
Depois de momentos turbulentos com eliminações precoces no Gauchão e na Copa do Brasil, o Inter chega para a reta final da temporada com o sonho do tri da América vivo, com a classificação para a semifinal da Libertadores. Ao mesmo tempo que precisa reagir no Campeonato Brasileiro, onde não vence há 10 rodadas.
Nesta sexta-feira (8), o presidente Alessandro Barcellos recebeu a reportagem da GZH no CT Parque Gigante e, durante mais de 50 minutos, falou não apenas sobre questões de campo, mas finanças, administração e sobre a base colorada. Se mostrou confiante nas disputas que faltam até o final do ano e deixou claro que não há, no ambiente do Beira-Rio, um temor de rebaixamento no Brasileirão apesar da má sequência.
O Inter encerra com Dalbert o seu ciclo de contratações em 2023?
Um clube como o Inter não pode ter seu plantel fechado em nenhum momento. A possibilidade de contratações é muito específica, precisa ser um jogador sem contrato, como o caso do Dalbert. Estamos satisfeitos com o plantel, mas é sempre difícil falar que não vai chegar ninguém. Isso não vale apenas para o Inter, mas para todos os clubes. O Dalbert foi uma oportunidade, é um jogador que tínhamos olhado lá atrás. O contrato aceito ficou bom para os dois lados. O Inter buscou um jogador de qualidade e ele também, que está em processo de recuperação e tem uma oportunidade no Inter.
O Inter recebeu proposta pelo Luiz Adriano?
A gente sabe que o Luiz Adriano é um atleta reconhecido, com passagem importante pela Europa e sempre gera interesse ou especulações. Para o Inter, não chegou nada, nem sondagem, nem proposta. É importante dizer que não é do nosso interesse nos desfazer de um jogador desses, que foi importante na nossa caminhada na Libertadores. Não temos interesse em nos desfazer desse jogador e, tenho certeza, que ele também não quer sair nesse momento.
O Inter estaria na semifinal da Libertadores se não tivesse feito a troca na comissão técnica de Mano por Coudet?
Essa é uma pergunta bastante inteligente, mas difícil de responder porque o futebol nos dá respostas claras e concretas depois que as coisas acontecem. É difícil responder sobre isso. Prefiro falar pelo que aconteceu. Entendo que a troca nos trouxe algumas mudanças que, sem dúvida, impactaram na melhora de performance. Digo isso sem fazer nenhum juízo sobre o trabalho anterior porque são contextos que vivem os clubes. Momentos assim já aconteceram no Inter e em todos os clubes de mudança de ambiente e forma de jogar. Mudamos a forma de jogar, o ambiente anímico, que é o jeito de trabalhar do Coudet, e os resultados mostram que foi positivo. Essa é a avaliação. Difícil dizer como seria sem, mas as mudanças, sim, nos ajudaram a avançar.
Eduardo Coudet hoje é mais flexível no dia a dia e na forma de montar o time do que em 2020?
São dois pontos. Acho que a primeira passagem pelo Inter e a recente pelo Atlético-MG deram a ele uma dimensão maior do que significam as pressões e também as características do jogador brasileiro. O outro é a confiança. Hoje ele vive um ambiente de muita confiança com jogadores e comissão técnica. Isso dá a ele tranquilidade para trabalhar e também de ouvir. Ele tem se mostrado bastante flexível e participado das decisões constantemente. Ao mesmo tempo, ele segue firme em suas convicções de jogo. Há mudanças em relação à primeira passagem, mas não deixa de ter um time intenso, agressivo e que gosta da posse de bola. O jogo na Bolívia mostra como o Coudet conseguiu fazer leitura para jogar diferente do que está acostumado. Isso vem também da confiança dele no grupo. Quando fomos contratá-lo combinamos com ele, falamos do grupo que tínhamos e a forma como iríamos jogar. Ele conhecia os jogadores, estava vendo os jogos, e se comprometeu. É importante deixar as coisas claras no início, assim temos a clareza e sem surpresas. O combinado não sai caro.
O Inter fez também contratações importantes para esse segundo semestre, algo que havia acontecido em 2022, mas nos dois anos sofreu no primeiro semestre caindo precocemente de Copa do Brasil e Gauchão. Vocês hoje entendem que foi errado esse planejamento?
A gente costuma pensar que quando as coisas não dão certo é porque foram mal planejadas e quando dão é porque foram bem. Não pode ser assim. As coisas também estão dando certo agora porque foram bem planejadas. Nós não temos só o aspecto que nos move, que é o da busca da vitória, de termos um grupo forte, mas também o financeiro. Esse grupo não foi formado no meio do ano, começou em 2022 mais fortemente. Em 2023, fizemos uma janela mais comedida no começo do ano por aspectos financeiros. Para trazer Bruno Henrique, Aránguiz e Valencia em janeiro gastaríamos mais de 20 milhões de euros. Trago no meio do ano e não gasto nada para trazer, apenas as luvas dos jogadores. Pela situação financeira do clube, foi essa a diretriz que definimos, de buscar fazer mais com menos. O Inter tem continuidade na sua vida independente de quem esteja na gestão. Pensar apenas na sua gestão pode inviabilizar o futuro do clube.
