O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta segunda-feira (13), que as enchentes no Rio Grande do Sul não teriam ocorrido só por conta das chuvas. Ele mencionou um mau cuidado de comportas do sistema de prevenção às cheias de Porto Alegre. Lula deu as declarações em reunião ministerial sobre o desastre climático. O compromisso foi fechado, mas a fala inicial do presidente foi divulgada pela assessoria de imprensa no Palácio do Planalto.
— Esse fenômeno que aconteceu me parece que não foi só chuva. Me parece que teve um fenômeno também das pessoas que não cuidaram das comportas que deveriam ter cuidado há muito tempo — disse o presidente da República.
O petista afirmou ainda que o compromisso de seu governo é deixar o Rio Grande do Sul "como era antes das chuvas". Segundo ele, o governo não tem estrutura para lidar com as doações na velocidade cobrada e há necessidade de fazer reconhecimento, seleção e necessidade das demandas.
No começo do mês, o presidente Lula visitou o Rio Grande do Sul, acompanhado dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, da Câmara, Arthur Lira, do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, e do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, além de 13 ministros de Estado.
Lula disse que a reunião era emergencial para alinhar o governo, principalmente sobre o Rio Grande do Sul. Também afirmou que ministros não deveriam anunciar ideias. Antes, seria necessário transformar a ideia em uma "política real", e que ideias podem terminar sem construir ações sólidas. O recado de que os ministros não devem fazer anúncios sem o aval do Planalto foi reforçado ao menos três vezes no encontro, segundo apurou o Broadcast Político/Estadão.
— Não dá para cada um de nós que tem uma ideia anunciar publicamente — disse o presidente no único momento da reunião cujo conteúdo foi divulgado pela assessoria de imprensa do Palácio do Planalto.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também mencionou a necessidade dos anúncios serem articulados com o Planalto. No encerramento da reunião, o presidente repetiu a instrução sobre não divulgar ações antes de haver o aval da cúpula do governo.
O Rio Grande do Sul vive a maior tragédia climática de sua história, atingido por fortes temporais desde o último dia 29. Segundo a Defesa Civil estadual, 450 dos 497 municípios gaúchos foram impactados, e mais de 500 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas. Em consequência das chuvas, 124 pessoas seguem desaparecidas.
O presidente da República também declarou que negacionistas tentam deslegitimar as discussões sobre as mudanças climáticas. Afirmou ainda que deve apresentar um plano nacional para resolver as enchentes no Rio Grande do Sul. Lula mencionou que haverá anúncios nos próximos dias, mas não entrou em detalhes sobre as novas ações em nenhuma de suas falas.
A reunião foi realizada no Palácio do Planalto e durou menos de três horas porque nem todos os presentes falaram. Normalmente, encontros de todos os 38 ministros ao mesmo tempo com Lula, como o desta segunda-feira, são mais longos. Ninguém deu entrevista à imprensa na saída.
Na segunda-feira (13), o diretor-adjunto do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Darcy Nunes, afirmou à reportagem de GZH que o avanço da água em Porto Alegre não se deu por falta de manutenção, e sim porque a enchente superou a capacidade prevista do sistema. O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) informou que vai instaurar uma ampla investigação para traçar um diagnóstico do sistema de prevenção e impacto no regime hídrico do Guaíba e dos rios próximos.