
Uma sonda soviética lançada há mais de cinco décadas deve reentrar na atmosfera da Terra nas próximas semanas. Trata-se da Kosmos 482, projetada para explorar Vênus, mas que nunca deixou a órbita terrestre devido a uma falha durante o lançamento.
Desde então, circula o planeta em uma trajetória elíptica, cada vez mais próxima da superfície.
Pesando cerca de 500 quilos, o equipamento é monitorado por agências espaciais e astrônomos, que preveem sua queda para o começo do próximo mês — a data mais provável é 9 de maio, mas o cálculo pode variar dentro de uma janela de dias.
— A órbita elíptica que o satélite percorre é semelhante às de planetas ao redor do Sol ou da Lua ao redor da Terra, o que significa que há momentos em que ele se aproxima mais do planeta. Com o tempo, a perda de altitude se acentuou e agora a reentrada é considerada inevitável — explica Guilherme Marranghello, astrônomo da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).
O que é a Kosmos 482?

A Kosmos 482 fazia parte da missão soviética Venera e deveria investigar a atmosfera de Vênus.
Seu lançamento ocorreu em março de 1972, mas a separação prematura da última etapa do foguete impediu que o artefato escapasse da gravidade terrestre.
Embora alguns fragmentos tenham caído na Nova Zelândia, outros entraram na órbita da Terra e devem, enfim, cair na atmosfera terrestre.
— Nas décadas de 1960 e 1970, começamos a enviar sondas para investigar mais detalhadamente a atmosfera e o solo destes planetas, luas, etc. Os seus principais objetivos eram obter novas informações e, claro, demonstrar o poderio dos EUA e da URSS durante a Guerra Fria — conta o astrônomo.
Após o fracasso da missão, a União Soviética lançou a Venera 8, também em 1972, a segunda nave a pousar em Vênus.
Brasil está dentro da área de risco
Com inclinação orbital de 52 graus em relação à Linha do Equador, o satélite passa regularmente por regiões que vão desde o sul do Canadá até o extremo sul da América do Sul.
Isso inclui todo o território brasileiro. Mesmo assim, o especialista afirma que a chance de a Kosmos 482 cair em uma área habitada é muito baixa.
— A faixa de reentrada cobre uma porção significativa do planeta, incluindo América, Europa, Ásia, África e grandes extensões oceânicas. Embora o Brasil esteja dentro da área de risco, a probabilidade de impacto em território nacional é pequena — afirma Marranghello.
A previsão é de que o satélite atinja a atmosfera terrestre a uma velocidade controlada entre 250 e 300 km/h, o que reduz o potencial destrutivo.
No entanto, por ser projetado para suportar as condições extremas da atmosfera de Vênus, há chance de que partes da estrutura sobrevivam ao atrito atmosférico e cheguem ao solo.
— Existe a possibilidade de desintegração. Em geral, a maioria dos objetos se desintegra na atmosfera. A diferença nesse caso é que estamos falando de uma sonda que foi projetada para descer em Vênus, um planeta que tem uma atmosfera extremamente densa e altamente hostil, então é uma sonda construída com materiais bastante resistentes — diz o especialista.
Possível queda
Segundo o especialista, a previsão do local exato de impacto só poderá ser feita poucas horas antes da reentrada.
— Existe a possibilidade de prever, mas com pouco tempo de antecedência. Apenas algumas horas antes do impacto poderíamos estimar onde ele vai cair — afirma Marranghello.
O monitoramento é feito tanto por agências espaciais quanto por astrônomos, como o holandês Marco Langbroek, especialista em cálculos de órbitas, que monitora há anos, a trajetória do objeto.
— Os riscos envolvidos não são particularmente altos, mas também não são nulos. Com uma massa de pouco menos de 500 quilos e um metro de tamanho, os riscos são semelhantes aos de um impacto de meteorito — disse Langbroek ao Space.
Caso algum destroço caia em território brasileiro, a recomendação é não tocar nos fragmentos. Isso porque certos componentes podem conter materiais perigosos, como substâncias químicas tóxicas ou radioativas.
— O mais seguro, ao encontrar qualquer objeto desconhecido é entrar em contato com as autoridades locais como corpo de bombeiros ou polícia, isto porque alguns objetos podem conter elementos radioativos ou cancerígenos — orienta o astrônomo.
*Produção: Murilo Rodrigues