10 FILMES
POR MARCELO PERRONE
Luzes da Cidade (1931)
CHARLES CHAPLIN
Enquanto o cinema mudo tornava-se obsoleto, Chaplin seguia acreditando no encanto de suas fábulas silenciosas. Aqui, seu Vagabundo apaixona-se por uma bela florista cega (Virginia Cherrill), que, por uma dedução equivocada, acredita que o pobre coitado é rico. O maltrapilho faz o diabo para juntar dinheiro e pagar a cirurgia que devolve a visão à garota e sai de cena, pois imagina que ela, ao enxergar, vai se decepcionar com a aparência de seu benfeitor. O final redentor é um dos mais belos da história do cinema.
Desencanto (1945)
David Lean
Aclamado como um dos mais belos dramas românticos de todos os tempos, acompanha os passos de um homem e uma mulher, ambos casados, que vivem uma dilacerante paixão proibida a cada breve encontro a que faz referência o título original ("Brief Encounter"). Adaptada de uma peça teatral de Noel Coward, a história ganhou um remake ruim no telefilme "Ligações Proibidas" (1974), com Elizabeth Taylor e Richard Burton, e uma ótima releitura não assumida, "Amor à Primeira Vista" (1984), estrelado por Robert De Niro e Meryl Streep.
A Bela e a Fera (1946)
Jean Cocteau
O conto de fadas clássico ilustra no terreno fantástico a paixão que supera enormes barreiras para se consumar em amor verdadeiro. Estrelada por Josette Day e Jean Marais, a encenação de Cocteau investe no visual gótico, inspirado pelas experiências visuais dos artistas surrealistas e expressionistas. É o tom apropriado para contar a história da garota aprisionada no castelo de nobre de aparência monstruosa que vê seu medo e repulsa se transformarem em afeto e amor. Essa versão sombria da fábula permanece insuperável, embora o edulcorado e colorido desenho animado da Disney, de 1991, mirando em outro público, seja mais popular.
Tudo o que o Céu Permite (1955)
Douglas Sirk
O cineasta alemão Douglas Sirk consagrou-se em Hollywood confrontando em seus melodramas as convenções sociais que regiam a vida do americano médio após a II Guerra, questionando em especial papel submisso imposto às mulheres. A personagem de Jane Wyman é uma viúva que, infeliz com a vida confortável mas vazia, envolve-se com um jardineiro mais jovem (Rock Hudson). O casal vira alvo de olhares tortos e de falatório movidos por preconceito e intolerância — o diretor Todd Haynes prestou tributo a este clássico em "Longe do Paraíso" (2002), com Julianne Moore vivendo mulher casada que se envolve com um jardineiro negro nos EUA dos anos 1950.
Em Algum Lugar do Passado (1980)
Jeannot Szwarc
Em seu papel mais conhecido no cinema, além do Super-Homem, Christopher Reeve encarna o apaixonado capaz de romper qualquer barreira para encontrar sua amada, inclusive a do tempo. Em 1979, seu personagem fica obcecado pelo retrato de uma bela atriz (Jane Seymour) tirado em 1912, com a qual percebe ter uma enigmática conexão. O elemento fantástico da trama garante o encontro com sua amada no passado, gosto que se torna cruel nas memórias do viajante quando ele retorna ao tempo presente.
O Feitiço de Áquila (1985)
Richard Donner
Os amantes vividos por Rutger Hauer e Michelle Pfeiffer encaram uma dilacerante provação nesta trama ambientada na Idade Média. Por conta de uma maldição, ela se transforma em falcão durante o dia, e ele, à noite, vira um lobo. Suas versões humanas conseguem conviver por poucos segundos ao nascer do sol e no crepúsculo. Quem vai ajudá-los a quebrar o feitiço é um jovem ladrão (Matthew Broderick, pouco antes de brilhar em "Curtindo a Vida Adoidado"). A única coisa que envelheceu mal nesta bela fábula romântica é trilha sonora eletrônica do grupo Toto.
