Antes tarde do que mais tarde, pondera a versão apressada do ditado "antes tarde do que nunca". Diante das evidências de que a vacinação em massa é a única forma de recuperar alguma normalidade e reduzir a pressão por alguma forma de renovação do auxílio emergencial, o presidente Jair Bolsonaro começa a ajustar o discurso.
Nesta terça-feira (26), depois de ter rejeitado a CoronaVac em específico e a vacinação em geral, Bolsonaro ajustou o discurso:
– Já somos o sexto país que mais vacinou no mundo. Brevemente estaremos nos primeiros lugares, para dar mais conforto à população e segurança a todos, de modo que a nossa economia não deixe de funcionar.
Se a ficha caiu, e Bolsonaro enfim entendeu o óbvio – só a vacina reconcilia definitivamente saúde e economia –, ou se é apenas a versão do dia, que será rejeitada nos dias sucessivos, como ocorreu com a negativa de ter chamado a covid-19 de "gripezinha", só o tempo vai dizer. Mas o fato é que a pressão empresarial pela urgência na vacina ajudou a modular as declarações.
O capitão entendeu o recado dos capitães de indústria. Se continuasse com a postura negacionista sólida, sem nuances, atrasando ainda mais o avanço da imunização no Brasil, há risco de que o impeachment saia dos protestos de grupos políticos, como se viu no final de semana, para os gabinetes que abrigam as maiores fatias do PIB nacional. A coluna havia advertido, há mais de um mês, que o impasse ameaçava laços entre poder econômico e Bolsonaro.
Como até os microscópios da Fiocruz e do Butantan sabem, não há vacina sobrando no mundo. Nem "no momento", como deixou claro a AstraZeneca, nem daqui a pouco. Vai levar um bom tempo até que essa situação se equilibre, e ainda não se sabe qual será o tempo necessário para repetir a aplicação. A coluna consultou a Dasa, apontada como a suposta coordenadora do movimento para compra privada de vacinas no Brasil, que respondeu por nota:
"A Dasa nega todas as informações veiculadas sobre compra de vacinas e reitera que não está liderando, nem participando de nenhuma negociação com a AstraZeneca, nem com outros players de mercado.
A companhia possui amplo relacionamento com diferentes fornecedores de imunizantes globais e está buscando entender a disponibilidade de comercialização por empresas privadas.
A Dasa reforça a importância da ampla cobertura vacinal como a estratégia mais eficiente no enfrentamento da pandemia da covid-19. Nesse sentido, reconhece e segue o Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todas as definições de vacinação (regiões e perfis de populações prioritárias).
Entende, ainda, que os esforços de imunização devem ser complementares para que o país possa se livrar do cenário de crise o quanto antes, considerando imunizantes devidamente validados, com resultados publicados e regulados pela Anvisa e respeitando o PNI."