
Um dos filmes mais premiados na lista desta edição do Festival Varilux de Cinema Francês, Custódia tem sessões em Porto Alegre nesta quarta-feira (13), às 20h50min, no Espaço Itaú, e quinta-feira (14), às 14h45min, no Guion Center. Entre os 10 troféus que o drama assinado pelo estreante em longa-metragem Xavier Legrand conquistou, está o Leão de Prata de melhor direção no Festival de Veneza de 2017 – Legrand também levou o prêmio de melhor filme de estreia.
Reconhecimentos justos ao trabalho do autor na construção de uma narrativa enxuta e que transcorre em crescente tensão, mostrando o processo de desintegração emocional de uma família diante de uma separação litigiosa.
Uma longa sequência apresenta os protagonistas: Miriam Besson (Léa Drucker) e Antoine (Denis Ménochet). Acompanhados por suas advogadas, esperam de uma juíza a decisão sobre uma questão que se arrasta por um ano, desde a separação: Miriam quer a guarda exclusiva do filho caçula do casal, Julien (Thomas Gioria), de 11 anos – prestes a completar 18 anos, Joséphine (Mathilde Auneveux) tem direito ao livre-arbítrio sobre a guarda parental.
A mãe alega que o ex-marido tem comportamento instável e violento. Antoine teria, inclusive, machucado o braço da filha em uma discussão. Por sua vez, Antoine deseja manter e ampliar seu espaço na guarda compartilhada de Julien. Argumenta que Miriam está fazendo a cabeça dos filhos contra ele. Exibe depoimentos de colegas de trabalho e amigos atestando seu comportamento afável e caráter exemplar.
À juíza interessa, antes de tudo, preservar a integridade do garoto, já bastante abalado pelos acontecimentos. O fato de Juliene não querer contato com o pai é um indício relevante para ver o lado para o qual penderá a balança da lei, mas não o suficiente para uma sentença imediata, informa a magistrada. Uma nova audiência é marcada.
A encenação proposta por Legrand, também roteirista da trama, segue o registro naturalista: ausência de trilha sonora, planos de duração estendida e força nos diálogos e conflitos defendidos por ótimos atores. São elementos que colocam o espectador como testemunha íntima da delicada e por vezes desconfortável situação.
Um grande evento familiar se aproxima. Miriam, que estava vivendo na casa de seus pais, em uma rotina de troca de endereços imposta pela beligerância com Antoine, está para se mudar com os filhos para um apartamento. Antoine insiste em se manter próximo, mas o contato que começa civilizado em geral descamba para a catarse – e não raro acaba em barraco. Palavras e olhares fora do esperado bastam para acender o pavio e fazer o homem explodir.
Embora Custódia, pela disposição das peças no jogo dramatúrgico, coloque Antoine no papel de vilão, essa percepção não parece ser a proposta do diretor. Legrand dribla a exposição maniqueísta recorrente nesse tipo de abordagem para destacar aspectos do comportamento humano que ali, de alguma forma, colocam todos nos papéis de vítimas.