casa, tentou reatar o namoro e a gente não deu muito certo então. A última vez que a gente se falou foi em abril.
Naquela noite, ela conta que não recebeu mensagens ou ligações do soldado. A jovem disse que não conhece nenhuma das vítimas e quando questionada sobre o que sabia a respeito do que havia acontecido na madrugada das mortes, respondeu:
— O que eu sei foi que ele estava em algum lugar próximo com os amigos, que saindo desse lugar decidiu que queria conversar comigo, tentar reatar, conversar, algum contato comigo. Foi até minha casa me procurar. Eu não estava em casa. Pensou que pudesse estar na casa de uma amiga e foi até lá. E foi onde achou a festa e pensou que eu pudesse estar lá.
O relato corrobora a versão do PM. Ela disse que soube dessas informações pois foi o que leu em notícias sobre o caso. Ao ser indagada se têm amigos próximo da casa onde se iniciou a discussão, afirmou que sim.
— Tenho duas amigas, uma que mora... morava, não sei se mora ainda porque não tenho mais contato, onde ele foi. E outra que mora ali perto, onde ele pensou que estava indo.
Questionada por agentes se ela costumava ir em festas naquela região, disse que não mais, mas que costumava ir a festas em casas próximas dali quando namorava com o PM. O depoimento à Polícia Civil durou dois minutos e 35 segundos. A jovem não foi questionada sobre o comportamento do soldado durante o relacionamento ou após o término.
Em 17 de junho, GZH conversou com o PM. Na entrevista, ele disse que até aquele momento não havia procurado a ex-namorada e confirmou que, em 13 de junho, após sair da boate, pretendia reencontrar a ex:
— Nos separamos no final de abril. E teve outras datas que passamos juntos. Pensei, quem sabe no Dia dos Namorados. Sempre fazíamos coisas para marcar esse dia. Pensei em conversar, estávamos com a cabeça mais calma um com o outro. E daí deu no que deu.
Na quinta-feira (1º), o inquérito das quatro mortes foi remetido à Justiça sem responsabilização ao PM. Com base em imagens de câmeras internas da pizzaria e depoimentos, a Polícia Civil entendeu que o soldado agiu em legítima defesa e que buscou evitar o confronto. O caso agora será analisado pelo Ministério Público.