Foi montado na mula Diana que o padre Theodor Amstad inspirou a criação de mais de 30 cooperativas ao redor do Rio Grande do Sul. Mais do que isso, foi esse excêntrico suíço que deu o pontapé inicial para a criação do primeiro banco cooperativo privado do Brasil. Para o Dia do Cooperativismo, comemorado neste sábado (6), Zero Hora visitou o Memorial Padre Amstad, em Nova Petrópolis, cidade onde o sacerdote encontrou, em meio aos imigrantes germânicos, solo fértil para plantar ideias trazidas de navio da Europa.
O clima serrano, as baixas temperaturas e o charmoso estilo enxaimel não deixam enganar: chegamos à Serra gaúcha. Mas o que muitos dos visitantes de Nova Petrópolis, um município a 90 km de Porto Alegre, não sabem é que aqui também é a Capital Nacional do Cooperativismo.
Quem foi o padre Amstad?
Nascido em 1851 na Suíça, Theodor Amstad tem sua história entrelaçada à do próprio cooperativismo. Aos 13 anos, em 1864, foi morar na Áustria, onde frequentou o Colégio Jesuíta na cidade de Feldkirch.
Durante viagens pela Europa, Amstad foi apresentado ao cooperativismo contemporâneo, moldado anteriormente por 27 tecelões ingleses, em 1844. O jovem Amstad também foi influenciado pelo economista e professor universitário Charles Gide, membro da escola do solidarismo, que buscava por soluções econômicas para os impasses da época.
A primeira da América Latina
Em 1885 veio a que, muito provavelmente, foi a maior missão da vida de Theodor Amstad. O padre jesuíta embarcou no navio a vapor Patagônia rumo à América Latina, mais especificamente ao Brasil.
Primeiro desembarcou em terras cariocas, logo depois chegou ao Rio Grande do Sul para seu destino final. Onde mudaria a vida de milhares de imigrantes. Aqui encontrou uma população germânica que enfrentava inúmeras dificuldades financeiras, na vida do campo, na falta de capital financeiro e de mobilização social.
Os estudos sobre o cooperativismo, movimento até então inédito por aqui, não foram em vão. O padre Amstad aplicou em Nova Petrópolis seus conhecimentos e, em 28 de dezembro de 1902, uma sociedade já bem mais organizada fundou a Caixa de Economias e Empréstimos Amstad. A instituição de crédito rural organizou e proporcionou recursos financeiros para agricultores de toda região.
Foram 20 pessoas, entre elas o padre Amstad, que deram o pontapé inicial para a criação da primeira cooperativa de crédito latino-americana que se tornaria o primeiro banco cooperativo do Brasil. É essa instituição que hoje é conhecida por Sicredi.
Outra particularidade de Amstad foi ter desbravado o Rio Grande do Sul montado em uma mula. Diana, como era chamada, acompanhou o padre por inúmeras cidades gaúchas. Em todo lugar que passou, Theodor Amstad plantou a semente do cooperativismo e inspirou a criação de, ao menos, 36 cooperativas.
Amstad só parou esse cultivo em 1919, quando caiu da mula Diana e passou a necessitar de cadeira de rodas. Mesmo assim, seguiu escrevendo até falecer em 1938, aos 86 anos, na chácara dos padres jesuítas em São Leopoldo.
O cooperativismo hoje
A semente já estava germinada, o cooperativismo se tornou uma das maiores forças econômicas do Estado e do país, mudando a vida de milhares de brasileiros. Em 2023, mais de 4,6 mil cooperativas e 20,5 milhões de cooperados compunham o sistema cooperativo no Brasil, segundo o Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).
A Capital Nacional do Cooperativismo
Nova Petrópolis, a cidade que deu origem ao movimento, é reconhecida desde 2010 como a Capital Nacional do Cooperativismo. Já o padre Amstad, seu maior incentivador, carrega, desde 2019, o título de Patrono do Cooperativismo.
Mas o reconhecimento não para por aí. É difícil caminhar por Nova Petrópolis sem cruzar por algum marco do movimento cooperativista. Seja por uma estátua do padre — ou da mula Diana —, por uma praça ou por construções históricas que remetem aos primeiros anos da Caixa de Economias e Empréstimos Amstad, a cidade respira cooperativismo.
O Memorial Padre Amstad
Todos estes dados encontram lar em um museu criado totalmente para a preservação da história do movimento no Brasil e no mundo. O Memorial Padre Amstad foi fundado em 2023 no prédio que foi a primeira sede própria da Caixa Rural de Nova Petrópolis, outro nome usado pela cooperativa criada por Amstad.
— Esse memorial está divido em cinco temáticas. A temática da imigração, a constituição da comunidade de Nova Petrópolis, a história do nosso patrono, a história do cooperativismo no mundo e a história da primeira cooperativa de crédito da América Latina — explica o presidente da Sicredi Pioneira, Tiago Schmidt.
O memorial é administrado pela Casa Cooperativa de Nova Petrópolis, uma organização não governamental que une diversas cooperativas de diferentes áreas em prol da preservação histórica. O diretor executivo da Casa Cooperativa, Paulo Cesar Soares, reforça a ligação da cidade com o cooperativismo.
— Em Nova Petrópolis, especialmente aqui na localidade de Linha Imperial, onde tudo começou, se vivencia o cooperativismo. Quem vem para cá tem a oportunidade única de tangibilizar o que é o movimento cooperativo e de visitar todo o sítio histórico que nós temos aqui em Nova Petrópolis.
Visite
- Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 9h às 17h e sábado das 9h às 12h.
- Endereço: Rua José Otto Neumann, nº 430, Linha Imperial, Nova Petrópolis - RS.
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