Superpersonagens olímpicos

Teddy Riner

Gigante dos tatames

José Alberto Andrade

A competição do judô em Jogos Olímpicos obedece um calendário crescente em termos de categorias, começando pelos pesos mais leves para chegar aos pesados no último dia de disputas individuais. Neste ano, há a novidade do encerramento das competições da modalidade com a busca de medalhas por equipes mistas. Assim, possivelmente haverá duas chances de se admirar e ver no pódio a maior estrela deste esporte nos últimos anos, um verdadeiro superstar que mede 2m04cm e pesa 130kg. Valerá a pena esperar quase uma semana para conferir o francês Teddy Riner em ação.

Nascido na ilha caribenha de Guadalupe, um departamento ultramarino da França, muito cedo foi morar em Paris. Sempre chamando atenção pelo porte avantajado, já aos cinco anos estava matriculado numa escola de prática desportiva. Não era só o tamanho do menino que chamava a atenção. Ele mostrava talento em praticamente todas as modalidades em que atuava. Destacou-se em natação, tênis, golfe, basquete e escalada, mas em outras duas mostrava mais aptidão e gosto por praticar: futebol e judô, limitando-se a elas pouco tempo depois.

Aos 14 anos veio a decisão mais importante para Teddy. Ele deixou de ser um vigoroso zagueiro que também marcava muitos gols e passou a frequentar apenas os tatames. Definitivamente o judô mundial ganhou uma grande, e bota grande nisto, estrela cujo primeiro brilho mundial se deu no Brasil.

Em 2007, quem o via se preparando para a disputa do Campeonato Mundial no Rio de Janeiro se impressionava pelo tamanho de Riner, mas se mostrava em dúvida quanto à sua técnica.

– Eu vi ele amassar um japonês e não acreditava muito. Era força pura superando algumas limitações. A gente, porém, sabia que elas seriam corrigidas. Ele era muito novo, tinha só 18 anos – lembra o gaúcho João Derly, bicampeão do mundo e ouro em sua categoria naquela competição.

Derly virou amigo do francês que se tornou o mais jovem campeão mundial da história e que, em momentos de descontração, jogava futebol nos tatames com bolas improvisadas contra outros judocas cuja diferença de altura tornava a cena surreal. Quem convive com Riner até hoje fala de alguém simpático e acessível, mas que se transforma na hora de se concentrar para um confronto.

O Mundial do Rio foi o primeiro vencido pelo peso pesado francês que depois ganhou nada menos do que outras nove edições consecutivamente, recorde na modalidade. Em Olimpíadas, estreou em Pequim em 2008, ficando com uma das medalhas de bronze. Desde então, nunca mais perdeu nos Jogos, sendo ouro em Londres em 2012 e no Rio de Janeiro em 2016. Se vencer novamente em Tóquio se igualará ao japonês Tadahiro Nomura que foi campeão em 1996, 2000 e 2004 na categoria até 60kg. Riner, no entanto, pode ultrapassar Nomura por ter um bronze e ainda poder ganhar uma medalha por equipes com a França.

Reverência

Perder não é um verbo muito conjugado por Teddy Riner. Até 2010, ele havia sido derrotado apenas oito vezes. Veio então a invencibilidade que durou quase 10 anos. Foram 154 vitórias até a derrota inesperada no Grand Slam de Paris no ano passado para o japonês Kokoro Kageura. Uma outra derrota meses depois, desta vez no campeonato francês, motivou comentários na comunidade do judô. O grande campeão não só perdeu, mas ficou indignado com a arbitragem que o puniu e, com isto determinou o resultado da luta. Estaria a lenda perdendo seu encanto? A volta aos tatames no Masters de Doha em janeiro mostrou que não e que "Big Ted" está a caminho de mais um pódio olímpico. Com 20 quilos a menos e uma disposição de estreante, ele foi ouro na competição individual e campeão também por equipes.

Quem vê Teddy Riner chegar a um local de competição nota que está diante de alguém diferente. Há uma reverência entre os outros judocas, independentemente de categoria. O público, exceto os delirantes franceses, silencia ao vê-lo indo ao tatame. Ali está alguém como um Michael Jordan, Usain Bolt, Michael Phelps. A lenda está pronta para voltar a brilhar, desta vez na casa de sua modalidade, no Japão, onde surgiu o judô, palco ideal para a consagração de um gigante da modalidade.

Marquem a data: 30 de julho.