Benny & Joon: Corações em Conflito (1993)
Jeremiah S. Chechik
Dois tipos fora da curva se cruzam para dar liga à imponderável fórmula química que é o amor: garota com problemas mentais (Mary Stuart Masterson) que vive com o irmão superprotetor e rapaz (Johnny Depp) que orbita em um excêntrico mundo próprio, encarnando um clone do comediante Buster Keaton. A entrada em cena deste terceiro elemento irá tumultuar a rotina dos irmãos, mas o bem que a figuraça parece fazer à jovem desenha, por caminhos menos convencionais, uma tocante relação de amor — embalada pela ótima trilha puxada pelo hit "I'm Gonna Be (500 Miles)", do grupo The Proclaimers.
O Segredo de Brokeback Mountain (2005)
ANG LEE
O diretor chinês Ang Lee mexeu com dois vespeiros em Hollywood neste filme que lhe valeu o Oscar de melhor direção: tem como tema a homossexualidade e seus protagonistas encarnam o estereótipo da virilidade masculina norte-americana: o caubói. Os personagens de Jake Gyllenhaal e Heath Ledger se conhecem durante um acampamento, apaixonam-se e vivem um relacionamento proibido em ambiente hostil por quase 20 anos.
Luz Silenciosa (2007)
Carlos Reygadas
Neste filme ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, o diretor mexicano Carlos Reygadas capta a tensão afetiva que emana de um ambiente aparentemente impermeável aos aspectos mais mundanos de uma paixão arrebatadora. Em uma comunidade menonita do México, cujos integrantes de origem europeia seguem rígidos padrões de comportamento, um austero patriarca de numerosa família envolve-se com outra mulher e passa a encarar um profundo dilema moral.
Ela (2014)
Spike Jonze
Fábula futurista sobre a interação, no caso, extrema, entre homem e máquina. Joaquin Phoenix vive um homem solitário que se apaixona pela voz de seu novo sistema operacional, "interpretada" por uma ronronante Scarlett Johansson. Em sua alegórica prospecção da vida moderna, o filme tem o pé na realidade contemporânea ao destacar os aspectos melancólicos de vidas pautadas por relacionamentos mais virtuais do que carnais.
10 LIVROS
POR CARLOS ANDRÉ MOREIRA
Romeu e Julieta (1597)
William Shakespeare
Vamos começar já pela história inescapável, aquela que se tornou sinônimo e paradigma de paixões intensas e condenadas. Uma das grandes tragédias do bardo inglês Shakespeare, a peça enfoca o amor entre os jovens Romeu, dos Montéquio, e Julieta, dos Capuleto, duas abastadas famílias rivais de Verona, entregues a uma rixa irreconciliável que se interpõe entre os dois amantes.
Laila e Majnun (século 12)
Nizami Ganjavi
A mais popular história de amor do mundo árabe tem origem na tradição oral, até ser apropriada pelo poeta persa Nizami no século 12. O jovem Qays se apaixona pela bela Laila e pede a mão dela em casamento, mas a moça está prometida a um chefe tribal e família da jovem força a separação do casal. A rejeição enlouquece Qays, que passa a ser chamado de "Majnun" ("louco de amor").
Correspondência de Abelardo e Heloísa (século 12)
Um trágico amor impossível da vida real. Na França do século 12, o teólogo e filósofo Pedro Abelardo e a jovem Heloísa de Argenteuil, sobrinha de um cônego, iniciaram uma relação e se casaram em segredo. Até que, com a divulgação do caso clandestino, Abelardo foi castrado por amigos da família dela. Ambos então se recolheram à vida monástica, mas, como provam as cartas que trocaram depois, não esqueceram seu amor ardente.
Orgulho e Preconceito (1813)
Jane Austen
Muitas coisas se atravessam no caminho da paixão entre a jovem Elizabeth Bennett e o nobre podre de rico Fitzwilliam Darcy — principalmente eles mesmos, com seus temperamentos irascíveis que geram incontáveis mal entendidos. Austen faz também a crônica de uma Inglaterra em que as mulheres eram alienadas dos direitos de herança e o casamento era uma tábua de salvação de uma vida solitária e dependente.
