Principal alvo da Operação Carrasco, deflagrada na manhã desta quinta-feira (4), uma ex-secretária do Bem-Estar Animal de Canoas é investigada por estelionato e maus-tratos. Paula Lopes seria responsável por 239 eutanásias de cães e gatos em oito meses — período em que comandou a pasta —, número considerado alto por integrantes de ONGs que auxiliam as autoridades.
Paula nega as suspeitas e afirma que as denúncias são infundadas. Já a prefeitura diz que "abriu um expediente interno para apurar os fatos". (leia os contrapontos abaixo)
A ação da Polícia Civil teve como objetivo reunir provas para contribuir com a investigação. A apuração teve início após denúncias feitas desde abril deste ano por pessoas que trabalhavam dentro da secretaria.
Nesta manhã, foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão na casa de Paula, na secretaria, na sede da ONG fundada por ela (leia mais abaixo) e também em um sítio em Arroio dos Ratos, que seria de uma tia da ex-secretária.
30 animais mortos por mês
Os atestados das eutanásias realizadas pelo órgão da prefeitura mostram que cerca de 30 animais eram sacrificados por mês pela secretaria. Os documentos eram assinados por uma veterinária que é servidora da pasta.
A polícia investiga o envolvimento dessa mulher — que não teve o nome divulgado — no caso. Foram encontrados ainda diversos certificados assinados ainda sem os dados de identificação dos bichos.
Durante a ação, foram encontrados ao menos 14 bichos mortos guardados em sacos plásticos num freezer na secretaria. Ainda não foi esclarecido se o armazenamento dos animais mortos se trata de um procedimento de praxe para posterior descarte sanitário ou incineração.
Condições precárias
A polícia encontrou na sede da secretaria um contêiner fechado e sem ventilação onde eram mantidos muitos gatos em gaiolas, alguns até mesmo sem caixa de areia.
Segundo voluntários de ONGs que estiveram no local e foram acionadas pela polícia para ajudar no cuidado dos animais, o cheiro no local era muito forte.
Medicamentos veterinários em sítio
Já no sítio em Arroio dos Ratos, a polícia encontrou uma grande quantidade de medicamentos veterinários. Ainda não há confirmação da procedência desse material, informou a delegada Luciane Bertoletti, responsável pelo caso.
— De acordo com a proprietária do sítio, foi uma doação da secretária, mas a doação veio da onde, ela adquiriu eles ou ela conseguiu por outro meio?
Quatro investigados
Ao todo, quatro pessoas são investigadas pela Polícia Civil: Paula Lopes, o marido e a tia dela, além da veterinária que assinou os termos de eutanásia, para saber se ela ciente do que estava acontecendo.
A investigação irá analisar os documentos apreendidos para entender como funcionava a atuação de Paula na ONG e na prefeitura. As autoridades ainda apuram se havia desvio de recursos do município de Canoas e dos valores recebidos via Pix pela ONG da ex-secretária.
Contraponto
A reportagem de Zero Hora procurou a defesa de Paula Lopes, que ainda não se manifestou. Em postagem nos stories do Instagram, ela confirmou o cumprimento de mandado em sua residência e afirmou que teve o celular confiscado. Nos vídeos, ela afirma que as denúncias são infundadas.
— Isso é só mais um reflexo do que a política faz — diz ela. — O meu único objetivo vai ser sempre ajudar os animais.
Paula ainda contou que foi alvo de outras denúncias do Ministério Público no passado, que não foram adiante e que o trabalho dela "incomoda" outras pessoas. Ela prometeu divulgar "as verdades disso tudo" assim que possível.
A prefeitura de Canoas se pronunciou em nota:
A Prefeitura de Canoas recebe com indignação as denúncias relacionadas à operação realizada na manhã desta quinta-feira (4). A administração municipal sempre se comprometeu a tratar o cuidado com os animais como prioridade. A Prefeitura reitera que colabora com as investigações e abriu um expediente interno para apurar os fatos com todo o rigor.
Quem é Paula Lopes
Apesar de não estar mais no cargo, o nome de Paula ainda consta como secretária da causa animal no site da prefeitura de Canoas, em que ela é introduzida como "empresária e ativista da Causa Animal, onde atua há mais de 20 anos".
Ela tomou posse como secretária em janeiro deste ano, no início da gestão do prefeito Airton Souza, e foi exonerada em agosto. Em uma publicação do Diário Oficial no último dia 13, consta que a exoneração foi feita a pedido da secretária.
Nas redes sociais, tanto o perfil pessoal dela quanto o da ONG mostram vídeos de cachorros em más condições sendo acolhidos por ela. Paula ainda diz ter tido forte atuação nos resgates de animais durante a enchente de 2024.
Polícia suspeita de uso de associação
No ano 2000, conforme a biografia, ela fundou o Projeto Adoradores de Vira-Latas. Já em 2018, ela criou a Associação Nacional Instituto Paula Lopes, na qual atua até hoje.
Conforme a polícia, ela usaria a chave Pix da instituição para receber valores de campanhas em que prometia resgatar e cuidar de animais, mas há indícios de desvio desses recursos pela ex-secretária. Foram encontrados cerca de R$ 100 mil em espécie na casa dela. A origem do dinheiro ainda está sendo apurada pela polícia.





