tecnologia para quem precisa

 

 

– O futuro pode não ser tão animador em termos de quanta gente carece de água, mas é muito empolgante em termos de quantos empreendedores estão se engajando na área – afirma o britânico Tom Ferguson, vice-presidente de uma aceleradora de startups do ramo da água, a californiana Imagine H2O.

 

Na Califórnia, que tem enfrentado estiagem severa nos últimos quatro anos, há um mercado aquecido por startups em busca de soluções para a água. Uma das empresas apoiadas pela Imagine transforma esgoto em água potável e energia, por meio de um processo biológico que separa a matéria orgânica e os contaminantes da água, e emprega a biomassa resultante em produção de biogás.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao lado do Golfo Pérsico, de Israel e da Austrália, a Califórnia tem investido em uma das fronteiras da água: a dessalinização dos oceanos. Custoso em termos energéticos e tecnológicos, o processo é viável como medida emergencial, para matar a sede da população.

 

A física Márcia Cristina Barbosa integra um grupo da UFRGS que estuda comportamentos da molécula de água que podem ser explorados em processos mais eficientes de dessalinização, tratamento de efluentes e outros processos de purificação. A equipe se inspirou no funcionamento do rim humano e busca reproduzir a forma microscópica como o órgão filtra o sangue por meio de filtros de nanotubos de carbono.

 

– O melhor processo de dessalinização existente hoje gasta cinco vezes mais energia que o rim humano – compara Márcia.

Além da dessalinização, a tecnologia poderia ser usada na exploração do Aquífero Guarani. A reserva gigantesca de águas profundas, porém “sujas” com sais em excesso, perpassa o subsolo de oito Estados brasileiros, incluindo o Rio Grande do Sul, além de Paraguai, Uruguai e Argentina.

 

Na medida do possível, seria interessante poupar a mais estratégica reserva de água doce da América Latina. Um estudo recente da Nasa mostrou que 13 dos 37 maiores aquíferos do mundo são ameaçados pelo sobreuso: não são recarregados pela chuva no mesmo ritmo em que são drenados. Não adianta cumprir apenas parte da receita.

 

– Tem de haver planejamento e, para locais onde não há solução, temos de procurar saídas tecnológicas – pondera Márcia.

 

 

água fria nos conflitos

 

Ao mesmo tempo em que impressiona pela engenhosidade, o ciclo hidrológico prega peças em um mundo organizado em estados-nações. A disponibilidade de água é um problema localizado.

 

– Do ponto de vista planetário, percebe-se que há regiões com mais recursos disponíveis do que outras: é uma situação objetiva, em função da distribuição de água potável, terra arável, capacitação técnica. Vai ser necessária uma espécie de administração planetária de recursos, sob pena de haver cada vez mais conflitos pela posse e uso exclusivo desses bens naturais – pondera o curador do Museu do Amanhã, o físico Luiz Alberto Oliveira.

 

Será importante transformar disputa em cooperação e criar outro ciclo da água: uma cadeia global de uso responsável, em que a resolução de conflitos priorize o direito fundamental à água. Locais que produzem tecnologia para lidar com as próprias limitações poderão fornecê-las para aqueles que perecem na seca. Um mundo melhor não pode assistir a populações inteiras passando sede e fome – nem a conflitos sendo resolvidos com armas. Mas isso é assunto para a próxima edição de Rumo.

 

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