Entre a primavera e o verão, aumentam as ninhadas e os animais circulam com frequência nas áreas urbanas à procura de parceiros para reprodução. Como consequência, se tornam vítimas de atropelamentos, choques elétricos e também agressões causadas pelo homem. Mais de 70% dos atendimentos de todo o ano nos centros de recuperação de animais silvestres em Porto Alegre ocorrem entre setembro e março.
Com o auxílio da Comissão de Animais Silvestres do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul, GZH preparou um perguntas e respostas com dúvidas. Confira:
Encontrei um filhote de passarinho fora do ninho, o que faço?
Os passarinhos nascem sem penas e muito dependentes dos pais, permanecendo no ninho até que tenham condições para iniciarem seus primeiros voos. Caso caiam do ninho antes de estarem prontos e empenados, estes filhotes não sobreviverão. Porém, quando já possuem penas, eles começam a ensaiar seus primeiros voos permanecendo pouco tempo no ninho.
Se encontrar algum filhote sem penas no chão, tente recolocá-lo no ninho ou, se não for possível, encaminhe para alguma instituição autorizada. No caso dos filhotes que já possuem cobertura de penas, muitas vezes estarão no chão pelo processo de treinamento de voo e seguirão sendo alimentados pelos pais. Então, antes de recolhê-los, certifique-se que os pais não estão por perto, observando a distância. Só recolha em último caso, quando não estiverem sendo cuidados pelos pais ou quando houver risco de predação por cães e gatos, pois de acordo com a espécie são mais difíceis de criar em cativeiro e soltá-los.
O que fazer se avistar filhotes de marrecos sozinhos?
Estas aves nascem mais desenvolvidas e emplumadas e acompanham os pais quase desde seu nascimento. São filhotes que apenas em último caso devem ser recolhidos, pois se estressam facilmente e nem sempre aprendem a se alimentar sem os pais, tornando as chances de criá-los em cativeiro muito pequenas.
A dica é observar o máximo possível a distância para ver se os pais se aproximam. Os pais se assustam facilmente na cidade e saem voando, mas depois voltam se mantivermos distância. Também devemos cuidar com possíveis predadores (como cães e gatos domésticos), mantendo-os longe dos filhotes. Caso os pais não retornem ou os animais estejam correndo risco de vida, os filhotes devem ser encaminhados para locais habilitados, pois manter animais silvestres sem autorização em cativeiro domiciliar é crime ambiental, mesmo que a intenção seja boa.
Gambás no forro de casa. O que fazer?
Os gambás, assim como os morcegos e algumas espécies de aves, procuram o forro dos telhados e outros tipos de esconderijo para se abrigar e criar seus filhotes. Além do barulho, podem causar desconforto por conta do acúmulo de fezes e restos de alimentos. O que as pessoas precisam fazer quando notarem a presença de animais é esperar passar a temporada de filhotes, que se estende até fevereiro/março, para então fazer a limpeza do local, fechando as entradas para que não voltem. Caso não seja possível esperar, as secretarias municipais ou estadual de meio ambiente podem orientar as ações nestes casos. É importante salientar que todos estes animais, incluindo os morcegos, são protegidos por legislação e é crime ambiental matá-los, persegui-los ou feri-los.
O que fazer se avistar animais feridos na estrada?
O contato com animais feridos deve ser evitado na medida do possível, pois animais assustados podem ser perigosos ao tentarem se defender e, dependendo da espécie, também podem transmitir doenças. Caso você precise socorrer, tenha muito cuidado e avise as autoridades como polícia ambiental, polícia rodoviária ou prefeitura do município. É importante não se colocar em uma situação de risco. Observar atentamente o trânsito e agir com cautela e segurança. Se for um gambá morto, verificar se não há filhotes na "bolsinha" que as mães possuem na barriga. Se for um primata ou tamanduá, verifique se o animal não tem filhote preso ao corpo. Eles podem ser salvos com sua ajuda. Em todos os casos, tente antes entrar em contato com o órgão ambiental, além de verificar se há instituições habilitadas próximas para seu atendimento.
O que fazer ao avistar ninho de passarinho com ovinhos, caído no chão na rua ou em cima de um forro de casa?
Ninhos caídos podem ser recolocados na mesma árvore ou em local próximo, seguro e visível, para que os pais retornem aos cuidados. Em geral eles estão por perto. Caso isso não seja possível, os ovos certamente servirão de alimento para outras espécies de aves, gambás, primatas ou lagartos dependendo do local. Esta é a dinâmica da natureza.
Ao avistar um macaco eletrocutado, ainda vivo, o que fazer?
