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resgate da comida de verdade
No Brasil, que comemorou a diminuição drástica da fome graças a políticas como o programa Fome Zero, apontado pela ONU como referência para nações em desenvolvimento, outros males terão de ser combatidos no futuro. Diversificar a alimentação significa, também, modificar uma dieta baseada em comida de má qualidade e pouco nutritiva.
– Em termos nutricionais, nosso principal desafio é a obesidade – afirma o médico e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Cesar Victora. – Os cientistas reconhecem a existência de um “ambiente obesogênico”, em que a propaganda comercial aliada ao baixo custo de alimentos processados com alto conteúdo calórico (como refrigerantes, chips ou hambúrgueres) estimulam o consumo excessivo de calorias e gorduras – analisa Victora.
Coordenadora do Instituto Tecnológico em Alimentos para Saúde (itt Nutrifor) da Unisinos, a nutricionista Denize Ziegler acredita que as empresas serão obrigadas a acompanhar a mudança de comportamento e expectativas que se observa no consumidor.
– A gente não precisa de mais alimentos, precisa de melhores
alimentos – afirma.
No Nutrifor, Denize coordena pesquisas orientadas pelo conceito de ecologia nutricional, em que os aspectos ambiental, social e de saúde têm tanta importância quanto o econômico. Um dos trabalhos que saíram dali foi o do Mestre em Nutrição e Alimentos pelo itt Nutrifor Gilvan Bertinati. O chef criou um pão cujo sabor e textura lembram o pão francês. Uma mistura de farinhas de arroz e feijão (vídeo abaixo) substitui a farinha de trigo e confere ao alimento riqueza em aminoácidos essenciais e fibras, além de reduzir o índice glicêmico, o que muitos especialistas acreditam ser importante no combate à obesidade.
Em vídeo, conheça o pão de arroz e feijão,
alternativa nutritiva ao pão francês
refeição para poucos?
Ocorre neste ano, em Milão, na Itália, a Exposição Universal – evento centenário, cuja edição parisiense de 1889 motivou a construção da Torre Eiffel. Sob o tema “Alimentar o planeta, energia para a vida”, a Expo Milan busca debater as contradições de um mundo em que há quase 1 bilhão de famintos, apesar de 1,3 bilhão de toneladas de comida serem desperdiçadas anualmente em processos como distribuição e armazenagem.
Com o envolvimento de gigantes como McDonald’s e Coca-Cola e a ausência de pequenos produtores, a inauguração, em 1º de maio, foi acompanhada de protestos de manifestantes que consideram o evento corporativista e corrupto. O jornal espanhol El País chamou a atenção para o fato de que o setor agroalimentar é hoje o grande comprador da produção agrícola mundial. As decisões de empresas como Nestlé, Unilever e Mars influenciam os hábitos alimentícios da humanidade e a subsistência de pequenos produtores.
Para o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Antonio Márcio Buainain, há espaço para todos, e vilanizar os gigantes é distorcer a realidade.
– Ao levarem tecnologia para o campo e baixarem o preço real dos alimentos, as grandes corporações contribuíram de forma significativa para reduzir a fome no mundo – afirma Buainain, que acredita na sociedade como fiscal da sustentabilidade ambiental e social da atuação das multinacionais.
Do ponto de vista do pequeno produtor, movimentos como o fair trade advogam pela valorização de seu trabalho: que se pague um valor mais justo pelas colheitas. Isso passa, sobretudo, por políticas públicas.
– A perspectiva de inserir essa imensa massa de trabalhadores rurais na indústria de serviços é limitada. A possibilidade que temos é capitalizá-los, para que possam melhorar as condições de produção e, aí sim, produzir mais – opina o professor da UFRGS Lovois de Andrade Miguel.
Foto: Sergio Ruiz, CC
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Foto: Omar Freitas
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