Devido à dificuldade de acesso a bairros e aterros, municípios da Região Metropolitana estão adaptando a coleta e a destinação de seus resíduos para garantir a manutenção do serviço. O armazenamento temporário de lixo em áreas específicas das cidades impedidas de transportar o lixo até o destinatário final foi autorizado pelo governo do Estado ainda na semana passada.
Em determinados municípios, o trabalho de coleta precisou ser suspenso por alguns dias, já que bairros ficaram inteiramente alagados. Foi a situação de Canoas, por exemplo, uma das cidades mais castigadas pela água, entre os dias 4 e 5 de maio.
O sistema de recolhimento de lixo orgânico do município ficou suspenso desde então e voltou a operar de forma parcial na última terça-feira (7), com trabalhos se iniciando pela região Nordeste e avançando de forma gradativa. De acordo com a prefeitura de Canoas, cerca de 90% dos funcionários eram moradores do bairro Mathias Velho e foram afetados pelos alagamentos, ficando sem condições de voltar ao trabalho.
Entretanto, a Secretaria de Serviços Urbanos conseguiu mão de obra da Região Metropolitana, viabilizando a ampliação das atividades. Assim, na quarta-feira (8), o serviço passou a operar com um novo cronograma de ações, abrangendo os bairros das regiões Nordeste, Sudeste e Centro — a exceção é a área Oeste, que foi completamente afetada.
Conforme a pasta, o recolhimento de lixo nas áreas não atingidas foi normalizado e ocorre de forma alternada, durante seis dias da semana, a partir das 7h. A limpeza dos abrigos da cidade é realizada diariamente.
O serviço segue operando com 10 caminhões de coleta. A diferença é que, atualmente, os resíduos estão sendo descartados no ponto de transbordo de Canoas, localizado no bairro Guajuviras — antes dos bloqueios nas rodovias, eram levados para o aterro em Minas do Leão. Essa medida foi autorizada pelo governo estadual em 2 de maio.
Guaíba restabelece o serviço
Já a cidade de Guaíba conseguiu restabelecer sua coleta de lixo somente nesta sexta-feira (10), afirma o prefeito Marcelo Maranata, que também é presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal). Segundo ele, a falta de combustível estava impedindo o funcionamento do serviço.
— Agora retornando o combustível, nós já conseguimos botar (na rua) toda a nossa frota de caminhões da coleta de lixo. Restabelecemos também o transbordo, a pesagem e o transporte para Minas do Leão. Temos um caminho interno, via BR-290, na parte de estrada de chão, e hoje (sexta-feira) estamos conseguindo depositar todos os nossos resíduos no aterro — detalha Maranata.
Esteio, por sua vez, está realizando apenas 50% da sua capacidade de coleta de lixo. Os resíduos habitualmente são levados para um aterro no bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo, mas agora estão sendo encaminhados para locais alternativos, em Sapucaia do Sul e em Santo Antônio da Patrulha.
Conforme a prefeitura, a demora no deslocamento dos caminhões até esses endereços tem atrasado bastante as rotas de coleta de lixo feitas nos bairros que não foram tão atingidos. Os alagamentos também dificultam a realização do serviço, mas o município está organizando uma operação para reforçar a quantidade de veículos de carga que removerão todos os resíduos quando a água baixar — o planejamento dessa ampliação ainda está sendo elaborado pelo governo municipal.
Outros três municípios gaúchos repassaram informações à Granpal sobre o recolhimento de lixo. A prefeitura de Cachoeirinha informou que está realizando um “serviço emergencial” para coleta de resíduos, com envio ao aterro de São Leopoldo. Nova Santa Rita disse apenas que a coleta está sendo feita, com a retirada de aproximadamente 420 toneladas de resíduos por mês e envio ao endereço de São Leopoldo. Já Arroio dos Ratos afirmou que estava com problemas em três caminhões e que um deles voltou a funcionar na quinta-feira (9) — o lixo é destinado para Butiá.
Aterros recebem 50% da quantidade normal
As dificuldades na coleta de resíduos enfrentadas pelos municípios refletem na quantidade de lixo recebida pelos destinatários finais. Leomyr Girondi, diretor-presidente da Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), que administra os aterros de São Leopoldo e de Minas do Leão, garante que as operações se mantiveram em ambos os locais, mesmo diante de obstáculos como a redução do efetivo — já que muitos colaboradores foram afetados pela água — e os bloqueios em rodovias. De toda forma, o montante diminuiu significativamente nos dois endereços.
Em Minas do Leão, por exemplo, a média de resíduos recebidos por dia costuma variar entre 4 mil e 4,2 mil toneladas. Nos dias mais críticos deste mês, principalmente depois que a BR-290 foi afetada pela enchente, o aterro chegou a receber somente 10% desse total. Já São Leopoldo, para onde são enviadas em média 1,2 mil toneladas diárias de lixo, chegou a ficar três dias sem receber nenhum acumulado.
De acordo com Girondi, a situação foi melhorando ao longo da semana.
— Ontem (quinta-feira), Minas do Leão já recebeu 50% do que recebia normalmente e São Leopoldo já está recebendo 100%. Mas muitas cidades não estão conseguindo nem coletar os resíduos. Mesmo assim, o envio está retomando, até porque os transbordos não conseguem acumular tanto — aponta, destacando que a retomada está vinculada à liberação de tráfego nas estradas.
Novo Hamburgo mantém cronograma diário
A coleta de lixo domiciliar em Novo Hamburgo segue um cronograma diário de roteiros pelos bairros do município. Em nenhum momento da enchente o recolhimento foi interrompido de forma total na cidade, apenas de forma parcial em parte dos bairros atingidos, como Canudos, Santo Afonso, Industrial e Lomba Grande, em que não foi possível o acesso do caminhão devido ao alagamento das vias. E esta é a situação do momento. O nível do Rio dos Sinos segue baixando, e o recolhimento não está sendo realizado apenas nos locais onde a água ainda não recuou por completo.
Quando o acesso a Minas do Leão estava bloqueado para a destinação final do material recolhido, o município enviou temporariamente o lixo para uma área da CRVR em São Leopoldo. A CRVR é a administradora do aterro em Minas do Leão. O envio do lixo para o município da Região Carbonífera já foi retomado por Novo Hamburgo, que recolhe entre 180t e 200t de lixo domiciliar por dia.