O Morro dos Ventos Uivantes (1847)
Emily Brontë
O mais gótico dentre os amores impossíveis. Criados juntos na propriedade rural inglesa Wuthering Heights, Catherine Earnshaw e o órfão agregado Heathcliff vivem uma paixão turbulenta sabotada pelo temperamento instável de ambos e pelo contexto social: Cathy se casa com outro pensando em sua situação financeira, Heathcliff é humilhado pelo irmão dela e se consome tentando vingar-se daqueles que, considera, não permitiram que ambos ficassem juntos.
Bom-Crioulo (1895)
Adolfo Caminha
Apesar da problemática filiação ao moralismo da época e a um naturalismo que traveste muitos preconceitos de ciência, este romance merece nota por ser, talvez, a primeira grande ficção brasileira a se ocupar do amor homossexual. O marinheiro e ex-escravo Amaro perde-se de amor pelo colega grumete Aleixo — e é facilmente manipulado pelo volúvel objeto de sua paixão.
Dom Casmurro (1899)
Machado de Assis
Um dos mais discutidos romances brasileiros é uma enganosa história de amor - enganosa porque bem pouco romântica, temperada com uma ironia certeira e por vezes melancólica. Jovem de família abastada, Bentinho se enamora de Capitu, agregada da casa com quem foi criado. Ambos se casam, e uma tragédia faz Bento ter certeza de que foi traído por ela. Uma narrativa que até hoje provoca novas interpretações, a principal delas: Capitu traiu ou não?
Lolita (1955)
Vladimir Nabokov
O russo Vladimir Nabokov criou com esta ficção um dos mais escandalosos amores da literatura: o exilado europeu Humbert Humbert se apaixona pela filha de sua senhoria americana, a menina de 12 anos Dolores — também chamada de "Lola" — e se entrega a um amor obcecado por ela. O romance, por décadas considerado pornográfico, cunhou para a posteridade os termos "lolita" e "ninfeta" com o significado que conhecemos hoje, de uma menina muito jovem mas sexualmente atraente.
Os Amores Difíceis (1970)
Italo Calvino
Reunião de contos que exploram algumas das inúmeras variações possíveis dos problemas que podem se abater sobre um ou mais personagens atingidos por uma paixão ou envolvidos em uma relação amorosa. Histórias que miram a dificuldade de comunicação entre apaixonados e amantes no mundo moderno.
O Amor nos Tempos do Cólera (1985)
Gabriel García Márquez
Uma das mais populares histórias de amor da literatura recente, acompanha a paixão atribulada de Florentino Ariza e Fermina Daza - enamorados na juventude, ambos mantêm um namoro antes de tudo epistolar, que é mais tarde interrompido por pressão da família dela. Fermina se casa com outro homem, o médico Juvenal Urbino, e mesmo assim Florentino espera meio século até que, com a morte do marido, possam retomar sua relação.
10 MÚSICAS
POR ROGER LERINA
The Juliette Letters
Elvis Costello e The Brodsky Quartet
Belo projeto em que o roqueiro inglês e o quarteto de cordas uniram-se para criar canções sobre cartas imaginárias endereçadas à Julieta shakespeariana. O disco original de 1993 incluía pérolas de amor literalmente não correspondido como "Taking My Life in Your Hands": "As horas passam e a escuridão chega / Logo eu vou fechar meus olhos / Você vai devolver se você não responder? / Você vai levar minha vida em suas mãos".
Preconceito
Wilson Baptista e Ataulfo Alves
As diferenças raciais e sociais se interpõem cruelmente diante do amor no samba gravado por Orlando Silva e João Gilberto. "Você vem de um palacete / Eu nasci num barracão / Sapo namorando a lua / Numa noite de verão", canta o "o seu pretinho" para a amada, que diz a toda a gente que o bom rapaz é "moreno demais". Aqui, na versão de Emílio Santiago.
Carmen
Georges Bizet
A cigana sevilhana da célebre ópera é um pássaro rebelde que ninguém consegue domar, mas o incauto cabo Don José cai na besteira de se apaixonar pela sedutora operária da fábrica de cigarros. Carmen avisa logo no começo que a coisa com ela é encrenca na certa na popular "Habanera": "Mas se eu te amo, se eu te amo / Se eu te amo, tome cuidado". Aqui, interpretada por Agnes Baltsa, José Carreras, Samuel Ramey, Leona Mitchell; Metropolitan Opera Orchestra und Metropolitan Opera Chorus.
