— Eu sempre tive uma vida ligada ao alcoolismo. Eu bebo desde jovem, e, no início, o que era uma brincadeira, se tornou uma coisa séria, uma doença. E aos 55 anos, depois de ter passado por muita destruição, ter feito também destruição em muitas vidas – nunca matei ninguém, mas matei muitos sonhos, muitas amizades, devido ao álcool… Perdi muita coisa. Perdi a confiança de muita gente. A minha família se desestruturou todinha. Eu perdi os três casamentos, porque ninguém atura um bêbado — lamenta Luiz Cláudio Alves Ferreira, 61 anos, ao olhar para a própria trajetória.
Hoje pai de cinco filhos, Ferreira começou a beber aos 14. Com o passar do tempo, sua dependência de álcool levou-o também a outras drogas. Além de causar uma hepatite C, o alcoolismo arrancou dele bons empregos que havia conquistado. A situação se agravou a tal ponto que Ferreira chegou a ser morador de rua.
— Eu não vivia mais para me divertir. Eu acordava, cachaça. Vivia, durante o dia, com cachaça. Comia, já ia dormir com a cachaça, ou já com o dinheiro pronto para tomar a primeira dose, para tirar o tremelique da manhã — recorda.
Ao longo dos anos, Ferreira passou por diversas tentativas frustradas de reabilitação, incluindo internações em clínicas e comunidades terapêuticas. Com perseverança, porém, sua dura trajetória teve êxito. Depois de 41 anos viciado, Ferreira retomou o controle de sua vida e tornou-se exemplo de superação: graduou-se em Logística, fez pós-graduação e hoje possui um emprego estável como porteiro. Atualmente, está há sete anos sóbrio.
— Cada dia que eu passo sem beber, para mim, é um dia de vitória. Eu já venho curtindo o “só por hoje” (“...não vou beber o primeiro gole”, lema dos Alcoólicos Anônimos) há sete anos — comemora.
Este domingo (18) será mais uma ocasião para celebração do feito: a data marca o Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo. A importância do tema tem vindo cada vez mais à tona, sendo reconhecida e impulsionada por figuras públicas. Recentemente, Paulo Germano, colunista de GZH, também gerou repercussão e comoção com um depoimento sobre alcoolismo – o vídeo soma mais de 1,3 mil comentários nas redes sociais.
A força do querer
A gota d'água para Ferreira foi quando sua nora disse que não tinha confiança para deixar o neto com o avô, devido à bebida. Quando foi internado no serviço do Hospital de Clínicas, então, estava decidido a mudar. E, de fato, tudo em sua vida mudou (positivamente) após abandonar a bebida. Aprendeu a amar; reconquistou, aos poucos, a confiança das pessoas; passou a ter confiança em si mesmo, além de objetivos e motivação para concretizá-los – em resumo, começou a viver.
Para se livrar da bebida, ou qualquer outro tipo de adição, você tem que querer, o querer tem que estar dentro, vivo, e tu alimentar esse querer. É uma luta, que tu vai vencer, tu vence ela todos os dias
LUIZ CLAUDIO FERREIRA
Porteiro
Hoje, ajuda outros alcoolistas que queiram largar o vício. Assim, quer atingir cada vez mais pessoas e mostrar que é possível viver, no sentido pleno, sem bebida.
— Para se livrar da bebida, ou qualquer outro tipo de adição, você tem que querer, o querer tem que estar dentro, vivo, e tu alimentar esse querer. É uma luta, que tu vai vencer, tu vence ela todos os dias — afirma, destacando a importância da espiritualidade nesse processo.