
Sujeira, poucas mesas, uma TV enorme e alguns botafoguenses uniformizados. Entrei no boteco que parecia mais agradável para um colorado secador no Rio de Janeiro.
Durante o dia, as rádios cariocas não falavam em outra coisa. Apesar do jogo do Flamengo pela Sul-Americana, o grande evento da noite esportiva seria mesmo este Grêmio x Botafogo, pelas quartas de final da Libertadores da América. "O jogo da vida do Fogão", gritavam os locutores.
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Secar não tem sido fácil nesse 2017 que ainda carrega um bocado de lama do ano passado. O Grêmio ganha tudo que eu vejo. Sem grandes esforços, passeia no Brasileirão. Vence tanto - e tão fácil - que é vice-líder isolado mesmo relegando o certame a terceiro plano.
Foi ganhando tanto na Copa do Brasil que eu tive, em algum momento, convicção total no hexa. Não havia mais possibilidade de outro resultado. "É o melhor futebol do Brasil!", o "futebol orgânico", eles falaram. Ouvi tanto que me convenci. Al fin y al cabo, o Cruzeiro meteu um crime que deve pareceu inacreditável mesmo para os mineiros.
Aí chega o maior dos medos. O maior dos temores. A taça que realmente importa e preocupa. Toleraria ver o mosqueteiro levantar qualquer caneco, menos o da América. Aceitaria qualquer coisa na vida, menos o meu time na Bê e eles no topo do continente. Seria uma crueldade total do destino, mas havia uma última esperança...
O Botafogo de Futebol e Regatas.
Se torcer contra o Grêmio já é ruim, torcer pelo Botafogo é ainda pior. Por isso a necessidade de um boteco. De umas duas (ou doze) cervejas. Encontrei o local perfeito. A mesa ideal. A mais gelada das loiras. Que comece o jogo.
Reações moderadas e comedidas marcaram o primeiro tempo. Ninguém gritava muito. Eram oito discretos botafoguenses distribuídos na meia-dúzia de mesas do bar. Da cidade, nada se ouvia. Nem gritos nas janelas, nem buzinas animadas. Silêncio futebolístico em Copacabana.
No segundo tempo, pimba. Era cedo ainda quando Barrios desferiu aquela infame cabeçada. Levantei da minha cadeira para gritar impropérios. Xingava jogadores alvinegros que sequer conhecia a alto e bom som quando percebi que os companheiros botafoguenses nenhuma reação esboçaram.
Mais do que isso: aos poucos, começaram a deixar o bar. Falavam baixinho uns com os outros, mas pude ouvir coisas como: "É, não deu", "Não foi dessa vez", "vamos para casa, amor? Acabou aqui". E foram, os homens de pouca fé.
Eram trinta minutos do segundo tempo, havia uma vida inteira ainda a ser jogada na Arena e eu era o único botafoguense naquele boteco carioca. Segui gritando com jogadores que sequer conheço, reclamando do desperdício de chances que eles sequer criaram.
A quinta Libertadores da história do Botafogo acabou com o apito do juiz na Arena. Ninguém viu. Ninguém gritou. Ninguem reclamou. Eu era o único a acreditar no time da estrela solitária nessa quarta-feira. Eu era o último botafoguense. O primeiro secador na linha de frente. Voltei para o hostel duplamente eliminado.