A OPOSIÇÃO

SERENA

FALA

A

nalistas que acompanham de perto a crise e mantêm senso crítico com a distância do discernimento alertam: governo e oposição venezuelana se perderão caso enveredem pelo discurso extremado.

– Uma coisa é a sociedade politizada, outra é a sensação permanente de confronto. A população começará a rejeitar os discursos raivosos. Está chegando o momento de um basta, e isso serve para governo e oposição – diz o sociólogo Ángel Fernández.

É o temor dos oposicionistas mais moderados. Líder dessa vertente, o candidato derrotado por Nicolás Maduro dois anos atrás pela diferença de apenas 1,5 ponto percentual, Henrique Capriles, preocupa-se que a oposição escorregue pela intransigência. Ainda dizendo que venceu em 2013, ele analisou pelo telefone a Zero Hora:

– A repressão é o último recurso do governo, que perdeu a popularidade. Nicolás não tem a liderança de Chávez. Resta-lhes oprimir para se sustentar no poder. Mas o piso de vidro sobre o qual caminha não é grosso, é fino.

Governador do Estado de Miranda, Capriles tem batido na seguinte tecla: a oposição precisa adotar discurso ponderado para vencer as eleições legislativas do segundo semestre e pavimentar o caminho ao referendo revogatório da metade do mandato presidencial, em abril de 2013.

– Tanto no governo quanto na oposição há setores extremistas. Assim como haverá extremistas que querem violência e um golpe, há no governo. O que me tranquiliza é que esses setores são minoritários. A mudança na Venezuela será pacífica, democrática, constitucional e eleitoral. Aos extremistas do governo, lhes interessa que se escute a voz dos extremistas da oposição. O governo quer que apareçam, que tenham espaço na imprensa – diz, sustentando que poderia haver aí um pretexto útil para um autogolpe chavista.

– O governo mostra presos políticos como troféu, indicando não haver saída eleitoral, instando a oposição a deixar o rumo democrático. Temos que resistir e avançar, mas nunca saindo do caminho democrático, de vencer eleitoralmente. Querem etiquetar a oposição de não democrática.

Capriles, que mantém acesa a disposição de concorrer novamente na próxima eleição presidencial, acredita que o governo vá se desgastar pelos índices socioeconômicos:

– Somos mais de 15 milhões de pobres, em uma população de 30 milhões. Por isso, Maduro tem hoje só 20% de popularidade.

Depois de endurecer discurso contra a Venezuela, Obama foi satirizado

A voz de Maduro

N

a sexta-feira, dia 17, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um dos seus praticamente diários pronunciamentos à nação. Ao inaugurar a Gran Avenida La Ribereña, no Estado de Barinas, ele pôs em segundo plano o discurso contra o “imperialismo americano” e também contra a “ingerência espanhola”, que vinha dominado suas manifestações, e enveredou novamente pela defesa do modelo econômico implementado na chamada “revolução bolivariana”.

Sustentou que seu governo trabalha focado nos mais necessitados, baseando-se nos preços justos e na distribuição dos produtos essenciais. Em aparente contradição com o que se vê nas ruas, o presidente se justifica:

– Vamos seguir tecendo a rede da nova economia produtiva. A distribuição e o preço justo, isso precisa estar junto. A produção, a comercialização e o preço justo.

E é aí que entra a chamada “guerra econômica”, que levaria a um referido “golpe econômico”.

– Há um golpe econômico em marcha na Venezuela, é a modalidade que eles (seus opositores) adotaram, indo da guerra econômica ao golpe econômico – diz o presidente.

O tom do discurso permanente na TV lembra o que ocorre no Brasil quando as campanhas eleitorais atingem seu ponto mais decisivo e, por isso, nervoso, com acusações mútuas, que costumam desagradar o eleitor. A diferença é que, na Venezuela, essa prática se dá continuamente e de forma intensa. No contato com a população, é nítido o desconforto que essa excitação de ânimos provoca.

Maduro rebate os críticos dizendo que a dependência da economia em relação ao petróleo sempre existiu, mas que agora os recursos são distribuídos para os setores mais desfavorecidos da população. Também diz que desabastecimento é resultado de boicotes promovidos por empresários descontentes com as mudanças resultantes da chamada “revolução bolivariana”. No discurso do dia 17, ele preconizou a estabilização de todos os níveis da economia. E, ao dizer isso, voltou a mencionar os EUA:

– Nenhuma ingerência dos EUA com a desestabilização que pretende empreender contra a Venezuela vai frear a construção do desenvolvimento da nossa pátria.

 
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