Menos de uma semana depois de terminar seu primeiro ano na Universidade de Syracuse, a cantora, compositora e produtora Claire Cottrill, que assume o nome artístico de Clairo, estava no banco de trás de uma SUV com motorista, comendo fast-food e vivendo a surpreendente banalidade de seus sonhos na indústria musical.
"Sou literalmente a pessoa mais inexperiente", Cottrill, de 19 anos, disse ao refletir sobre as várias primeiras experiências que teve ao chegar em Manhattan após seus exames finais.
Como uma artista emergente com uma canção viral ("Pretty Girl") e uma equipe dedicada (gerente, publicista, selo), Clairo passou dois dias se apresentando para mídia, agentes e serviços de streaming, tais como Spotify, que poderão se tornar parceiros em seu caminho para a fama. Mas apesar deste processo ter o potencial de rapidamente ficar cansativo, Cottrill continua muito animada e dedicada, como Charlie em sua visita à Fábrica de Chocolate – parecia contente até quando pediram que desse tirinhos com as mãos para fotos de GIFs promocionais.
Ao sair da entrevista na SiriusXM, durante a qual segurava nervosamente as mangas de sua blusa, Cottrill, que é muitas vezes confundida com uma estudante do ensino médio precoce, ficou com os olhos úmidos frente à demonstração de genuíno interesse em seu trabalho. "Eu me sinto como uma pequena estrela agora", disse ela.
Tanto um ápice quanto um começo, o lançamento do EP de Clairo com seis canções, o "diary 001", marca um período movimentado e estranho para a cantora, cuja produção de pop caseiro está se tornando uma coisa grande. Embora ela tenha lançado músicas desde seus primeiros anos da adolescência, publicando faixas encantadoras de música lo-fi on-line (incluindo covers acústicos de Mumford & Sons e Frank Ocean), tudo se acelerou no verão passado com "Pretty Girl", que ela própria escreveu, gravou no GarageBand e postou no YouTube com um vídeo bastante cru, mas ainda assim representativo de sua música: uma menina sozinha em seu quarto cantando para seu laptop.
Depois de mais de 15 milhões de visualizações, Clairo se tornou mais um sucesso em potencial de uma geração de compositores que se autolançam, independentemente do gênero musical ou do equipamento, porque têm uma compreensão inata de branding e do atual zeitgeist on-line. No entanto, dada a força e a velocidade de sua ascensão – e seu início em uma cena baseada no faça-você-mesmo da internet (Bandcamp, Le Sigh, Rookie) –, Clairo foi criticada em relação a seu carreirismo e suas conexões.
Quase tão rapidamente quanto o entusiasmo dos fãs em chamá-la de "mãe!" e "rainha!" nos comentários, foi a reação digital que ela suscitou, questionando se algum misterioso manipulador de mentes teria planejado seu sucesso – o mesmo ceticismo e teorias da conspiração que acompanharam Lana del Rey e Lorde. Com grande foco em seu pai, Geoff Cottrill, executivo de marketing que trabalhou para a Coca-Cola e a Converse, nos fóruns, jornais estudantis e no YouTube minaram o trabalho da jovem e questionaram a legitimidade de sua autoapresentação e seu vídeo viral.
"Eu não vou tirar o crédito de sua arte, só vou questionar sua autenticidade", explicou o YouTuber HYPESAGE! em seu vídeo intitulado "Clairo’s ‘self made’ indie bedroom pop a facade?", que foi visto mais de 136 mil vezes. "Cria da indústria" – uma alfinetada generalizada entre os fãs de música atribuída a alguém indigno de seu sucesso – tornou-se um bordão constante.
No dia seguinte da sua investida midiática, enquanto comia uma pizza, Cottrill disse que, a princípio, a crítica a incomodou, embora a visse como sexismo velado. "O fato de que as pessoas acham que eu precisaria de um homem por trás do meu trabalho para ter sucesso, quando na realidade eu trabalhei duro por isso, é frustrante. No final das contas, quando as pessoas dizem, 'Oh, ela é uma cria da indústria', eu fico tipo 'não, eu apenas tenho representação, como qualquer outro artista que você ouve. Não sou a primeira pessoa a arranjar um empresário."
"Pretty Girl," que ela gravou inicialmente para uma compilação de indie rock em prol do Transgender Law Center, era orgânica e decolou sem qualquer impulso de marketing ou atalhos, insistiu Clairo. "Coloquei no YouTube e aí o algoritmo apenas a devorou", o que deixou grandes gravadoras interessadas, incluindo a Columbia, a RCA e a Capitol.
