Se a poupança é a queridinha do brasileiro para guardar dinheiro, por que, pelo terceiro ano consecutivo, os saques superaram os depósitos? Isso não ocorria há mais de 20 anos. Só em 2023, a saída de recursos atingiu R$ 87,8 bilhões. É menor do que em 2022, mas bem maior do que em 2021. O estoque de dinheiro mantido ficou em R$ 983 bilhões.
De forma geral, o movimento tem dois motivos. Um deles é o endividamento e a inadimplência ainda altos, como reflexo de um período de forte inflação, que compromete as finanças das famílias. Ou seja, as pessoas estão usando o dinheiro para pagar dívidas.
O juro ainda alto, apesar dos cortes recentes pelo Banco Central, é outra causa. Por um lado, ele torna mais difícil a organização das dívidas pelas famílias, especialmente aquelas com contas atrasadas. Por outro, ele também atrai o dinheiro para outros investimentos de renda fixa, que dão retorno maior do que a poupança especialmente quando a taxa Selic está alta.
A expectativa é de que o cenário mude em 2024. Mesmo que lentamente, o endividamento e a inadimplência das famílias está caindo. Além disso, o Banco Central continuará reduzindo o juro. A Selic está em 11,75% ao ano e a perspectiva é de que feche o ano em 9%.
A regra de rentabilidade da poupança se manterá, portanto, já que só muda se a Selic ficar em 8,5% ou menos. Hoje, a caderneta remunera 0,5% ao mês mais a TR (taxa referencial, calculada pelo Banco Central). No ano, o retorno tem ficado em torno de 7%. É proibida a cobrança de taxas e não incide Imposto de Renda. Há retornos melhores em investimentos conservadores, mas a poupança acaba atraindo o brasileiro pela sua simplicidade. Mas fique atento: a remuneração é creditada no dia do "aniversário" da caderneta, ou seja, na data em que foi feito o depósito. Se resgatar antes, não recebe.
A coluna seguirá nesta pauta durante a semana. Acompanhe. O Banco Central tem alertado para este movimento, além de o setor imobiliário estar bastante preocupado, pois é financiado pelo recurso da poupança.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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