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o futuro da água
O equilíbrio hídrico do planeta é uma balança sensível que está suportando peso demais. Nas próximas décadas, o aumento da população mundial e o uso insustentável que fazemos da água constituirão um dos maiores desafios para a humanidade. A água é finita, e nenhum de nós poderá viver sem ela.
texto
Fernando Corrêa
design
Leonardo Azevedo
Henrique Tramontina
se um dia, daqui a várias décadas, um humano olhar
a Terra do espaço e
se espantar com a vastidão do azul, não significará
que estaremos salvos.
A água cria, mas também destrói. No mundo em que 748 milhões de pessoas – 10% da humanidade – não têm acesso seguro a água potável, mudanças climáticas devem tornar mais frequentes desastres naturais e podem elevar o nível dos oceanos a patamares diluvianos. Planejadores buscam formas de tornar as cidades mais resilientes a secas e enchentes, ao mesmo tempo em que reaprendem a lidar com os recursos hídricos.
Líderes de 196 países participarão, em dezembro, da Conferência do Clima, em Paris. A meta é firmar um acordo que encaminhe a humanidade para chegar a 2100 com a temperatura média do planeta dois graus Celsius acima dos registros pré-industriais, entre os séculos 18 e 19. Atualmente, rumamos para um aumento de cinco graus.
– No Brasil, vamos sentir os impactos da mudança do clima pela água, seja pelo excesso, seja pela falta – afirma a urbanista Marussia Whately, ambientalista e uma das lideranças do Aliança pela Água, coalizão de 30 ONGs, que busca apresentar propostas e cobrar soluções para a crise hídrica em São Paulo.
Navegando para 2050, encalhamos no presente. O Brasil tem 12% da água doce do mundo, mas tem de aprender a gerir seu uso.
– Nossa chuva anual é o dobro do que chove na Europa. Seria deboche dizer que falta água. O que temos é desperdício de qualidade e de quantidade – afirma o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, André Luiz Lopes da Silveira.
O bom de momentos como o que enfrenta São Paulo, dizem os pesquisadores, são as lições de uso racional que se é obrigado a tirar. Marussia acredita que a saída para a crise hídrica passa, obrigatoriamente, pela construção de uma nova cultura de uso da água, que desperdice menos e cuide e reaproveite mais.
– Na história da humanidade, a forma como civilizações lidaram com a água foi determinante para seu sucesso ou fracasso. Há autores que falam do século 20 como o século dourado da água, construímos grandes barragens e hidrelétricas, começamos a captar água de lencóis superprofundos etc. O século 21 aponta para a escassez. O desafio vai ser usar bem, com menos disponível. Alguns lugares estão fazendo isso de forma exemplar e inspiradora – afirma a urbanista.
Esta quinta edição de Rumo explora velhos problemas e novas soluções para a água. Aprenderemos, com águas passadas, a lidar com águas futuras.
EM TERMOS
estresse hídrico
Situação em que a recarga dos reservatórios não dá conta da demanda por água. Deve atingir metade da humanidade até 2050.
dessalinização
Países como Israel e Arábia Saudita já têm métodos para tornar potável a água salgada – 97,5% da água na Terra.
água de reúso
As antigas cisternas em que se colhia água da chuva estão voltando. Deixaremos de lavar calçada e dar descarga com água potável.
:: DE TRÁS PRA FRENTE
Enchente de 41 deixou POA embaixo d'água (João Fonseca da Silva, reprodução)
Quadro de José Lutzenberger retratou enchente de 1941 em POA
No RJ do século 19, escravos "agueiros" transportavam água dos morros
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A sociedade sempre se dividiu na hora de democratizar o amor. Era medo do divórcio, repulsa às relações inter-raciais, pavor da homossexualidade. Enquanto superamos aos poucos as avaliações equivocadas do passado, descobrimos que o presente é bem melhor do que previram os futurólogos pessimistas.
1989
A crise da água foi um dos temas de 1989 no Brasil, com a maioria das capitais brasileiras enfrentando problemas de abastecimento. No Rio Grande do Sul, Bagé tornou-se símbolo da estiagem. À época, já se sabia: a tendência era de agravamento da situação ao longo das próximas décadas. O órgão responsável pela água em Porto Alegre disse que a situação na Capital era tranquila: o problema (já) era o esgoto lançado no Guaíba.
1989
No fim da década de 1980, reportagem em ZH alertou que a indústria do couro tinha um custo social muito elevado. A “morte lenta” dos rios Taquari, Gravataí, Sinos e Guaíba, o comprometimento da qualidade da água e o fim da pesca simbolizariam “a despreocupação com o futuro, condenado pela mistura de metais pesados e esgoto domésticos, com reflexos letais, em que a impunidade e a crise de autoridade não têm similar”.
1965
A ficção científica – sempre ela – detectou a escassez de água e imaginou futuros catastróficos. No romance que virou filme Duna (1965), de Frank Herbert, o povo Fremen era conservacionista em um mundo sem chuva. Espremia até a última gota de H2O do cadáver dos oponentes mortos. A franquia Mad Max é outra que imaginou o mundo virado em um grande deserto, em que um déspota controla o estoque de água potável.
1970
Em 1941, o centro de Porto Alegre foi tomado pelas águas do Guaíba. O lago ficou 3,75 metros acima do nível normal. O episódio motivou a construção do Muro da Mauá e a canalização do
Arroio Dilúvio.
1901
A seca faz parte do folclore e da constituição da Austrália: na virada do século 20, uma severa estiagem levou à recessão econômica que resultou na união de seis colônias britânicas em uma única federação.
1840
Na década de 1840, o Rio de Janeiro instituiu um grupo de trabalho para resgatar a Floresta da Tijuca depois de anos de desmatamento e exploração agrícola comprometerem o Rio Carioca, um dos principais mananciais que serviam à população. “Que se providencie, quanto antes, a conservação das matas, tanto das Paineiras, como da Tijuca, em toda a extensão das cabeceiras e vertentes dos rios Carioca e Maracanã”, propunha o relatório.
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