
Cápsulas, sprays e gotinhas que prometem uma boa noite de sono estão cada vez mais populares nas farmácias brasileiras. A melatonina, hormônio produzido naturalmente pelo nosso corpo, ganhou espaço como suplemento e passou a ser usada por quem enfrenta dificuldades para dormir ou deseja regular o ritmo do sono.
Mas será que funciona para todos? Há riscos no uso contínuo? E como saber qual tipo comprar?
— A melatonina não é um sedativo, como os hipnóticos tradicionais. É um marcador biológico da noite — explica o médico Gleison Guimarães, especialista em medicina do sono.
Para ajudar nessa decisão, Zero Hora conversou com especialistas da área, reunindo informações sobre funcionamento, indicações, cuidados na compra, formas de uso e os principais aspectos que devem ser observados para um consumo seguro e eficaz da substância.
ZH Indica: guia de compras
Como escolher a melatonina
O primeiro passo é verificar se o produto é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — o que garante segurança e procedência. Muitos suplementos importados apresentam doses elevadas demais para o necessário e não seguem os mesmos critérios de controle. Versões nacionais costumam ser suficientes na maioria dos casos, desde que a formulação seja adequada. A médica Suamy Goulart orienta:
— Produtos de qualidade devem conter a dose exata informada e não trazer ingredientes desnecessários. Começar com doses baixas, entre 0,5 mg e 1 mg, é o mais seguro. Doses mais altas não garantem mais eficácia e podem atrapalhar o ciclo natural do sono.
Também é importante observar o tipo de liberação (imediata ou prolongada) e a forma farmacêutica (gotas, cápsulas ou spray). Todas podem ser eficazes, desde que respeitados o horário de ingestão e a dose recomendada. Gotas e sprays, por exemplo, são absorvidos mais rapidamente, sendo úteis para quem deseja dormir logo após o uso.
Mas o que é melatonina?

Trata-se de um hormônio produzido pela glândula pineal, localizada no cérebro, cuja liberação é estimulada pela ausência de luz. Ao anoitecer, o organismo aumenta naturalmente sua produção, sinalizando que é hora de desacelerar.
A função mais conhecida é ajudar o corpo a entrar no ritmo para dormir, ajustando o chamado ciclo circadiano — o nosso relógio biológico. Guimarães explica:
— Ela prepara o organismo para o repouso noturno e para o dia seguinte. Essa sincronização é fundamental para o bom funcionamento do corpo.
Na prática, a melatonina não "faz dormir" como um calmante. Atua como sinalizador, regulando os horários do sono e da vigília. Por isso, costuma ser recomendada em casos específicos, como jet lag, trabalho em turnos, distúrbios do ritmo circadiano e insônia em idosos.
Também há respaldo para seu uso em crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, como autismo e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) — sempre com prescrição e acompanhamento médico.
Mateus Dornelles Severo, médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), reforça:
— A suplementação pode ser útil em pessoas com alterações no ritmo do sono. Mas seu uso não deve ser indiscriminado. O ideal é sempre buscar avaliação médica.
Ainda que seja vendida sem receita no Brasil, a melatonina não é indicada para qualquer pessoa. Gestantes, lactantes, crianças pequenas e pacientes com doenças autoimunes ou que tomam medicamentos específicos devem evitar o uso sem supervisão profissional.
Além disso, o uso contínuo precisa ser reavaliado periodicamente, pois pode perder o efeito com o tempo.
Segundo Guimarães, é comum que pacientes relatem que a melatonina "parou de funcionar" após algum tempo de uso. Isso acontece, na maioria das vezes, por três motivos:
- Uso fora do horário ideal
- Doses excessivas que saturam os receptores do organismo
- Falsa expectativa de que ela resolverá problemas que não têm relação com o ritmo circadiano, como ansiedade, estresse ou apneia do sono
Papel nas fases da vida
Outro ponto importante é entender o papel da melatonina em diferentes fases da vida. Na infância, a produção natural é elevada. Com a puberdade, ocorre um atraso fisiológico na liberação, por isso muitos adolescentes têm o sono mais tardio.
A produção se estabiliza na vida adulta e começa a cair após os 55 anos. É justamente nessa faixa etária que a versão de liberação prolongada pode ter mais benefício.
Além dos fatores biológicos, hábitos ruins atrapalham a produção natural do hormônio: o uso de telas à noite, a exposição à luz artificial intensa, refeições pesadas, consumo de cafeína e tabagismo afetam diretamente a secreção da melatonina. Para quem já tem tendência à insônia, o impacto é ainda maior.

Tipos de liberação
Na escolha do tipo de suplemento, vale saber que a melatonina de liberação imediata tem ação mais curta, sendo útil para induzir o sono.