"As coisas só acontecem depois que algo viraliza. As pessoas te procuram", disse ela.
Ela tinha uma vantagem: saber que direção tomar em meio à névoa surreal do hype da internet.
Seu pai consultou um amigo, Jon Cohen, executivo na Cornerstone, a agência de marketing por trás da revista The Fader. Cohen mais tarde assinou um contrato para a realização de um álbum com 12 músicas em sua gravadora Fader Label e apresentou Cottrill à Pat Corcoran, o empresário de Chance the Rapper, cuja empresa, a Haight Brand, começou a agenciá-la no fim de 2017.
Corcoran, 28 anos, elogiou a plenitude da visão de Cottrill, desde suas letras diretas e confessionais até seus vlogs adolescentes e redes sociais. "Ela vive de modo artístico. Isso fez com que me sentisse jovem novamente", disse ele. E afastou qualquer insinuação de que Clairo fosse uma fabricação.
"Há artistas de grandes gravadoras sendo impulsionados pelas maiores empresas de entretenimento – Sony, Warner Bros., Universal – e eles mesmos não conseguem atingir o que ela conseguiu fazer de seu quarto", afirmou Corcoran.
Cottrill, que cresceu em uma pequena cidade de Massachusetts, demonstrou seus interesses tanto on-line quanto nas cenas locais, frequentando casas de show em Boston e na Filadélfia. Suas primeiras músicas tinham a guitarra como base, com inspiração em cantores e compositores da música lo-fi, como Frankie Cosmos e Calvin Johnson. Mas assim como os músicos do faça-você-mesmo, como PC Music, que começaram a flertar com o pop – e as fronteiras frágeis do streaming musical –, Cottrill se tornou uma beat-maker em seu laptop.
O EP "diary 001" conecta ambos os mundos, com composições como "Pretty Girl" e "Flaming Hot Cheetos", feitas do seu quarto modesto, e outras composições mais robustas como "4EVER" e "B.O.M.D.", que poderiam estar na lista de sucessos Top 40. Com sons suaves sintetizados, uma bateria eletrônica divertida e algumas melodias de R&B, as músicas de Clairo são supermodernas – o cerne do Spotify – calibradas para o streaming contínuo em laptops.
Se Lorde foi uma cria do Tumblr, Clairo é um bebê das playlists, espalhando sensações ao estilo de um DJ. (Ela também faz mixes no Soundcloud como DJ Baby Benz.) "Eu sou uma produtora real", disse Cottrill.
Mas o acolhimento do pop e e o decolar de sua carreira também deixaram Clairo inquieta, especialmente porque cada movimento seu se tornou assunto para ser discutido no Reddit. Ela relembra uma noite em seu dormitório em Syracuse – onde faz um curso de negócios da música – quando os comentários negativos colocaram-na em uma espiral da vergonha e arrependimento.
Cottrill falou com Shamir, cantor que ela conhece desde os 16 anos, cujo arco da carreira precoce foi semelhante. "Ele me fez sentir como se eu não estivesse tão sozinha no meio de tudo isso", disse em referência aos aspectos não muito positivos do sucesso.
Em entrevista, Shamir acrescentou: "Eu vi essa garota suar desde o início." E avisou que a indústria é construída apenas para se alimentar das garotas e artistas mais jovens em geral, e em seguida disse a Cottrill que ela precisa se certificar de que seu sistema de apoio é forte.
Em uma visita promocional à Nova York, Clairo parecia centrada, e exalava uma positividade implacável, mesmo quando reconheceu a estranheza de sua posição. "É uma loucura sentir que você tem que se vender e se tornar, tipo, quase como... comercializável. Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira".
Mas os benefícios eram aparentes. Ela finalmente convenceu os pais que sua entrada na Syracuse foi sábia – Clairo vai abrir o show de Dua Lipa, além de tocar em festivais no verão antes de encabeçar sua própria turnê – e se animava a cada menção de oportunidades futuras.
Uma sessão noturna de última hora no Electric Lady Studios para gravar uma faixa para a trilha sonora de um filme foi um presente, não um fardo. "Nunca pensei que chegaria ao Electric Lady. Agora viemos parar aqui quase que sem querer", disse ela.
"Ai meu Deus", exclamou Cottrill enquanto caminhava pelo estúdio, experimentando equipamentos vintage. "Isso tudo é demais".
Ela só saiu de lá às 3 da manhã.
Por Joe Coscarelli