Uma coisa leva para outra: cursos de graduação e especialização na modalidade de Ensino a Distância (EAD) são cada vez mais procurados porque investem em qualificação e inovação. E vice-versa: conforme aumenta a procura, mais fica justificado o investimento. Segundo o Censo do Ensino Superior de 2021, o aumento no número de vagas em cursos a distância foi de quase 24%, levando os 3,7 milhões de alunos da EAD a ocuparem uma fatia superior a 40% do total de universitários do país.
Essa procura se intensificou durante e após a pandemia, quando instituições, professores e alunos precisaram se adaptar rapidamente a um contato mediado por dispositivos eletrônicos. Entre os pontos que ajudam a conquistar os alunos está a evolução tecnológica. Equipamentos de realidade aumentada e laboratórios virtuais oferecem uma experiência que se aproxima bastante da vivida em aulas presenciais.
— Temos a tecnologia a nosso favor. Os alunos já aprendem com games e com tecnologia fora do ambiente educacional. A educação precisa andar junto com a sociedade e os avanços da conexão em rede — defende a gerente Acadêmica e de Conteúdo da +A Educação, Daiana Rocha.
Os recursos digitais também servem para dar à EAD um caráter de socialização que até algum tempo só era experimentado presencialmente. A pró-reitora de Ensino da Feevale, Angelita Renck Gerhardt, explica que a plataforma de aprendizagem utilizada pela instituição permite que se trabalhe praticamente como se estivesse em sala de aula — ou melhor, em salas, no plural, pois é possível mudar de ambiente e fazer dinâmicas de grupo.
— Estamos migrando para um novo ambiente virtual, onde os alunos terão mais de 200 laboratórios à disposição para cursos presenciais e a distância — conta.
Remoto e presencial juntos
A semelhança entre as modalidades, aliás, parece cada vez mais real. Tudo para atender a uma sociedade que entendeu a oportunidade de resolver muita coisa sem sair de casa ou do trabalho, mas que continua precisando da interação social para ensinar, aprender e fazer negócios. Na Univates, a aposta é no hibridismo. Enquanto os cursos presenciais receberam ainda mais tempo de atividades remotas depois da pandemia, a EAD conta com experiências práticas de forma física em sala de aula.
— Mesclamos a presencialidade dos componentes que exigem postura mais "maker", mão na massa, com componentes a distância sempre que for mais adequado para esse aluno que quer estudar dentro das condições de seu contexto de vida — explica a vice-reitora e pró-reitora de Ensino, Fernanda Storck Pinheiro.
A chegada de concorrentes de fora do Rio Grande do Sul acendeu o sinal de alerta e fez com que as instituições gaúchas aumentassem a atenção aos cursos a distância. Nos próximos anos, elas pretendem despender alguns milhões de reais na qualificação da estrutura e de seus professores e técnicos para continuarem competitivos e oferecendo ensino de qualidade.
Confira, a seguir, o que algumas delas estão projetando:
Aplicação prática para agregar valor aos curso
Pode parecer contraditório, mas é isso mesmo. Com os equipamentos e sistemas certos, as instituições promovem experiências que antes eram exclusividade de aulas presenciais. Além de oferecer cursos de educação continuada na área da saúde, a edtech +A Educação tem conteúdos replicados por outras instituições de ensino, alcançando mais de 100 mil alunos.
Segundo Daiana Rocha, gerente Acadêmica e de Conteúdo, a preocupação é sempre com a parte humana — o foco está em projetos práticos que ajudem o aluno a agregar sentido ao que está aprendendo. A realidade virtual tem um grande papel nesse processo. Na sede da instituição, em Porto Alegre, uma sala de imersão reúne tecnologias como óculos de realidade aumentada, vídeos 360º e 3D.
Alunos de cursos de Engenharia experimentam a sensação de estar em um canteiro de obras, por exemplo, sem saírem de casa. No ambiente virtual, podem selecionar equipamentos de proteção, materiais para a construção e fazer vistorias, entre outras atividades. É possível ver e ouvir a construção em andamento.
Na área da saúde, o estudante pode escutar a respiração de um paciente, medir a pulsação e fazer a anamnese. Tudo isso com a possibilidade de erro e acerto, o que é fundamental para a aprendizagem, mas sem riscos para a integridade física. Graças à tecnologia, a EAD já oferece esse tipo de experiência que, antes, era restrita às aulas presenciais.
