
Merovíngios, hunos, vikings, germânicos, romanos, carolíngios. Povos invasores ao longo de dois mil anos do local habitado pela tribo dos parísios. Nesta sexta-feira (26), o pedaço de terra desenvolvido ao redor da Ilie de La Cité e banhado pelo Sena será novamente invadido. Desta vez por todos os povos da Terra. Paris é o ponto de confluência para, mais que disputar, celebrar os Jogos Olímpicos.
Desde que Gisele Bündchen desfilou no Maracanã ao som de Garota de Ipanema em uma sexta-feira quente de agosto de 2016, o planeta não foi mais o mesmo. São oito anos que o mundo busca uma ocasião para se reencontrar como um todo. Ocasiões para se separar não faltaram. Extremismo político. Pandemia. O novo normal. Guerras. A Cerimônia de Abertura, com início às 14h30min de sexta, será uma lembrança do antigo normal.
Pelas mesmas águas que diversos povos adentraram Paris, todas as raças, todas as línguas, todas as etnias, todas as cores, todas as culturas confraternizarão outra vez. As diferenças coexistindo e se respeitando em um mesmo ambiente. A renovação da ideia de paz em um planeta em conflito.
— Os Jogos ainda possuem a habilidade de representar o olimpismo, sua visão filosófica que enfatiza o papel que o esporte pode ter ao promover valores do desenvolvimento humano, como excelência, paz, justiça, equidade, respeito mútuo, justiça e a não discriminação — avalia Cesar Torres, professor de filosofia do esporte da universidade de Brockport, em Nova Iorque.
Será a primeira vez que a Cerimônia será fora dos limites de um estádio olímpico. A Paris das revoluções sendo revolucionária. Será um momento aberto. Uma espécie de psicanálise lacaniana coletiva para a humanidade refletir a que ponto chegamos e para onde vamos. Um simbolismo no mais simbólico dos eventos esportivos. A cidade-vitrine da moda, será a janela do mundo.
A vanguarda de Paris
A nação que teve monarcas e imperadores como Clovis I, os Luíses XIV, XV e XVI, Henri IV e Napoleão vai coroar novos reis dos esportes e reconhecer monarcas prontos para ampliarem seus impérios esportivos. Serão dias para ver os ângulos cubísticos do tênis, os movimentos borrados impressionistas dos velocistas, as ações surrealistas de ginastas, a art nouveau do breakdance.
Breakdance, a grande novidade. Modalidade urbana na mais urbana das edições dos Jogos Olímpicos. As belezas históricas de Paris não serão apenas molduras para competições, serão personagens desde a Cerimônia de Abertura à maratona, do primeiro ao último ato olímpico. Nunca o urbano esteve tão presente em uma Olimpíada. Paris mais uma vez sendo de vanguarda.
Pelas ruas que Pierre de Coubertin, um dos tantos filhos ilustres da cidade, flanou em sua juventude e idealizou os Jogos Olímpicos se ouvirão os mais diferentes sotaques, se verá as mais distintas origens. Todos lá pelo sonho que ele ousou sonhar.
— O Coubertin será onipresente nesses Jogos. Foi nesses locais que ele imaginou esse sonho de paz, a integração dos povos. A renovação dos Jogos, sua internacionalização veem de Coubertin pelas experiências que Paris oferecia a ele, até mais do que o próprio exemplo dos Jogos da Antiguidade, que também inspiraram ele, mas não eram um evento global, era o mundo grego — pondera Nelson Todt, professor da PUCRS e presidente do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin.
De quarta-feira (24) até 11 de agosto, as forças simbólicas de Paris e dos Jogos Olímpicos se unem através dos anéis, da pira, do desfile pelo Sena, das competições pela cidade. Duas potências se juntam não apenas para testemunhar disputas, ver a busca pela excelência, mas para serem mensageiras da paz, para serem inspiração nesses dias em que o mundo todo está em um mesmo lugar.





