— A Ieda Maria Vargas (Miss Universo 1963, gaúcha – a primeira brasileira a conquistar o título) foi eleita em um momento em que se valorizava mais a beleza, mas penso que ela extrapolou isso à medida em que se tornou uma mãe maravilhosa, uma quase chefe da sua família. Isso é muito importante: a gente também reconhecer nela alguém que iniciou os passos que seguimos até hoje, 60 anos depois. E sigo procurando uma Ieda Maria Vargas. Continuo procurando uma joia rara, que é o tema do concurso.
A declaração de Bebeto Azevedo, coordenador do Miss Universo Rio Grande do Sul, resume um pouco de sua motivação para a condução da edição de 2023 do concurso, que tem sua grande final marcada para a noite de 6 de maio, em Canoas. A possibilidade de abrir novas portas para a realização de sonhos, explica o médico pediatra, é o fio condutor deste trabalho para o qual afirma se ver desafiado desde que assumiu.
— Não pretendo fazer um concurso, mas um espetáculo. Essa abertura e as novas expectativas de candidatas com filhos, casadas, belezas diferentes, merecem. O Miss Universo hoje não é a beleza pela beleza. Tem propósito: é uma mulher com boa oratória, que faz trabalhos sociais, que pode motivar as mulheres a serem mais empoderadas, a fazer o que quiserem — declara.
Neste contexto, a ideia é ampliar as oportunidades dentro dos critérios da competição. Azevedo antecipa que um dos lugares entre as 12 finalistas já tem dona. A participante que apresentar o maior número de peças em doações para um brechó beneficente no dia seguinte à final levará a vaga.
A iniciativa, chamada Segunda Vida, ocorre em parceria com a Federação das Apaes do Estado do Rio Grande do Sul (Feapaes-RS), no mesmo local da escolha da nova miss, o Centro de Eventos Multi Hall do ParkShopping Canoas. Esta é uma das ações que integram a programação, de acordo com o coordenador:
— Temos também uma parceria com o Senac, que envolve feiras de oportunidades e de empregos com foco especial nas mulheres. Além disso, para auxiliar na produção do brechó e das candidatas, no sábado e no domingo, teremos alunos de formações em moda e beleza do Senac, colocando em prática o que aprendem nas salas de aula.
Com várias frentes, a etapa gaúcha do concurso materializa a potência feminina de forma diferente de como era feito décadas atrás. Desprendido do conceito puramente estético, o Miss Universo Rio Grande do Sul se propõe a iniciar em 2023 uma nova fase de sua história, impulsionada pela diversidade.
— Tudo o que as pessoas esperavam da Ieda em 1963 talvez seja o mesmo que procuram agora. Uma mulher que seja um ideal de pessoa, uma porta-voz das nossas ideias — reflete, fazendo um comparativo: — Os critérios antigos, sobre medidas corporais, não existem mais. Antes, cinco polegadas decidiam o concurso. Hoje, ela tem muitas polegadas a mais de inteligência, de bem-fazer, de trabalho social, de coisas legais e importantes. É uma mulher bonita e empoderada que passa a representar um país todo.
Atualizações
A mudança nas normas, lançando luz a mulheres de todos os estados civis, é celebrada não só pelas novas candidatas, mas também pela organização gaúcha do Miss Universo. Bebeto Azevedo ressalta o que considera um serviço prestado à sociedade.
— Vejo as atualizações como fundamentais. O concurso seguiu uma linha de evolução que é humana. Não se pode mais viver aceitando que as pessoas sejam excluídas. O Miss Universo precisava se renovar, se oxigenar, ficar mais de acordo com a mentalidade das pessoas — diz.
Mesmo não sendo novidade a liberação de inscrições de mulheres trans, salienta ele, teremos uma pela primeira vez na passarela nesta edição — Bethina Marcante, 26 anos, de São Borja. E a condição não representa demérito ou benefício, conforme o coordenador deixa claro em sua fala. Significa mais um passo em direção a um diálogo necessário e urgente:
— É importante discutirmos sobre isso. No concurso, elas serão julgadas como todas as outras candidatas, com os mesmos critérios. Mas a participação da Bethina já representa um grande ganho, que é fazer as pessoas pensarem.
Cintilantes
Com estilo assinado por Xico Gonçalvez, o Miss Universo Rio Grande do Sul terá como narrativa principal a Era do Ouro. Do figurino à evolução das classificações, o espetáculo prometido por Bebeto Azevedo culminará na referência ao valioso ouro branco. A coroa da grande vencedora será entregue, assim como a faixa, por sua atual detentora, Alina Furtado.