Katinka Hosszu
A Dama de Ferro
A natação tem sua Dama de Ferro: Katinka Hosszu. Aos 32 anos, a húngara desembarca em Tóquio com status de estrela da modalidade. Por razões que até transbordam as piscinas, é também uma das competidoras mais midiáticas desta edição dos Jogos. Mas antes de abordar temas, digamos, mais mundanos ou polêmicos, vamos tratar das proezas dessa nadadora desde as primeiras braçadas em Olimpíadas, em Atenas 2004.
A estreia, na verdade, foi bem modesta. Ficou em 31º lugar nos 200m livre. Mas Katinka tinha apenas 15 anos, portanto a simples presença nos Jogos já era um feito e tanto. A expectativa era de que, nas edições seguintes, a promissora atleta evoluísse e, claro, passasse a colecionar ouros e recordes.
As expectativas, porém, foram frustradas em Pequim 2008. Participou de duas provas e nem mesmo chegou às finais. No ciclo para Londres 2012, os resultados animaram. Em Roma, conquistou o primeiro título mundial nos 400m medley, prova moldada aos nadadores mais completos. Tudo indicava que os Jogos de 2012 seriam o cenário da consagração dela. Não foram. Em Londres, a confiança da húngara havia sofrido abalos. Às vésperas dos Jogos, era então treinada pelo americano Dave Salo, famoso por formar campeões nos EUA. Ao pedir conselhos sobre suas chances de pódio, ouviu de Salo palavras que fariam qualquer atleta desmoronar.
– Não se preocupe. Você sempre pode voltar a Budapeste e abrir um salão de beleza – teria dito o técnico, conforme relato da húngara.
A nadadora foi finalista em duas das quatro provas que disputou em Londres, mas o melhor resultado não passou de um frustrante quarto lugar. Mas a húngara não desmoronou, nem voltou para seu país. Claro, trocou de técnico. E a partir daqui a história ganha os capítulos mais quentes. Para treiná-la, Katinka escolheu o namorado Shane Tusup, com quem havia engatado um relacionamento quando ambos eram estudantes de uma universidade da Califórnia. O casamento esportivo em 2012 chegou ao altar no ano seguinte. E a carreira de Katinka decolou.
À base de treinos diários de 10 horas e da participação no maior número possível de competições, seja em piscinas olímpicas (50m) ou curtas (25m), a Dama de Ferro virou uma fábrica de medalhas e dinheiro. Em 2014, em um evento da Copa do Mundo de piscina curta, ganhou cinco ouros e uma prata em um único dia. Naquela temporada, tornou-se a primeira atleta da natação (seja homem ou mulher) a faturar mais de US$ 1 milhão em premiações. Hoje é a nadadora que mais subiu ao pódio (461 medalhas) e conquistou ouros (309) em etapas de Copa do Mundo.
No Rio, em 2016, ela conseguiu, enfim, pendurar no pescoço as sonhadas medalhas olímpicas. Enquanto a esposa dava show na piscina – conquistou o ouro nos 200m e 400m medley e nos 100m costas, além de bronze nos 200m costas –, Tusup vibrava enlouquecidamente nas arquibancadas do estádio aquático na Barra da Tijuca.
Mas o casamento perfeito da natação chegaria ao fim. Em maio de 2018, a nadadora anunciou a separação pelas redes sociais. No comunicado, afirmou: "Infelizmente, Shane e eu não conseguimos resolver nossos problemas pessoais". Tusup não ficou calado e revelou sua versão do divórcio. Segundo o treinador, Katinka teria um relacionamento com um colega de treinamento. A traição teria sido admitida pela própria nadadora.
Fofocas à parte em assuntos amorosos, Katinka manteve a sorte no jogo. Em 2019, na Coreia do Sul, a Dama de Ferro superou dois feitos em um intervalo de seis dias. Tornou-se a primeira mulher a tetracampeã mundial da natação, nos 200m medley. Depois, ao bater na frente também nos 400m medley, sagrou-se a única pentacampeã no feminino. Apesar do ótimo desempenho no Mundial de Gwangju, Katinka resolveu dispensar o conterrâneo Árpád Petrov – o técnico que sucedera ao ex-marido – alegando que ele não tinha a mesma vontade de vencer. E decidiu se preparar para Tóquio por conta própria.
Em maio, no Campeonato Europeu, Katinka conquistou o quarto título continental nos 400m medley, mas perdeu a invencibilidade nos 200m medley, distância em que ela buscava a sexta vitória consecutiva na competição. Nas Olimpíadas, a húngara está inscrita em quatro provas. Cairá na piscina já no primeiro dia de disputas, na manhã de sábado (horário de Brasília), para as eliminatórias dos 400m medley. Depois, buscará medalhas nos 200m medley e 200m borboleta antes de encerrar sua participação em 30 de julho, nos 200m costas.
Portanto, em pouco mais de uma semana, com ou sem marido, com ou sem treinador, Katinka Hosszu terá a oportunidade de mostrar mais uma vez por que ela é a Dama de Ferro da natação.