Há 40 anos, a esquina da Rua da República com a José do Patrocínio, em Porto Alegre, abriga um lugar muito especial: a Sorveteria Joia. Conversamos com João Klein, proprietário da casa e responsável pelos sorvetes que fazem parte do cardápio – são 28 sabores que nos enchem de alegria.
Como começou o negócio?
Há 40 anos, eu trabalhava em um condomínio como zelador, na Avenida Getúlio Vargas. Na frente, havia um minimercado onde comprava o material de limpeza. Conheci o dono e, depois de uns cinco anos, ele me convidou para trabalhar com ele. Falei, quase de brincadeira, que só sairia de onde estava para trabalhar com patrão rico. Dois dias depois, ele perguntou se eu queria ser sócio. Aí eu disse que ia começar a pensar na situação. Foi assim que comecei na sorveteria.
Como foi o início?
O primeiro verão não foi bom. A casa, recém-inaugurada, não era muito conhecida. As vendas foram baixas. Quando chegou o inverno, não deu para aguentar e tivemos que fechar. Mas, eu tinha que trabalhar. Então, o primeiro emprego que consegui na época, por incrível que pareça, foi o de coveiro. Trabalhei por quatro meses e, no início da temporada, em setembro, voltei para a Joia. Tudo foi se ajeitando, foi indo, e, graças a Deus, estou aqui até hoje. O meu sócio faleceu e a família vendeu a parte dele para mim, há uns 15 ou 20 anos atrás.
Como você fez para manter o negócio em meio à vida noturna da Cidade Baixa?
Eu até deixei de ganhar dinheiro. Vendia bebida alcoólica, mas parei, não queria misturar as coisas. A pessoa que quer beber senta e fica umas duas ou três horas, tirando o lugar dos meus clientes que buscam os sorvetes. E o que eu quero vender é sorvete. Não quero ser um revendedor de outros produtos.
Qual o sabor mais vendido?
O de iogurte com frutas vermelhas e o de banana com canela saem muito bem. Agora, relancei o sabor de banana caramelada e tem sido sucesso também.
Por que o senhor optou por seguir o modelo mais clássico de sorveteria?
Há 25 anos, por exemplo, veio a febre do buffet e todo mundo fez. Havia vários que depois fecharam. Eu não cedi para esse tipo de serviço e estou aqui até hoje. Acho que, para sorvete, esse estilo é muito exposto.
Por que o senhor acredita que conseguiu se manter por 40 anos?
Tu tens que te entregar para a firma. É como pagar aluguel. Às vezes, tu tiras o filé mignon e come carne de pescoço. Tem que sempre ter uma reserva para os maus momentos. Se tu trabalhares de dia, fechar a casa à noite, botar o dinheiro no bolso e for para festa, logo vai cair fora do mercado. A casa é primordial, tu só tiras o que está sobrando. Assim eu faço há 40 anos.
O senhor trocou muito de fornecedores durante esse tempo?
Antes, a matéria-prima era muito ruim, mas, há 35 anos, descobri uma firma em São Paulo e comecei a comprar deles. Se tiver que subir o preço para sair bom o meu produto, eu subo. “Ah, mas vamos colocar mais cinco para sair mais ou menos”. Não quero mais ou menos. Quero o melhor. Eu acho que se não fizer assim, o cliente não volta. Ele só volta se tiver vantagem em duas coisas: quantidade e qualidade.
Qual o sorvete que o você mais gosta?
Eu não sei. Eu não sou muito de sorvete. Mas gosto dos sabores de coco e de frutas vermelhas.
* Conteúdo produzido por Victoria Campos