Ela É Dançarina
CHICO BUARQUE
Até a diferença de horários pode ser um inimigo do amor. No gracioso samba gravado por Chico no disco "Almanaque" (1981), o lamentoso protagonista reclama: "Eu sou funcionário / Ela é dançarina / Quando pego o ponto / Ela termina". Olha só que dureza: "Quando eu tchum no colchão / É quando ela tchan no cenário".
Orfeo ed Euridice
Christoph Willibald Gluck
O mito de Orfeu, que desce até o mundo dos mortos com sua harpa a fim de resgatar a amada Eurídice, foi tema de diversas óperas e deu até samba — a peça musical "Orfeu da Conceição", de Vinicius de Moraes. Em uma das mais belas e pungentes árias da literatura operística, Orfeu desespera-se ao constatar que perdeu irremediavelmente a amada cantando "Che Farò Senza Euridice?": "Ah! Não me sobra / Nem socorro, nem esperança / Nem do mundo, nem do céu! / Aonde irei sem o meu bem?". Aqui interpretado pela The Glyndebourne Chorus e London Philharmonic Orchestra.
Gol Anulado
João Bosco e Aldir Blanc
A música gravada no antológico disco "Galos de Briga" (1976) mostra como a incompatibilidade entre duas paixões pode transformar amor em violência. Depois de três anos de convívio, o vascaíno doente descobre o verdadeiro time do coração da companheira: "Quando você gritou 'Mengo' / No segundo gol do Zico / Tirei sem pensar o cinto / E bati até cansar". Quem perde o jogo é ele: "Daquele gol até hoje / O meu rádio está desligado / Como se irradiasse / O silêncio do amor terminado".
West Side Story
Leonard Bernstein e Stephen Sondheim
O clássico amor de Romeu e Julieta virou um dos melhores musicais de todos os tempos — levado ao cinema em 1961 com o título no Brasil de "Amor, Sublime Amor". Nessa modernização da história, a medieval Verona vira a Nova York dos anos 1950, palco do romance proibido entre Tony , ex-integrante de uma gangue de adolescentes, e a bela Maria, irmã do chefe do bando rival de porto-riquenhos. "Há um lugar para nós / Em algum lugar, um lugar para nós", cantam os jovens amantes antes da inescapável tragédia.
La Traviata
Giuseppe Verdi
Amores infelizes são combustível no mundo da ópera. A paixão por uma "mulher caída" é um tema romântico recorrente, que Verdi levou aos palcos líricos nessa adaptação do romance "A Dama das Camélias", de Alexandre Dumas Filho. Descabeladamente obcecado pela cortesã Violetta, o jovem Alfredo não dá ouvidos ao alerta da bela tuberculosa no dueto "Sempre Libera": "Sempre livre eu quero / Voar de prazer em prazer! / Quero que minha vida discorra / Pelos caminhos do prazer!".
Wuthering Heights
Kate Bush
Lançada em 1978 no compacto de estreia da genial cantora e compositora inglesa, a canção é inspirada no romance "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë. Kate empresta sua voz agudíssima para o fantasma da personagem Catherine Earnshaw implorar na janela do amado Heathcliff, aqui deste lado da vida: "Oh, me deixe possuí-la, deixe-me levar sua alma / Você sabe que sou eu, Cathy". Que medo...
A Pobreza
CONRADO
Ser um pé-rapado pode ser ruim também para o amor. A dupla Leno e Lilian levou a Jovem Guarda às lágrimas com a triste desdita do namoro de um jovem pobretão com uma moça que "vive na riqueza sem poder viver". Sente o chororô: "Nosso amor é tão bonito / Mas seus pais não querem nossa união / Pensam que a pobreza é lixo / E que um rapaz pobre não tem coração".
FILMES
LIVROS
MÚSICAS
Já estava difícil disfarçar. Paulo havia se tornado um anexo de Shirley – e vice-versa. Não demonstravam qualquer tipo de intimidade além da simples e permanente companhia um do outro. Mesmo assim, instalou-se um murmurinho entre os colegas. Até que um deles teve a coragem de perguntar, de supetão:
– E aí? É namoro ou amizade?
