
As marcas escuras flagradas em Marte, que aparecem em imagens de satélite da década de 1970, não são água. Um estudo publicado na segunda-feira (19) na revista científica Nature aponta que as manchas são, na verdade, poeira seca.
Conforme os pesquisadores, as deformações identificadas em Marte são resultado de períodos de seca. O acúmulo de poeira fina da atmosfera do planeta em áreas com maior inclinação favorece a formação das manchas, que à distância parecem água e lembram um rio.
— As minúsculas partículas de poeira podem criar padrões semelhantes a fluxos sem líquido. Esse fenômeno ocorre porque poeira extremamente fina pode se comportar de forma semelhante a um líquido quando perturbada, fluindo, ramificando-se e criando padrões semelhantes a dedos à medida que se move encosta abaixo — explicou à Reuters Adomas Valantinas, pesquisador em ciências planetárias da Universidade Brown e colíder do estudo.
Para efetuar a constatação, os pesquisadores analisaram 87 mil imagens de satélite. A análise incluiu fotos das faixas de encostas, presentes no hemisfério norte de Marte, que desaparecem ao longo dos anos após uma formação repentina.
Anteriormente, acreditava-se que as manchas poderiam representar água, especialmente por refletir em algumas imagens de satélite. O estudo afasta a possibilidade de haver água em Marte, o que diminui as chances de haver vida no planeta.
Apesar disso, Valentin Bickel, da Universidade de Berna, na Suíça, colíder do estudo, não exclui a possibilidade de haver água em Marte. O pesquisador pondera no entanto que, se houver, é em baixa quantidade.
— Em geral, é muito difícil a existência de água líquida na superfície marciana, devido à baixa temperatura e à baixa pressão atmosférica. Mas salmouras (água muito salgada) podem existir por curtos períodos de tempo — ponderou.
Análise
Com base em um grande conjunto de imagens, os pesquisadores utilizaram um método avançado de aprendizado de máquina para encontrar relações entre padrões de temperatura, deposição de poeira, impactos de meteoritos e características do terreno.
A análise estatística espacial revelou que faixas de declive são comuns em áreas com maior concentração de poeira e estão relacionadas a padrões de vento. Outras se formam em regiões afetadas por terremotos.
Os pesquisadores também examinaram as linhas de declive recorrentes, que são características que surgem e desaparecem sazonalmente nas terras altas do sul de Marte. Essas linhas crescem durante o verão marciano e somem no inverno seguinte. A análise dos dados sugere que elas estão relacionadas a processos secos, como redemoinhos de poeira e desprendimento de rochas, em vez de processos que envolvam água líquida.