Muitos primatas sofrem com o avanço das cidades e sofrem todo tipo de trauma, como atropelamentos, ataques por cães e choques elétricos. O primeiro passo é observá-los a distância e entrar em contato com órgão ambiental da região, pois haverá técnicos habilitados para manejá-los em segurança. É importante manter animais domésticos afastados para não atacarem o animal. Além disso, verifique se há instituições próximas que possam prestar os primeiros socorros ao animal. Macacos, mesmo feridos, podem morder na tentativa de se defender por estarem vulneráveis e com dor. Apenas tente manipulá-los se não restar alternativa e tiver experiência, utilizando toalhas e uma caixa de transporte para acomodá-lo. Procure não entrar em contato com secreções, sangue e fezes e o encaminhe imediatamente, pois requerem atendimento emergencial.
Se encontrar um filhote de bugio sozinho, como agir?
Eventualmente, pode ocorrer de um filhote de bugio, espécie comum no Estado, se perder do grupo por acidentes, ataques de cães ou morte dos pais. Nestes casos, se a mãe não retorna para buscar ou está morta/ferida, o filhote deve ser encaminhado para locais habilitados tais como zoológicos, mantenedores ou clínicas veterinárias habilitadas a fim de receber os cuidados apropriados É importante salientar que primatas podem contrair doenças de humanos e vice-versa, e toda boa intenção por parte de quem socorre um filhote pode prejudicar o animalzinho no futuro. Além disso, nunca tente mantê-los em casa, por ser crime ambiental e por diminuir ainda mais suas chances de retorno a natureza.
Encontrei um lobo marinho na praia, o que faço?
Embora menos comum no verão, os lobos marinhos chegam cansados ao nosso litoral devido às grandes distâncias percorridas. É comum ficarem descansando na praia por até 48 horas e depois retornarem ao mar. Durante o descanso na praia, é importante que o animal não seja importunado. Algumas orientações: mantenha distância de 10 metros, não tente alimentá-lo, não tente colocá-lo na água e mantenha os animais domésticos distantes.
O estresse causado pelo contato com o ser humano e animais domésticos pode levá-los à morte. Além disso, coloca em risco quem se aproxima, pois o animal pode atacar como forma de defesa.
O Ceclimar, no Litoral Norte, e o Cram, no Litoral Sul, reabilitam animais marinhos que necessitam de atendimento. Caso você encontre algum animal marinho machucado ou debilitado, entre em contato com a Patrulha Ambiental (Patram), que avaliará a necessidade de encaminhamento para reabilitação. Você pode contatar a Patram pelos seguintes telefones: Tramandaí: (51) 3661-4620 ou (51) 98608-0836; Capão da Canoa: (51) 3689-3206; Osório: (51) 3601-1726 e (51) 98608-0659 (não atende à noite); Torres: (51) 3626-4798 e (51) 98608-0839 (com whatsapp).
O que fazer ao avistar cágados e tartarugas atravessando a avenida?
No período reprodutivo, as fêmeas adultas deslocam-se da água para realizarem a postura de cerca de 12 ovos no solo, enterrando-os. Se o animal estiver atravessando uma via pública movimentada, pode-se, desde que com todo cuidado e segurança, ajudá-lo a atravessar de forma segura e no mesmo sentido do seu deslocamento. Se o animal estiver machucado, deve ser encaminhado para atendimento ou recolhido pelo órgão ambiental. A incubação dos ovos leva em média seis meses, quando os filhotes nascerão e, solitários, iniciarão sua jornada em busca de água e abrigo. O início da vida desses pequenos é desafiador, pois não contarão com a proteção dos pais até encontrar local seguro. Por esta razão, nesta época é comum ver estes animais andando longe da água, às vezes até correndo riscos como atropelamentos e ataques de cães.
Entretanto, nunca devemos coletá-los ou levá-los para casa, pois seu instinto natural irá ajudá-los. É importante salientar que eles não estão perdidos ou abandonados pelos pais. De forma diferente ao que ocorre em outras espécies, as tartarugas não são cuidadas pelos pais, não tendo o chamado cuidado parental. O que podemos fazer quando nos depararmos com algum em situação de perigo distante de um curso d'água é apenas conduzi-los até lá. E só. O resto a natureza dá conta.
O que fazer ao ver uma ave caída, com asa machucada?
Animais feridos devem ser encaminhados para locais autorizados o quanto antes para cuidados veterinários. Se possível, retirar o animal de via pública, afastar animais domésticos, evitar aglomerações no entorno do animal. Alguns locais realizam importante trabalho de recebimento e reabilitação de animais silvestres de forma voluntária. Verifique com a Sema quais são estes locais na sua região. Você pode também ajudar estes locais com itens como leites, frutas, carnes, ovos, rações, muito necessários neste período.
Telefones úteis
- Sema-RS - Divisão de Fauna: (51) 3288-8187
- Polícia Militar: 190
- Centro de Triagem Ibama RS: (51) 3224-8937