Enquanto Paulo ria, Shirley desconversou:
– Não sei, não sei…
Era o início de uma história de amor que seria bastante comum se não fossem as idades, o ambiente e as histórias de vida de cada um. Ele tem 72 anos e uma dificuldade crônica de andar, sequela de um acidente vascular cerebral. Ela, aos 77, já havia sofrido um infarto, tratado uma trombose, desenvolvido um problema de coluna e chorado a morte do único filho. Suas solidões se encontraram no asilo Padre Cacique, em Porto Alegre, instituição que abriga idosos com vínculos familiares fragilizados.
Os olhos de Paulo brilharam no momento em que ele, na mesa do refeitório, mirou aquele rosto sóbrio e meio desenturmado da nova residente. Acabado o almoço, servido diariamente às 11h, ele logo foi recepcioná-la.
– Comecei com aquela coisa: seja bem-vinda, qual teu nome?, quer conhecer o asilo? Aí a gente foi pegando amizade – relembra o pai de três filhos, avô de três netos e ex-caminhoneiro, um exímio contador de histórias, algo que, aos poucos, foi encantando a aposentada.
Nenhum dos dois é viúvo. O insucesso dos casamentos anteriores criou a ponte para que se encontrassem. Shirley e Paulo eram dois desesperançados: sequer cogitavam apaixonar-se novamente. Mas, diria um poeta, o amor aparece para os distraídos – e vai se mostrando nos pequenos gestos.
Teve um dia, por exemplo, em que ela participou de um passeio até o Mercado Público. Como não conseguia parar de pensar em Paulo – estavam no início de um flerte que nem eles sabiam que se tornaria um romance –, não hesitou em lhe levar um presente.
– Ela me trouxe uma morcilha, que é um negócio que eu adoro. Se isso não é amor, nem sei o que é – conta ele, que chegou ao asilo de cadeira de rodas e, hoje, de braço dado com a amada, consegue se movimentar até sem o andador.
Paulo devolveu a Shirley a vontade de sorrir. Ela se sentia triste, sozinha, cansada. Até hoje, a depressão a pega de jeito quando ela lembra do filho, silenciado por um câncer, aos 54 anos.
– Eu tinha parado no tempo. Mas comecei a gostar da vida de um outro jeito. Até as refeições, que são coisas banais à primeira vista, hoje têm outra graça para mim. Voltei a ser jovem – diz ela.
Shirley não ouve bem. Paulo, que fala muito, é paciencioso: repete que a ama quantas vezes forem necessárias. Tentam, como acontece com qualquer casal, encontrar um ponto de equilíbrio para duas personalidades tão distintas: ela é tímida e ele comunicativo, ele é mais prático e ela mais durona, ela gosta de filmes românticos e ele de bangue-bangue. Para eles, namorar é sinônimo de compreender.
– Gostar a gente gosta de todo mundo, mas a gente pega para amar aquela que entende o coração da gente – explica ele.
A aposentada se rendeu até às músicas gauchescas dos bailes organizados no asilo, que nunca apreciou durante a juventude, só para poder ficar de rosto colado com Paulo. Mas o que eles gostam mesmo é de se sentar lado a lado, entrelaçar as mãos e jogar conversa fora.
É que, depois de uma certa idade, ter histórias para contar e dividir é o que prevalece. Não que não tenham outros desejos. Mas a rotina do asilo não permite nem um cochilo na mesma cama: os dormitórios feminino e masculino são separados e não são permitidas visitas. Assim, o namoro entre os dois é feito de puro afeto. Comedido, é claro.
– Na hora de a gente se separar, lá pelas oito da noite, a gente olha pra lá, olha pra cá, vê se não tem ninguém olhando e se dá um beijinho na boca. Bem rápido – conta Shirley.
Os dois têm, nos seus respectivos quartos, álbuns idênticos de fotografias suas. Quando sentem falta um do outro, basta folheá-los para amenizar a saudade. E dormir logo, para que o amanhecer não demore muito.
ANDRÉ
& DAYSI
O AMOR NÃO ESCOLHE ONDE