TEXTOS
ROSANE TREMEA
IMAGENS
JEFFERSON BOTEGA

Nós ganhamos abraços, contribuímos para a caixinha de recém-aprovados no vestibular, recebemos muitos "não" e um grande número de "sim", ouvimos música e poesia, escutamos histórias contadas por pessoas dos 18 aos 87. Quando o fotógrafo Jefferson Botega e eu resolvemos sair à rua para o projeto "Pessoas de Porto Alegre", inspirados pelo "Humans of New York", topamos com estrangeiros e moradores de rua, com porto-alegrenses da "gema" e interioranos que adotaram a cidade como sua, deparamos com apressados, tímidos e extrovertidos. Atravessamos verão, outono, inverno, primavera e, de novo, verão, com sol escaldante, com vento, com mormaço, com frio de renguear cuscos e gentes.

De vez em quando, na nossa abordagem, houve quem apertasse o passo e se agarrasse à bolsa, revelando uma faceta triste de nossa Capital: o medo e a insegurança. Mas ganhamos a confiança de 100 porto-alegrenses que, a seu modo, responderam quase de bate-pronto à pergunta:

Qual a história mais incrível que você viveu em Porto Alegre?

Não esperávamos que viessem grandes façanhas, mas momentos muito particulares passados na capital gaúcha, a cidade que completa, neste 26 de março, 244 anos.
De poucos ou muitos anos de vida, surgiram situações singulares: o nascimento de filhos, a vitória especial do clube do coração assistida ao vivo no estádio, o trabalho voluntário ou uma doação particular, o pôr do sol na orla, o passeio de barco, o banho de chuva com o chão coberto de flores de ipê, a participação em um coletivo/partido político/ONG, a criação de uma biblioteca, o ativismo ambiental ou de ciclistas, shows inesquecíveis, o amor encontrado numa esquina, o ingresso na universidade, o engajamento em manifestações, a primeira visão da cidade e o deslumbramento de um interiorano, a construção de uma ponte, ter conhecido uma religião, ter andado de bonde, ter conseguido trabalho e oportunidade, o convívio com a família e os amigos, mutirões variados, o resgate de um animal e a atenção à causa dos bichos, ter se banhado no Guaíba, a abertura de um negócio, um tombo coletivo de skate, ter conseguido fazer um curso que levou a um emprego, ter voltado à cidade depois de muito tempo fora, um aniversário comemorado na rua com parabéns cantado por desconhecidos, ter salvado uma árvore...

Para encerrar nossa conversa de não mais de um minuto com cada uma dessas pessoas de Porto Alegre, pedimos que deixassem um recado e dissessem o que querem de sua cidade: só uma das 100 pediu uma grande obra (o metrô, que todos nós também queremos e esperamos). Em resumo, o desejo de quase todas é segurança e tranquilidade para andar pela Capital.

O que queremos de Porto Alegre

Além de responder qual o seu momento mais memorável na Capital, os cem entrevistados deixaram recados dizendo o que esperam para a cidade no futuro. Há mais de cem respostas por que alguns deles expressaram mais de um desejo.