Aos 60 anos, Pedro Paulo é o funcionário mais antigo da churrascaria Matias (Rodovia RS-239, 4.523), em Sapiranga. O restaurante foi o primeiro a implementar o sistema de espeto corrido no Brasil e, desde então, guarda fiéis clientes e desperta o interesse de turistas que visitam o local por sua história e pioneirismo na forma de servir churrasco.
Como surgiu a ideia de criar o espeto corrido?
Foi por acaso. Até hoje, e em algumas cidades do Interior, se trabalha com o churrasco servido à mesa, com salada e acompanhamentos colocados em grandes tigelas. Mas, o seu Matias fazia muitos casamentos e festas e, em um desses eventos, faltou carne. Os assadores começaram a fazer comida na hora e a passar com o espeto entre os convidados, que pediam pedaços mal passados ou ao ponto. E, assim, os garçons tiravam lascas conforme o gosto de cada um.
Como foi o seu ingresso na churrascaria?
Eu era muito novo, tinha menos de 10 anos. Naquela época, as crianças trabalhavam, ainda mais quem vinha de família com pouco dinheiro. Meu pai, tios e irmãs trabalhavam na churrascaria, e eles, bem como outros funcionários, levavam os filhos junto. Comecei carregando lenha e espremendo limão e laranja para fazer sucos. Depois que eu fui virar "passador".
Como você lida com essa responsabilidade do pioneirismo?
Não existe um peso por causa disso. Por estar lá desde o começo, eu sinto que assumo a responsabilidade, esse prazer em poder afirmar que é o primeiro espeto do mundo. Sinto muito orgulho em dizer que ele nasceu aqui em Sapiranga. No ano passado, depois de uma matéria que saiu na TV, muita gente procurou a casa por causa desse pioneirismo, e queria conhecer mais a história. Onde quer que eu ande pela cidade, me conhecem como o Paulinho da Matias.
Tem alguma história que marcou você?
São tantas que eu não conseguiria falar só uma, mas sempre me marca quando as pessoas me reconhecem e dizem algo do tipo: “eu vim aqui com meu pai há 35 anos e lembro do senhor”. Eu me sinto muito bem com isso, dessa relação, de gostarem daqui e de sempre retornarem, mesmo com o passar dos anos.
Como foi a evolução do rodízio na Matias?
Na década de 1960, as carnes eram salsichão, xixo, lombinho de porco, picanha, costela, matambre vazio e linguiça campeira. Com o tempo, foi evoluindo naturalmente. Foram adicionados novos cortes e outros alimentos que passaram a ser mais explorados no churrasco. Hoje, no espeto corrido, também temos ovelha, pão com alho, queijo, abacaxi, coração e cupim. O buffet ganhou outras comidas, é executivo e com algumas saladas e pratos quentes.
Qual o seu corte de carne preferido?
A costela de gado. Em termos de sabor e gosto, é aquela com características mais marcantes.