As vendas de veículos elétricos no Brasil foram impulsionadas, nos últimos meses, pela previsão de aumento nos preços em razão do fim das isenções para importação dos automóveis movidos a eletricidade. Desde o começo do ano, havia a expectativa de que o governo federal poderia retomar a cobrança de tributo dos carros desembarcados no país — o que levou muitos interessados em abandonar os combustíveis fósseis a antecipar os planos.
A medida acabou confirmada em novembro e prevê a recomposição gradual do imposto até totalizar 35% sob a justificativa de desenvolver a cadeia automotiva nacional e acelerar o processo de descarbonização da frota brasileira.
A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) acredita que a mudança deverá frear o ritmo de avanço do setor, mas mantê-lo em crescimento. A expectativa é de que o estímulo à produção nacional, a evolução tecnológica e o aumento da produção compensem os obstáculos à importação e, em médio e longo prazos, conservem a tendência de declínio no preço dos modelos eletrificados.
— Acreditamos que as empresas vão absorver uma parte (da recomposição do imposto), vão negociar com suas matrizes, não deve haver um repasse integral da alíquota para o consumidor. A tendência do preço dos carros elétricos ao longo dos anos, e isso não deve mudar apesar de algum aumento no curto prazo, é de queda provocada pela evolução de questões tecnológicas e pela escala crescente de produção — interpreta o presidente da ABVE, Ricardo Bastos.
O governo federal montou um cronograma pelo qual a recomposição do imposto será progressiva e diferenciada para cada tipo de motorização. Os 100% elétricos terão acréscimo de 10% em janeiro, enquanto híbridos (motor elétrico e a combustão) vão pagar 12%. A partir daí, as alíquotas serão aumentadas a cada mês de julho até totalizarem a taxa prevista de 35% para todos os modelos na metade de 2026.
Meses atrás, as opções de veículos eletrificados apresentavam preços a partir de R$ 250 mil. Hoje, já é possível encontrar boas opções em torno de R$ 150 mil, e a empresa chinesa BYD já anunciou o lançamento de um novo modelo (Dolphin Mini) com custo estimado em torno de R$ 100 mil — que poderá ficar um pouco mais elevado com a retomada progressiva do imposto de importação.
Ricardo Bastos sustenta, porém, que pelo menos duas montadoras chinesas já divulgaram planos para começar a produzir no Brasil. Isso deverá ter um efeito positivo sobre os custos finais ao consumidor.
— A BYD e a GWM já confirmaram fábricas no Brasil. A GWM deve começar a produzir ainda em 2024, e a BYD, no ano seguinte — afirma Bastos.
Entenda as diferenças entre os modelos de carro eletrificado
100% elétricos
O veículo totalmente eletrificado conta com uma bateria, recarregável por meio de uma tomada externa, que alimenta o motor elétrico. Sistemas de aproveitamento da energia gerada em frenagens e desacelerações, que é reconvertida para eletricidade, ajudam a ampliar a autonomia do automóvel. São geralmente conhecidos pela sigla derivada do inglês BEV (Battery Electric Vehicle). Alguns modelos, porém, em vez de bateria, podem utilizar uma célula de combustível (a partir de hidrogênio, por exemplo) para gerar a eletricidade.
Híbridos tradicionais (sem plug-in)
Combinam tecnologia tradicional, a combustão, com diferentes graus e modelos de eletrificação. Como não têm alimentação por tomada externa, o próprio veículo alimenta a bateria elétrica por meio de estratégias como a reconversão da energia gerada em frenagens e desacelerações. Há carros que usam os sistemas a combustão e elétrico em série (a combustão é acionada para alimentar a bateria, conforme necessidade), em paralelo (podendo cada sistema mover um eixo) ou em esquema misto, pelo qual uma central digital determina qual a melhor fonte a usar a cada momento. A combustão ainda é a principal fonte de propulsão, mas são carros mais econômicos do que um tradicional. São conhecidos pelas siglas HEV (Hybrid Electric Vehicle) e MHEV (Mild Hybrid Electric Vehicle, quando o motor elétrico é de menor potência).
Híbridos plug-in
A exemplo de um híbrido tradicional, combinam tecnologia a combustão e elétrica. A diferença é que contam com a possibilidade de recarga por tomada externa, da mesma forma que um modelo 100% elétrico. Além disso, dispõem de sistema de regeneração de energia (a partir de frenagens e desacelerações) para também ampliar a autonomia. Costumam ser denominados pela sigla PHEV (Plug-In Hybrid Electric Vehicle).