
O Rio Grande do Sul encerrou 2024 com o maior número de multas de trânsito da série histórica recente: foram 3.989.158 autuações em ruas e rodovias estaduais e federais, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (DetranRS). E 2025 já dá sinais de que poderá ultrapassar esse patamar.
Apenas entre janeiro e abril deste ano, 1.672.017 infrações já foram registradas — quase metade do total de todo o ano anterior.
Um dos principais fatores para esse crescimento está nas autuações por evasão de pedágio em pórticos com sistema free flow, regulamentado recentemente e ainda em fase de adaptação entre os motoristas.
O número de infrações por esse motivo saltou de 2.868 em 2023 para 468.046 em 2024, e chegou a 206.953 apenas nos primeiros quatro meses de 2025 — um volume mais de 70 vezes maior do que o registrado há dois anos.
"Era uma infração que sequer existia", afirma a Secretaria Extraordinária da Reconstrução Gaúcha, responsável pela interlocução com as concessões rodoviárias no Estado.
Para tentar conter esse avanço, uma das medidas adotadas foi a ampliação do prazo para pagamento da tarifa nos pórticos, que passou de 15 para 30 dias em outubro de 2024.
Ainda assim, a pasta afirma que mais de 96% dos motoristas que passam pelos equipamentos quitam corretamente a tarifa dentro do prazo, o que indicaria que boa parte das infrações decorre de desatenção ou desconhecimento.
Excesso de velocidade
Apesar do crescimento das multas por evasão de pedágio, o excesso de velocidade segue liderando o ranking das infrações mais comuns no RS, seguido da não identificação do condutor por pessoa jurídica (art. 257) e de condições irregulares dos veículos (art. 230).
O uso do celular ao volante (art. 252), a falta do cinto de segurança (art. 167) e o avanço de sinal vermelho (art. 208) também figuram entre os 10 principais artigos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) mais infringidos até abril deste ano.
De acordo com o comandante do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), os trechos com maior número de infrações por excesso de velocidade estão nas regiões de Sapiranga, Gravataí e Bom Princípio, em rodovias como a RS-239, RS-122, RS-453 e RS-287.
Ele atribui os registros elevados a uma combinação entre estradas com melhores condições, veículos mais potentes e a pressa típica da vida moderna.
— Os condutores, muitas vezes, estão dispostos a ultrapassar os limites permitidos, o que aumenta o risco de acidentes e a gravidade de suas consequências — alerta André Luiz Stein.
Mesmo com campanhas de conscientização, o não uso do cinto de segurança também segue preocupando as autoridades. Somente em 2025, já foram flagrados 22.314 condutores e 10.687 passageiros sem o equipamento nas rodovias estaduais.
Comportamento de risco
Para a diretora institucional do DetranRS, Diza Gonzaga, o aumento nas infrações está diretamente relacionado a aspectos comportamentais.
— O grande vilão do trânsito hoje é a combinação entre velocidade e celular. Não é desconhecimento das regras, é falta de atenção mesmo. O celular desvia a concentração de forma crítica. Precisamos de campanhas mais efetivas, como as que conseguiram reduzir o álcool ao volante — avalia.
Ela também destaca que o crescimento das multas não se deve ao aumento de efetivo ou à ampliação da fiscalização em si, mas sim a um conjunto de fatores que envolve novas tecnologias, como os sistemas automatizados, e uma certa perda de civilidade nas ruas no período pós-pandemia.
— Parece que houve um relaxamento. As pessoas desaprenderam a respeitar as regras básicas do trânsito — aponta Diza.

Educação e fiscalização
Embora os números indiquem uma pequena queda de 4% nas infrações por excesso de velocidade nas rodovias estaduais no comparativo com os primeiros quatro meses de 2024, o número de acidentes cresceu 12% no mesmo período em 2025. Para o CRBM, isso pode estar ligado ao aumento da frota de veículos, que cresce a cada ano, além da persistência de comportamentos de risco como ultrapassagens perigosas.
Diante desse cenário, o Comando Rodoviário mantém ações educativas, como a Escolinha de Trânsito, voltada à conscientização de crianças e familiares, e participa de campanhas de orientação em escolas e eventos.
Também há previsão de modernização dos equipamentos de fiscalização, com substituição dos radares antigos por modelos mais eficazes.
A mensagem das autoridades é unânime: mais do que punir, é preciso educar.
— Precisamos trabalhar desde cedo a formação de condutores conscientes. É com educação que vamos reduzir as infrações e, principalmente, os acidentes graves — defende Diza.
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