
Em uma pesquisa realizada em Minas Gerais, cientistas observaram macacos-prego-do-peito-amarelo demonstrar a capacidade de produzir lascas de pedra. Até agora, esse feito era considerado exclusivo da espécie humana.
Na análise dos materiais líticos produzidos pelos macacos-prego, foram constatadas semelhanças significativas com as ferramentas de pedra mais antigas conhecidas, produzidas por australopitecos e outros primatas hominídeos na África.
Entretanto, os pesquisadores apontaram que o comportamento da espécie Sapajus xanthosternos não é intencional. Essa descoberta desafia a visão de alguns antropólogos, que consideram a pedra lascada marco crucial da sofisticação da mente dos hominídeos.
Conduzido na mata de uma fazenda em Montes Claros, em Minas Gerais, o estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. O projeto foi liderado pelo Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, com a colaboração dos brasileiros Paula Medeiros e Waldney Martins, da Universidade Estadual de Montes Claros.
Idade da pedra lascada
Para ancestrais do Homo sapiens, o estágio da pedra lascada foi atingido cerda de 3,3 milhões de anos atrás. Até agora, esse feito era considerado exclusivo da espécie humana.
Com a nova descoberta sobre os macacos-prego, pesquisadores apontam que a evolução da inteligência humana pode não ser tão única quanto se acreditava, pois a habilidade desses animais em manipular ferramentas sofisticadamente sugere uma convergência evolutiva no uso de ferramentas entre diferentes linhagens de primatas.
O comportamento dos macacos-prego, usando uma pedra como "bigorna" e outra como "martelo" para quebrar alimentos, já havia sido observado anteriormente, mas a produção acidental de lascas de pedra traz uma nova perspectiva sobre a evolução da tecnologia de pedra lascada.
A pesquisa também levanta questionamentos sobre a interpretação de registros arqueológicos, como demonstrado por estudos anteriores na Serra da Capivara, no Piauí, onde a presença de objetos líticos semelhantes foi inicialmente atribuída à atividade humana.