Já a de liberação prolongada tem duração de até oito horas, ajudando a manter o sono ao longo da noite, especialmente útil em idosos com sono fragmentado.
A diferença de ação deve ser considerada junto à avaliação clínica.
- Gotas ou spray: absorção rápida, indicadas para quem quer dormir logo após o uso
- Cápsulas: liberação controlada, ideais para quem precisa manter o sono durante a noite
A escolha depende da preferência pessoal e da indicação médica.
Efeitos colaterais
Em relação aos efeitos colaterais, a melatonina costuma ser bem tolerada. Os mais comuns são sonolência diurna, dor de cabeça e sonhos vívidos. Não há risco de dependência física, mas o uso indiscriminado pode desregular ainda mais o sono.
O hormônio também pode interagir com medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e remédios para pressão arterial — por isso, a orientação médica é fundamental.
Embora existam estudos sugerindo efeitos antioxidantes e benefícios para o sistema imune, sistema cardiovascular e saúde cerebral, os especialistas reforçam que o principal efeito comprovado da melatonina ainda é sua ação reguladora do ritmo biológico.
Seu uso como ferramenta pontual pode ajudar, sim, desde que com cuidado, orientação e objetivos bem definidos. Suamy observa:
— A melatonina não é para tratar tudo e nem deve ser a primeira opção diante de qualquer dificuldade para dormir. Antes de recorrer ao suplemento, o ideal é revisar hábitos, rotina, exposição à luz e o próprio ambiente de sono.
Passo a passo para escolher a melatonina com segurança
Na hora de comprar
- Verifique se o produto tem registro na Anvisa (indica segurança e procedência)
- Dê preferência a versões nacionais, que costumam ter doses mais adequadas
- Evite compras em sites internacionais com fórmulas não regulamentadas
- Observe a dose por cápsula, gota ou spray (baixas doses, como 0,5 mg a 1 mg, costumam ser suficientes)
- Confira se o produto é de liberação imediata (ação rápida) ou prolongada (ação por até oito horas)
Como tomar corretamente
- Tome de uma a duas horas antes do horário desejado para dormir
- Ajuste a dose conforme orientação médica: doses mais altas nem sempre são melhores
- Use por tempo limitado, com avaliação médica regular
- Respeite o horário ideal para não desalinhar o ritmo circadiano
Cuidados importantes
- Não use sem orientação média, especialmente se você for: gestante, lactante, criança, idoso ou tiver doenças crônicas
- Evite o uso combinado com antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes ou remédios para pressão sem liberação médica
- Atenção aos efeitos colaterais leves: sonolência diurna, dor de cabeça e sonhos vívidos
- Melhore hábitos de sono antes de começar a suplementação (redução da exposição à luz, telas, rotina regular)
Perguntas frequentes (FAQ) sobre melatonina
O que é melatonina?
É um hormônio produzido pela glândula pineal que regula o ritmo circadiano. Sua produção aumenta à noite, sinalizando que é hora de dormir.
Ela faz dormir?
Não diretamente. Ela sinaliza ao corpo que está na hora de repousar. Não é um sedativo, mas sim um regulador do relógio biológico.
Quando a suplementação é indicada?
Quando há alterações no ritmo do sono, como jet lag, trabalho em turnos, insônia em idosos e distúrbios neurológicos (Alzheimer, TEA, TDAH) — sempre com avaliação médica.
Toda pessoa pode usar?
Não. Crianças, gestantes, lactantes e pessoas com doenças crônicas ou em tratamento com certos remédios devem consultar um médico antes.
Existe risco no uso contínuo?
Sim. A eficácia pode cair com o tempo se a melatonina for mal utilizada (horário errado, dose alta, sem necessidade clínica). O uso deve ser pontual e monitorado.
Como escolher uma boa melatonina?
- Verifique registro na Anvisa
- Prefira doses baixas e produtos simples
- Avalie o tipo: imediata (induzir o sono) ou prolongada (manter o sono)
Doses mais altas são melhores?
Não. A resposta segue uma curva em U: doses altas podem atrapalhar. De 0,5 mg a 2 mg costuma ser suficiente.
Qual versão escolher: gotas, cápsulas ou spray?
Todas funcionam, desde que a dose e o horário estejam corretos. A escolha depende da preferência pessoal e indicação clínica.
Quais os efeitos colaterais possíveis?
Geralmente leves: sonolência durante o dia, dor de cabeça ou sonhos intensos. Não causa dependência física, mas pode causar dependência comportamental.
Pode interagir com medicamentos?
Sim. Antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e remédios para pressão podem alterar o efeito da melatonina. Sempre informe seu médico.
A melatonina engorda?
Não. Pelo contrário, um sono regulado ajuda no controle do apetite. Mas doses erradas e horários ruins podem desregular o metabolismo.
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