
A jovem que ficou soterrada por uma carga de serragem por cerca de duas horas após um acidente na alça de acesso da BR-448, em Porto Alegre, sobreviveu graças à estrutura do carro, segundo especialistas. O tipo de material que cobriu o veículo também foi determinante para que Eduarda Corrêa, 23 anos, saísse da ocorrência com vida.
O acidente aconteceu na terça-feira (7). Durante o resgate, Eduarda se manteve lúcida e conseguiu acionar os pais e o noivo por telefone.
Nesta quinta (9), a motorista foi transferida do Hospital Cristo Redentor para a Santa Casa — segundo o noivo, ela segue com dores, mas passa bem.
- As imagens do acidente mostram que, externamente, o carro em que estava Eduarda ficou completamente destruído, mas manteve a integridade da cabine.
- Os vidros fechados criaram uma bolha de ar, o que permitiu que a motorista continuasse respirando
- Uma estrutura chamada "cápsula de sobrevivência" — formada por colunas e portas com proteção reforçada — absorveu o impacto e evitou a compressão total do veículo
Para Ricardo Hegele, médico especialista em medicina do tráfego e presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego no Rio Grande do Sul (Abramet-RS), a sobrevivência da motorista se deu por "circunstâncias especiais".
— O tombamento ocorreu sobre um veículo com habitáculo de proteção. Essa célula é reforçada e protege os ocupantes em casos de capotamento — explica.

Carga menos densa
O fato de a carga ser de serragem, um material menos denso, também contribuiu.
— É um material leve e poroso, que não adentrou totalmente no veículo. Isso ajudou a formar uma bolha de ar, que ajudou a mantê-la viva. E um veículo com os vidros todos fechados, com essa bolha de ar que permanece dentro, pode manter uma pessoa viva por 30 a 60 minutos em média — detalha Hegele.
O entendimento é o mesmo do bombeiro que coordenou o resgate de Eduarda, capitão Daniel Suchy.
— Apesar de o carro ter ficado completamente esmagado, não tinha muita serragem dentro do veículo. Se tivesse muita serragem, talvez isso, inclusive, impossibilitasse ela de respirar. Então, graças a Deus, não tinha muita serragem — afirma.
Segurança veicular
Especialistas apontam que a posição do carro após o impacto e o uso do cinto de segurança também foram determinantes. Detalhes milimétricos, como o ponto exato da colisão e a estrutura do veículo, podem definir a sobrevivência em situações como a do acidente em Porto Alegre.
Em colisões fortes, o corpo humano sofre desaceleração violenta. Sistemas como airbag e cinto de segurança atuam para controlar esse movimento. Carros mais modernos contam com segurança ativa: em desacelerações bruscas, cintos e portas são travados e os vidros fechados automaticamente.
— A parte onde estão motorista e carona é uma cápsula de segurança. O motor é projetado para se soltar em batidas fortes, evitando que entre no habitáculo — afirma o engenheiro mecânico Anderson de Paulo.
As circunstâncias do acidente ainda são apuradas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Um laudo pericial será produzido. O motorista do caminhão realizou no dia exame de etilômetro, que deu negativo para a presença de álcool no organismo. Por não envolver morte ou crime como alcoolemia, o caso não foi encaminhado para a Delegacia de Trânsito, segundo a PRF.
Familiares acompanharam resgate e internação
O noivo de Eduarda, Gabriel Zanettin, 25 anos, trabalha na Arena do Grêmio, ao lado do local do acidente, e foi a pé para tentar resgatá-la. O peso da serragem amassou o teto do veículo e deixou a estudante confinada em um pequeno espaço.
De acordo com o capitão Daniel Suchy, um bombeiro de folga, parente de Eduarda, também atuou no resgate. A mãe da jovem foi até o local acompanhar o socorro.
— A gente sempre tenta passar esse contato humanizado para os parentes para que eles não fiquem tão nervosos — disse.
Gabriel acompanhou a noiva até o Hospital Cristo Redentor, na Zona Norte. Segundo ele, a jovem não sofreu perfurações no acidente.
— Ela, quando saiu da ambulância, queria ver eu e os pais dela, a família.
Casamento em novembro
De dentro do carro, Eduarda entrou em contato com o noivo por telefone, dizendo que o amava. Os dois estão com o casamento marcado para novembro.
— A gente casa no dia 1º de novembro, ontem nós fizemos as fotos. Ela pediu desculpas por tudo, que não ia conseguir. (Disse) Que me amava, que amava a família — relatou Gabriel, 25 anos, que trabalha na Arena do Grêmio, ao lado do local do acidente.
O relato do casamento foi repetido pela motorista aos bombeiros, segundo o capitão Daniel Suchy.
— Então, a gente disse que o casamento dela ia sair, que ela não precisaria ficar nervosa, que era um trabalho demorado, mas que ela logo ia estar com o noivo dela, com a mãe dela.



