Atuações como garoto-propaganda
Marta Sfredo
marta.sfredo@zerohora.com.br
Muito antes dos influenciadores digitais, um prodígio nos campos virou o que, na sua época, chamava-se de "garoto-propaganda". A boa imagem de Pelé permitiu que o jogador colasse sua imagem em produtos tão variados como café, vitaminas, sapatos, celulares e cartão de crédito. Quando começou, contratos publicitários estavam longe das cifras que movimentam hoje, assim como salários e contratos de cessão de direitos de imagem. Mesmo assim, essa atuação rendeu frutos suficientes para que Edson Arantes do Nascimento testasse sua estratégia também nos negócios.
Nesse campo, fez gols e perdeu pênaltis. Transformar fama em dinheiro — monetizar o ativo, no jargão corporativo — fez com que Pelé testasse chutes em duas empresas de marketing esportivo, uma rede de academias e até participasse de projetos como a transformação de fios de seus cabelos em diamantes, vendidos por cerca de R$ 16 mil a unidade. Para abrir uma franquia da academia que levava seu nome, investidores são convidados a investir entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões.
A Copa do Mundo no Brasil, em 2014, foi o apogeu. De shampoo anticaspa a banco e fast food, Pelé deu prestígio e visibilidade a muitas marcas. A estimativa é de que tenha chegado a movimentar R$ 70 milhões por ano com patrocínios e publicidade. Um dos momentos de inflexão dessa trajetória veio com o tricampeonato mundial de 1970, que elevou o passe publicitário de seu jogador mais destacado.
A Companhia Cacique, que produzia café, propôs que o jogador assinasse uma marca. Ele, claro, topou. Surgiu o Café Pelé, gerando a lenda de que o cidadão Edson tivesse virado empresário e fosse dono do negócio. Não era, só emprestava — ou melhor, alugava — seu nome para o produto. Uma das mais recentes iniciativas de Pelé na área econômica, em 2021, foi um IPO.
Mas não foi uma abertura de capital, como sugere a sigla em inglês. O Rei aderiu ao Human IPO, uma plataforma que negocia tempo de profissionais. A ideia foi arrecadar capital para sua fundação social, a Pelé Foundation. Talvez ele tenha conseguido vender, mas tempo é algo difícil de comprar.
Susto nas finanças
Foram mais de mil gols, mas também houve uma série de bolas fora que começou cedo, ainda na década de 1960, quando os interesses de Pelé eram administrados pelo empresário espanhol José Gonzáles, conhecido como Pepe Gordo. Antes da Copa de 1970, o jogador descobriu que Pepe Gordo havia embolsado a maior parte dos ganhos. Desfez a parceria, mas só se recuperou do baque com o contrato para jogar no americano Cosmos. O time tentou usar sua imagem para popularizar o futebol nos Estados Unidos, sem sucesso.
Em 2001, já aposentado, Pelé sofreu outro escanteio. Foi obrigado a desfazer uma sociedade de 11 anos com o advogado Hélio Viana porque a empresa em que eram sócios, a Pelé Sports & Marketing, foi acusada de receber US$ 700 mil de um evento da Unicef que deveria ter sido beneficente. O camisa 10 driblou, disse que não havia recebido o dinheiro e acusou o sócio. Para substituir a empresa, criou Pelé Pro, outra agência que acabou desativada com dívidas ao redor de R$ 1,5 milhão em valores da época. Em 2012, o Rei teve de responder a juízes de tribunal, não de campo, em Angola.
Foi o rosto de um empreendimento imobiliário que vendeu, mas não entregou, 540 casas no país africano. Afirmou que era apenas "garoto-propaganda", mas foi tratado no inquérito como sócio oculto da Buid Angola, empresa envolvida no caso. Antes, em 2010, a marca Pelé passara a ser administrada por uma agência global, a Legends 10, controlada pelo empresário inglês Paul Kemsley. Ao assinar o contrato em que repassou os direitos em troca de luvas, salário mensal e percentagem sobre venda de produtos, disse que seria o último de sua vida. Ensaiando a despedida, Pelé resolveu deixar as finanças nas mãos de outro craque.
Esse, nos negócios.
Jogadas publicitárias
Algumas campanhas marcantes de Pelé
- Vitasay, para ter a energia do Rei
- Bombril, com o inesquecível Carlos Moreno
- Nokia, com uma videochamada pioneira feita em 1998
- Atari, com o piloto Mario Andretti e o jogador de basquete Kareem Abdul-Jabbar
- Imobiliária Francisco Xavier Imóveis conseguiu uma peça com sua namorada na década de 1980, Xuxa
- Vivo, em 2018, o colocou para dar conselhos a Gabriel Jesus na Copa da Rússia