Foi uma decisão muito discutida dentro do departamento de futebol porque também havia esse questionamento de que tínhamos um goleiro vivendo uma grande fase
ALESSANDRO BARCELLOS
sobre a contratação de Rochet
Falando em contratações, como foi a decisão de trazer o Rochet em um momento que o John era destaque da equipe?
A qualidade do Rochet sempre despertou interesse e olhar para que isso pudesse acontecer. Conversamos com o Nacional e vimos a possibilidade de fazer algo adequado ao clube financeiramente. A gente pensou em qualificar o grupo trazendo um grande goleiro não apenas pela qualidade, mas também pela liderança. Foi uma decisão muito discutida dentro do departamento de futebol porque também havia esse questionamento de que tínhamos um goleiro vivendo uma grande fase. Mas pensamos no futuro, como falei na resposta anterior. O John não era nosso, e seria uma aquisição importante.
Mas foi arriscado tanto da direção quanto do Coudet de fazer a mudança na titularidade. Se cai na Libertadores com erro do Rochet, a conta seria de vocês.
O nosso (direção) trabalho é dar ferramentas para o treinador e a gente fez. A decisão de jogar ou não é dele. Ele correu esse risco, mas muito na confiança que tem nas qualidades do Rochet. É uma decisão do treinador, e cada um tem seu modo de trabalhar. Poderia ter dado errado? Poderia, mas, felizmente, deu certo e hoje contamos com um grande goleiro. Também agradecemos ao John, que tomou a decisão de ir para a Espanha, mas fez um trabalho importante com a gente.
O Inter não fez nenhuma grande venda nesta temporada. O quanto vai ser necessário fazer isso na próxima janela?
A necessidade continua existindo. O que aconteceu, primeiro, foi que as sondagens e propostas não alcançaram o que entendemos ser razoável para aceitar, exceto a do Alemão, mas a gente precisa da vendas de atletas. Se elas não aconteceram, acontecerão no final do ano. Isso faz parte da necessidade do clube. Devemos trabalhar a médio e longo prazo para não precisar mais das vendas. O Inter tem hoje uma capacidade de receita recorrente equilibrada com a sua despesa recorrente, mas fruto do endividamento do clube é preciso tirar dinheiro do recorrente para pagar a dívida.
Tem a negociação com a Liga Forte Futebol. Quanto vai entrar para o Inter? O que o torcedor sempre pergunta é onde serão usados esses valores?
Nós estamos trabalhando em detalhes de fechamento de negócio. A expectativa é que a gente possa avançar nos próximos 30 ou 40 dias. Mas a gente já se comprometeu de que esse recurso será prioritário para pagamento das dívidas e início do investimento no nosso CT em Guaíba. São recursos para isso, mas, óbvio, que reduzindo parte da dívida vai se ter maior capacidade de investimento ao clube, mas é um processo que é consequência.
Em relação à base, o Gustavo Grossi fala que o trabalho dele é para colher frutos daqui a cinco ou seis anos, mas como a direção avalia a formação do Inter? No começo do ano alguns jovens eram primeiros reservas do elenco, como Estêvão, Lucas Ramos, Thauan Lara, mas não corresponderam. A base está devendo?
O Inter vem há mais tempo com dificuldade para revelar jogadores. Isso passa pela necessidade de entender a dinâmica no futebol brasileiro e como as coisas estão acontecendo muito rápido na última parte da formação, sub-18, sub-20. São jogadores que você não formando são caros. Nós apostamos em jogadores mais jovens e que demoram um pouco mais de tempo. Esse é o trabalho que o Grossi manifesta que está sendo feito. Temos um "gap" de formação nas últimas categorias que fizemos investimento ou esperamos os jogadores que estão subindo darem resultado. Tivemos conquistas nacionais, mas, de fato, o mais importante é a formação. Queremos jogadores formados vencendo, mas mais importante é a entrega para o profissional.
Eu tenho evitado falar de política porque é um assunto que desvia o foco daquilo que é o mais importante neste momento
ALESSANDRO BARCELLOS
sobre candidatura à reeleição
O senhor será candidato à reeleição. A decisão disso está ligada ao resultado na Libertadores?
Eu tenho evitado falar de política porque é um assunto que desvia o foco daquilo que é o mais importante neste momento. Existe um calendário eleitoral, mas deve ser deixado de lado no momento. Nossa prioridade é melhorar no Brasileirão e a caminhada na Libertadores. O calendário do clube existe, será respeitado e as coisas irão encaminhar.
O Inter está na semifinal da Libertadores, mas no Brasileirão vem de uma sequência sem vitórias e próximo da zona de rebaixamento. O rebaixamento é um tema que faz parte das conversas entre vocês. Há um temor?
Temos uma preocupação de melhorar na tabela, de subir. A gente olha para frente, não olha para trás. Você tem de olhar para cima e almejar algo maior. O lugar igual na tabela não é o do Inter e acreditamos que iremos melhorar. Estamos trabalhando diante das dificuldades como a data Fifa agora, uma semifinal de Libertadores, que é a prioridade. Sabemos que é possível porque o campeonato é equilibrado, não estamos tão distantes até do G-4 e do G-6. Se olharmos que o campeonato poderá ter G-8, estamos a cinco ou seis pontos (seis do oitavo, o Fortaleza). Nós vamos brigar lá em cima, isso irá acontecer.