O alcance vocal, os cacoetes marcantes, a capacidade de alcançar notas extremamente agudas ou graves e, principalmente, a personalidade que imprimia em suas interpretações: muito da fama de Michael Jackson vem de sua voz. Contatada pela reportagem, Jennifer Baten, que tocou com o astro entre 1987 e 1997, diz que o que mais a impressionava era a capacidade que Michael tinha de "manter a consistência e a força noite após noite, mesmo dançando".
1. Voz
Em entrevista recente a ZH, o guitarrista Slash, que trabalhou com o astro em Dangerous (1991), lembrou da reação que Michael Jackson causava sempre que abria a boca:
– Ele era um artista inacreditável, uma dessas pessoas de quem o talento era uma habilidade dada por Deus. Não tinha como não ficar impactado quando ele começava a cantar – avalia o guitarrista.
Protagonista de um dos espetáculos cover de Michael Jackson mais badalados do Brasil, Rodrigo Teaser, que interpreta o astro desde a infância, respalda:
– A voz é a parte mais desafiadora do cover, ainda mais a voz do Michael. Por isso, faço aula de canto e pratico exercícios específicos que ajudam a aproximar a minha voz ao timbre dele – disse, em entrevista ao jornal em 2015.
Seth Riggs, que trabalhou como treinador vocal de Michael no início e no auge de sua carreira solo, também atesta a capacidade do músico:
– Ele era muito persistente e incansável. Chegávamos a trabalhar seis dias por semana. Você conhece alguém com essa voz, que varia ao longo de três oitavas? Outras pessoas podem cantar, mas não como ele – disse, em entrevista nos anos 1990.
2. Composições e arranjos
Em edições especiais de seus discos de maior sucesso, há versões demo de alguns dos grandes sucessos de Michael Jackson. Há algumas que chamam a atenção: em Don't Stop 'Til You Get Enough, primeira música composta por Michael para a carreira solo, os áudios mostram o artista testando timbres de percussão em garrafas de vinho – algo que surpreendeu John Robinson, baterista da sessão, que disse nunca ter visto algo parecido.
Já em uma gravação prévia de Beat It, Michael arquiteta como todos os sons da música devem soar e mostra isso com sons feitos com sua boca – a bateria (feita com técnicas de beat box), o baixo, os backing vocals e mesmo a harmonia da canção, tudo é feito com técnicas vocais por Michael. Sem nunca ter tido aulas de música ou aprendido a tocar instrumentos, o artista compunha prolificamente e é creditado como instrumentista em seus discos, tendo tocado teclado, sintetizador, guitarra, percussão e bateria.
3. Dança
Nem só de música vivia Michael Jackson: além de um dos cantores mais conhecidos e do status conquistado de Rei do Pop, era também considerado um dos grandes dançarinos da história. A maneira com que utilizava técnicas acadêmicas e movimentos vindos da rua, dando destaque igual aos dois, revolucionou o gênero e deu ao mundo da coreografia uma série de passos conhecidos até hoje.
O mais conhecido é o moonwalk, passo em que andava para trás como se estivesse deslizando no chão, que foi apresentado pela primeira vez no show de 25 anos da Motown, transmitido ao vivo na TV americana.
LaVelle Smith Jr., coreógrafo que trabalhou com o astro nas turnês Bad, Dangerous e HIStory, revela a rotina de ensaios em depoimento a GaúchaZH:
– Uma das coisas que mais me impressionou era a habilidade de usar seu corpo para fazer coisas que os dançarinos não estavam fazendo. Ninguém havia usado aquelas posições corporais. Tínhamos categorias, como jazz, balé, e Michael destruiu isso, juntou tudo, mostrando que a dança era algo que podia ser elevado. Ele revolucionou o mundo da dança, mas levou todos nós com ele – lembra.
