
Descontadas as diferenças abissais de tamanho e população do país, a torcida da Letônia pelo sucesso de Flow: À Deriva (Straume, 2024) no Oscar rivaliza com a empolgação e o engajamento do Brasil por Ainda Estou Aqui e Fernanda Torres.
Ex-república da União Soviética, a Letônia reconquistou sua independência em 1990. Trata-se de um pequeno país (124º do mundo em área, com 64,5 mil quilômetros quadrados, e 146º em número de habitantes, 1,8 milhão) banhado pelo Mar Báltico.
Em cartaz a partir desta quinta-feira (20) nos cinemas brasileiros, Flow é o primeiro filme letão a disputar a premiação da Academia de Hollywood. E conseguiu isso em dose dupla: foi indicado nas categorias de melhor longa internacional, na qual compete com Ainda Estou Aqui, e melhor animação.
Dirigido por Gints Zilbalodis, que escreveu o roteiro com Matiss Kaža, o filme foi produzido ao longo de cinco anos e meio usando um software de animação gratuito, o Blender. O visual é predominantemente realista — no desenho dos personagens e cenários —, mas há um quê de onírico na movimentação, que é bastante fluida.

A trama acompanha a luta por sobrevivência de um gato, um cachorro, uma capivara, um lêmure e uma ave de rapina durante uma enchente. O elenco de personagens remete a uma fábula sobre tolerância, empatia e cooperação entre povos diferentes. Não há diálogos, o que aumenta seu encanto e sua universalidade, além de contribuir para a ótima receptividade nos Estados Unidos, já que não há a "barreira" das legendas.
Quando a temporada de premiação começou, Flow surgiu como um forte candidato ao Oscar dos longas animados, graças às vitórias no Globo de Ouro, concedido pela Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood, e junto aos críticos de Los Angeles, Nova York, Chicago, Boston e San Francisco. Mas Robô Selvagem, de Chris Sanders, assumiu o favoritismo ao conquistar o PGA Awards, da Associação dos Produtores dos EUA, e nove troféus no Annie, o principal prêmio da animação — Flow levou dois: melhor filme independente e melhor roteiro.
No cinema letão, Flow tornou-se o recordista de público, com mais de 300 mil ingessos vendidos, superando A Outra Face da Guerra (2019). No mundo, sua bilheteria já alcançou US$ 20 milhões — ou seja, mais de cinco vezes o seu custo (US$ 3,7 milhões).
Gints Zilbalodis recebeu o título de Cidadão do Ano em Riga, a capital da Letônia, e o Globo de Ouro trazido de Hollywood foi exibido no Museu Nacional de Arte. O governo do país anunciou um investimento no cinema, para que mais filmes cheguem a festivais e premiações internacionais.

A maior homenagem, pelo menos em tamanho, foi a transformação do gato protagonista de Flow em uma escultura em 3D, pelo artista Kristaps Andersons. A estátua foi instalada em frente ao Monumento da Liberdade, em Riga, e no dia 1º de abril será transferida para a Praça da Prefeitura, onde permanecerá exposta durante o restante do ano.
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