A Brigada Militar (BM) instaurou um inquérito policial militar (IPM) para apurar as circunstâncias de um suposto confronto que deixou dois jovens baleados em Cachoeirinha em 22 de outubro. A investigação da conduta dos policiais teve início após familiares afirmarem que os rapazes não eram assaltantes, como constava na ocorrência inicial, e que foram "injustiçados" pela ação policial.
De acordo com a corporação, na noite do dia 22, uma viatura foi interpelada por populares que informaram que dois homens em um automóvel tentaram roubar outro veículo. A guarnição identificou um carro com características semelhantes às descritas no bairro Parque Brasília.
Ao tentar a abordagem na Rua Major Alberto Bins, os policiais relatam que foram recebidos com um disparo vindo do interior do carro, o que motivou o revide.
— A guarnição foi surpreendida por um tiro e reagiu à agressão injusta. Nosso objetivo agora é esclarecer, com base técnica, se a conduta foi dentro da legalidade — explicou o tenente-coronel do 26º Batalhão de Polícia Militar (26º BPM) de Cachoeirinha, Roberto dos Santos Donato.
Segundo o tenente-coronel, um dos ocupantes do veículo correu após ser atingido, enquanto o outro permaneceu dentro do automóvel. No assoalho do motorista, os agentes afirmam ter encontrado uma pistola calibre 9 mm com dois cartuchos, que foi apreendida e encaminhada à Polícia Civil.
O IPM foi aberto na semana seguinte ao episódio. Um dos quatro policiais envolvidos já prestou depoimento e os demais serão ouvidos nos próximos dias. A BM também requisitou documentos e laudos aos hospitais e à unidade de pronto atendimento (UPA) que atendeu os jovens.
— O prazo legal é de 40 dias, prorrogável por mais 20, mas pretendemos encerrar antes disso — acrescentou Donato.
Os policiais seguem na ativa durante a apuração do caso.
Famílias contestam a BM
A família de Lorenzo Matos da Silva, 22 anos, contesta a versão da Brigada Militar e afirma que não houve troca de tiros. A mãe do rapaz, Luciana Matos, diz que ele e o amigo Eric Garcia Silva, 21 anos, saíram para buscar uma amiga que havia enviado a localização pelo celular.
— Os meninos estavam indo buscar a amiga e ela mesma contou que a viatura chegou mandando e atirando. Não houve aviso, não houve ordem de parada — relatou Luciana.
Lorenzo está internado em estado grave em um hospital de Porto Alegre e precisou ser entubado. Ele foi atingido por cinco disparos, com ferimentos na boca, no pulmão, no braço e no fêmur.
A mãe de Eric, o outro jovem ferido, também contesta a versão oficial. Paula Garcia afirma que os meninos reduziram a velocidade para parar quando avistaram a viatura, mas os policiais teriam se aproximado em alta velocidade e atirado sem aviso.
— Eles estavam tranquilos. A viatura chegou gritando "perdeu" e atirando — contou Paula.
De acordo com relato de Eric à mãe, Lorenzo saiu do carro e foi encontrado caído no chão, enquanto ele permaneceu no veículo, ferido no rosto e sem enxergar do olho direito. A família nega qualquer envolvimento de Eric com crimes e questiona a origem da arma citada pela polícia.
— O Eric nunca teve arma. Eu acredito no meu filho. Se essa arma apareceu, foi depois porque ele disse que dentro do carro não havia nada — declarou.
Polícia Civil também investiga
A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar a ocorrência apresentada pela Brigada Militar. Segundo o delegado responsável, não há, até o momento, elementos que contradigam a versão apresentada pelo 26º BPM.
— A ocorrência foi registrada como troca de tiros. Houve um disparo inicial vindo do veículo e o revide dos policiais. Até agora, os elementos apontam para legítima defesa — afirmou o delegado André Lobo Anicet, da 1ªDP Cachoeirinha.
O auto de prisão em flagrante foi lavrado logo após o episódio e os jovens receberam liberdade provisória. A arma apreendida foi encaminhada para perícia e a Polícia Civil mantém troca de informações com a Brigada Militar para garantir o andamento conjunto das investigações.


