
Você já se sentiu injustiçado após uma conversa com seu líder no trabalho? Ou saiu de uma reunião com a sensação de que foi mal entendido, por não conseguir encontrar as palavras certas? Estes são ruídos comuns ao ambiente corporativo, que podem ser superados por meio da comunicação não violenta.
O conceito foi introduzido em 2006 pelo psicólogo americano Marshall Bertram Rosenberg. O autor aponta caminhos para uma comunicação objetiva, linear e compassiva, capaz de gerar maior compreensão, conexão e colaboração entre as pessoas.
Conforme a professora da ESPM Karine Aragão, pós-doutora em Estudos Culturais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a comunicação não violenta começa pela escuta.
— A base é a comunicação como um ato em que os interlocutores se alternam nas posições de fala e escuta. Mas, quando olhamos para a nossa sociedade, vemos que é comum o comportamento de só se colocar como enunciador. As pessoas querem falar, mas têm pouca disposição para a escuta — observa a especialista.
Karine salienta que a comunicação não violenta costuma ser reduzida à simples adoção de uma postura menos agressiva, mas é bem mais abrangente.
O conceito parte do pressuposto de que a violência não se dá somente pelos extremos comunicacionais, como os gritos e os xingamentos. Portanto, para colocá-lo em prática, não basta apenas modular o tom de voz ou não proferir ofensas.
A comunicação não violenta também não significa ausência de conflitos. As divergências podem ocorrer, mas precisam ser administradas visando o entendimento.
O que não deve existir é o confronto. Cada vez mais, as pessoas se comunicam tentando aniquilar o outro, como se todo indivíduo com quem temos uma divergência fosse um inimigo. Na comunicação não violenta, entendemos que é possível dar encaminhamentos menos bélicos para os conflitos.
KARINE ARAGÃO
Professora da ESPM e pós-doutora em Estudos Culturais pela UFRJ
Como praticar a comunicação não violenta?
O ideal da não-violência deve ser buscado durante todo o processo comunicacional, a começar pela construção de enunciados assertivos e claros. Somente assim será possível compreender o interlocutor e se fazer entender por ele, evitando ruídos e confrontos.
Para isso, Rosenberg apresenta quatro preceitos: observação, sentimento, necessidade e solicitação.
Tais preceitos não são passos a serem seguidos como os de uma receita, destaca a professora da ESPM, mas processos a serem exercitados conjuntamente.
Conheça cada um deles:
- A observação consiste em descrever os fatos em vez de ancorar o enunciado sobre acusações. Por exemplo: se você está decepcionado porque um colega não cumpriu com o acordado, ao abordar o tema, descreva o que causou a decepção. Evite acusações vazias, como "Não dá para contar com você!", que não contribuem para o entendimento.
- O preceito do sentimento destaca a importância de expressar o que sentimos de maneira completa. Não basta comunicar que está triste ou feliz. É preciso desmembrar a emoção, expressando, também, o que a motivou. Isso ajuda a estreitar a conexão com o interlocutor.
- As necessidades são as motivações por trás do que fazemos e falamos. Expressá-las é fundamental para a compreensão mútua e a resolução de impasses. Por exemplo: se você precisa que algo seja feito em determinado momento, mas seu interlocutor se opõe, explique por que o horário é necessário e entenda o motivo da oposição. Assim, torna-se mais fácil chegar a uma resolução comum.
- Quarto pilar, a solicitação consiste em expressar claramente como você gostaria que suas necessidades fossem atendidas, dando ao outro a oportunidade de colaborar. Não há problema em pedir, mas lembre-se: pedido não é exigência. Portanto, as solicitações devem ser claras, respeitosas e exequíveis.
Fonte: especialista Karine Aragão e Instituto CNV Brasil.