4. Moda
Por mais de 30 anos, a figura de Michael Jackson na mídia, nos shows e nos clipes transformou-se em um ícone da moda. Cercado de estilistas e profissionais para pensar seus figurinos, o astro teve seu estilo descrito por Michael Bush, que foi seu personal stylist a partir de 1985 e escreveu o livro The King of Style: Dressing Michael Jackson, como "Liberace vai à guerra", em referência ao extravagante pianista Wladziu Valentino Liberace.
Em entrevista à Vogue britânica, Rushka Bergman, uma das estilistas que trabalhou com Michael nos últimos anos de sua vida, lista elementos que fizeram parte do guarda-roupa e da história do músico:
– A linda luva com paetês, as meias brancas, os casacos militares, a jaqueta vermelha de couro em Thriller, as calças de terno com paetês, os mocassins. O estilo dele era marcante graças a suas escolhas no palco.
5. Videoclipes
Um dos elementos propulsores do sucesso de Michael Jackson foi a TV, mas a recíproca também é verdadeira: diz-se que Michael Jackson ajudou a salvar uma então recém-inaugurada MTV com seu videoclipe mais famoso, Thriller, vídeo de 12 minutos que é um misto de filme de horror com clipe musical – o sucesso do vídeo transformou a MTV em potência na comunidade negra e ajudou o canal a abrir espaço para artistas além das bandas de rock formadas por homens brancos dos anos 1980.
Michael teve clipes dirigidos por nomes como Martin Scorsese, Spike Lee e David Fincher, transformando para sempre o modo como músicos lidam com seus vídeos – influenciando nomes como Lady Gaga, Beyoncé e, vá lá, Anitta.
6. Questão racial
Quando Michael Jackson lançou Black or White (1991), música em que canta que "não importa se você é negro ou branco", a MTV já havia passado por uma revolução racial, promovida justamente pelo astro na década anterior. À época, a música de Jackson disputava espaço com discussões sobre sua cor, que havia mudado há alguns anos, o que fez com que ele declarasse em uma entrevista a Oprah Winfrey que era "um norte-americano negro que tem orgulho de sua raça".
Como diz o Guardian em uma matéria sobre a questão racial envolvendo Michael Jackson, "quanto mais sua pele ficava branca, mais sua obra ficava negra", em referência ao uso do tema em sua música, algo que foi se tornando mais presente a partir da década de 1990. Mas, desde que se tornou uma estrela pop, Michael Jackson sempre foi considerado um ícone da cultura negra _ foi o primeiro popstar negro após as lutas raciais dos Estados Unidos.
O Reverendo Al Sharpton, importante ativista negro, diz em reportagem do jornal The Guardian:
– Michael Jackson fez o mundo cultural aceitar uma pessoa negra muito antes de Tiger Woods, Oprah Winfrey ou Barack Obama.
7. Recordes
Desde sempre, Michael Jackson acostumou-se a quebrar recordes. É considerado pelo Guinness Book o maior artista de todos tempos, e os números comprovam o título (ele é também a pessoa com mais aparições no próprio livro dos recordes): seu Thriller é, até hoje, o disco mais vendido da história, com 47 milhões de cópias, e rendeu ao músico oito troféus Grammy em 1984. Sua turnê de Bad (1987) foi a mais lucrativa da história à época – sendo superada pelas turnês de Dangerous (1992) e HIStory (1996).
8. Legado
Mesmo após sua morte, Michael Jackson segue influenciando e ditando os rumos do mercado musical pop. Michael (2010) e Xscape (2014), lançados após sua morte, foram sucessos comerciais e trouxeram duetos com nomes como Lenny Kravitz, 50 Cent e Justin Timberlake. Artistas como Paul McCartney e Drake deram declarações mostrando decepção com as notícias envolvendo a vida pessoal de Michael, mas é inevitável perceber que a carreira do artista segue sendo lembrada em espetáculos de tributo, shows musicais e apresentações na Broadway – uma nova está prevista para estrear em 2020.
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