Enquanto isso, no acesso remoto ganha força o conceito LXP (da sigla em inglês para Learning Experience Platform). É a integração de todo o ecossistema de conteúdo de forma acessível e com diferentes formas de apresentação. Nos próximos três anos, a edtech +A Educação projeta investimento de R$ 100 milhões no desenvolvimento de novos conteúdos e tecnologias. Para o CEO, Celso Kiperman, apenas uma coisa não muda: o papel do professor.
— Haverá, cada vez mais, uma convergência entre presencial e virtual, o que resultará em uma educação híbrida. O professor continuará sendo figura importante na educação mediada por tecnologia — projeta.
Análise de dados para dar suporte aos alunos
Para que os alunos pratiquem o que aprendem, as instituições combinam momentos remotos com encontros presenciais — até o limite de 30% da carga horária, conforme a legislação permite. Na Univates, em Lajeado, cursos como os de Gastronomia e Estética, lançados recentemente, usam essa estratégia.
— Essa é uma tendência que veio para ficar. Além de ser um ensino cada vez mais customizado para o estudante encontrar sua forma mais interessante de estudar e de aprender — defende a vice-reitora e pró-reitora de Ensino, Fernanda Storck Pinheiro
O hibridismo aparece também nos cursos presenciais, que contam com atividades remotas em até 40% do tempo. Além das áreas de saúde e engenharia, como na +A Educação, a Univates também aplica sistemas específicos para os cursos de gestão — com softwares que simulam, por exemplo, uma empresa que precisa criar um plano de negócios. Fernanda acredita que o avanço, nos próximos anos, seguirá pelo caminho da interação. Ela cita o protagonismo dos alunos na criação de podcasts e vídeos, além da experimentação em laboratórios virtuais, como a principal tendência.
— Se em um primeiro momento a gente teve uma oferta linear de construção de aprendizagem, a cada nova revisão de material se percebe uma colocação maior de ferramentas que conduzam o aluno a uma postura mais ativa, e não de um mero receptor de informações – analisa.
Para dar dinamismo, os módulos são trimestrais. Os conteúdos são disponibilizados semanalmente e o formato depende de cada curso, já que a customização é uma das preocupações. Conforme a necessidade ou o perfil da turma, são priorizados vídeos, textos, áudios ou outras experiências.
— Nos preparamos com constante curadoria em termos do que há de mais novo no mercado. Estamos inseridos em instituições de referência no mundo, pesquisando o que está se fazendo em outros lugares e que podemos adotar — conta Fernanda.
Hibridismo para garantir experiência completa
Mais do que um canal para transmissão de conteúdos e avaliações, a tecnologia permite que os professores acompanhem de perto o rendimento dos estudantes. É nisso que a Feevale está focada: nos próximos anos, uma ferramenta de análise de dados com solidez está entre os principais investimentos.
— Na presencialidade, é fácil diagnosticar as dificuldades e o professor tomar uma ação. No digital, precisamos de ferramentas e vamos contar com uma bem mais robusta de analytics (análise de dados) — pontua a pró-reitora de Ensino, Angelita Gerhardt.
Os professores vão saber a forma como cada aluno estuda, os horários que organiza, como realiza atividades, o tempo necessário, entre muitas outras informações. Assim, podem traçar um perfil detalhado e intervir quando necessário. Nos próximos três anos, a instituição também vai ampliar o uso de realidade aumentada, laboratórios virtuais e projeções em 3D. O investimento anual será de R$ 1,4 milhão até 2025.
Os estudos no ambiente virtual são organizados por roteiros, que incluem vídeos gravados pelos próprios professores, apresentações, infográficos e outros recursos interativos. Muitos estudantes montam grupos de estudos e se encontram semanalmente ou a cada duas semanas na instituição, além de atividades mediadas por professores e tutores – que não são obrigatórias, mas têm boa adesão.
Os módulos são trimestrais e chegam a contar com até 16 atividades presenciais ou síncronas com os professores. Os alunos da EAD são convidados para todas as atividades que ocorrem presencialmente, nos polos ou na sede — não apenas do curso, mas também outros da instituição e de diretórios acadêmicos. Durante os encontros e as aulas síncronas, os estudantes fazem estudos de casos e outras atividades dinâmicas que buscam consolidar a aprendizagem dos conteúdos que acessaram pelo ambiente virtual de aprendizagem.