O ministro da Saúde, Ricardo Barros, inaugurou nesta segunda-feira no Hospital Restinga e Extremo-Sul (HRES), em Porto Alegre, o Teleoftalmo-Olhar Gaúcho, projeto de diagnóstico na área de oftalmologia que oferecerá atendimento à população por meio de consultórios remotos, aproveitando a plataforma de TelessaúdeRS-UFRGS.
A iniciativa, uma parceria do Hospital Moinhos de Vento com o Ministério da Saúde, governo do Estado, prefeituras municipais e o TelessaúdeRS-UFRGS, pretende desafogar as filas do Sistema Único de Saúde (SUS) na especialidade. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, pelo menos 9 mil pessoas esperam atendimento na área, não incluindo nesse número a demanda de cada município, o que pode ampliar esse dado para 15 mil pacientes, em um tempo de espera para consulta que ultrapassa um ano.
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Serão oito consultórios remotos, sendo dois na Capital e os outros distribuídos em Santa Maria, Farroupilha, Pelotas, Passo Fundo, Santa Cruz do Sul e Santa Rosa. O Teleoftalmo deve garantir cerca de 500 avaliações mensais em cada um dos consultórios remotos.
– A proposta é zerar a fila daqueles que já estão esperando por atendimento em até três meses – projetou o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo.
Segundo o secretário de Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim, a oftalmologia adulta está entre as três especialidades com maior demanda reprimida na cidade, e o projeto deve facilitar o acesso ao atendimento, que também inclui a confecção de óculos gratuitamente para os pacientes atendidos pelo sistema. Cada consultório é equipado com três câmeras, computadores e equipamentos de diagnóstico oftalmológico. Serão atendidas crianças a partir dos oito anos e adultos preferencialmente moradores da macrorregião de saúde em que está instalado. Dependendo do diagnóstico, o paciente poderá ter seu problema resolvido na própria unidade básica de saúde e poderá fazer os óculos após a avaliação com o médico no posto de saúde. Pacientes com doenças como glaucoma e retinopatia diabética, muitas vezes ainda não diagnosticadas, terão prioridade no encaminhamento ao oftalmologista.
– Com a tecnologia do Telessaúde, já conseguimos uma redução de 70% do tempo de espera nas filas – reforçou Roberto Nunes Umpierre, médico e vice-coordenador do TelessaúdeRS-UFRGS.
Protesto e pedido de mais atenção ao hospital
A cerimônia de inauguração, que contou com a presença do governador do Estado, José Ivo Sartori, do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, e de deputados e vereadores, teve um sistema de segurança reforçado – somente do Pelotão de Operações Especiais (POE) eram 12 homens e pelo menos três viaturas, sem contar outros PMs e guardas municipais.
Além disso, lideranças comunitárias da Restinga fizeram protesto e cobraram das autoridades mais investimentos no Hospital Restinga e Extremo-Sul, que atualmente está com atendimento restrito na emergência e ainda amarga a falta de especialistas e de uma maternidade. Uma carta enumerando as carências da unidade de saúde, como um setor de obstetrícia e de traumatologia, foi entregue ao governador, a Marchezan e também ao ministro Ricardo Barros. A vice-coordenadora do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre, Djanira Corrêa da Conceição, fez um discurso inflamado, exigindo mais atenção ao hospital.
– Saúde não é mercadoria, é um direito – disparou, quebrando o tom amistoso da solenidade.
O ministro também aproveitou a oportunidade para alfinetar o Conselho Federal de Medicina (CFM), que, segundo ele, tem agido com corporativismo ao exigir que o Teleoftalmo tenha médicos oftalmologistas inclusive na parte de atendimento presencial. Segundo ele, a operação dos equipamentos feita por técnicos de enfermagem para que o oftalmologista faça a avaliação a distância não compromete o resultado dos procedimentos. O CFM não comentou a declaração.
– Senhores médicos, nos ajudem. Vamos quebrar esse monopólio e esse corporativismo que em nada ajuda em nosso sistema – apelou Barros.
O ministro também anunciou que as consultas com especialistas pelo SUS serão realizadas somente após teleconsulta, mas não esclareceu quando a medida será obrigatória. Ele também anunciou a liberação de R$ 8 milhões para a atenção básica no Estado. O dinheiro seria para cobrir serviços que já estão sendo prestados pelo municípios sem a contrapartida do governo federal.
Como funciona o Teleoftalmo
– O médico do posto de saúde envia solicitação de atendimento especializado via Plataforma de Telessaúde (plataformatelessaude.ufrgs.br)
– A equipe do TelessaúdeRS-UFRGS faz o agendamento com o paciente.
– O exame é realizado remotamente pelos oftalmologistas do projeto, com apoio presencial da equipe de enfermagem.
– O paciente já sai com o resultado da avaliação impresso. O laudo também é enviado pela Plataforma de Telessaúde/MS para o médico solicitante com recomendações de conduta.
– Se houver necessidade, os óculos serão fornecidos sem custo ao paciente, confeccionados por ótica contratada pelo projeto.
– Cada consultório terá capacidade de realizar mais de 500 atendimentos por mês.
– Em Porto Alegre, o serviço fica disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, no Hospital Restinga e Extremo-Sul (Estrada João Antônio da Silveira, 3.330 - Restinga)
Para fazer o telediagnóstico, os pacientes passarão pelos seguintes exames:
– Teste de acuidade visual
– Refração
– Medida da pressão intraocular
– Avaliação das pálpebras
– Motilidade ocular
– Reflexos pupilares
– Documentação do segmento anterior e do fundo do olho
– Exame síncrono, em que o oftalmologista comanda o equipamento médico a distância, ao mesmo tempo em que acompanha, por câmeras, o que ocorre nas salas.