
Uma operação policial deflagrada nesta quarta-feira (20) investiga um grupo suspeito de invadir sistemas do governo federal e de Tribunais de Justiça de diversos Estados para aplicar o golpe do falso advogado.
Até o início desta tarde, 11 pessoas foram presas na operação realizada nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte. Para a ação, foram expedidos 66 procedimentos judiciais entre mandados de busca e apreensão, de prisão e de bloqueio de conta.
As investigações começaram há cerca de cinco meses na Delegacia de Combate a Estelionatos de Joinville, em Santa Catarina, que descobriu que pessoas físicas e jurídicas estariam utilizando a identidade de advogados catarinenses e também dados de processos judiciais para enganar vítimas visando obter lucro com o suposto serviço prestado.
Facilidade
De acordo com Artur José Dian, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, esses falsos advogados entravam em processos — sejam por meio de fontes abertas ou por meio da invasão de sistemas do Judiciário — e conseguiam ter acesso a trechos de processos ou a processos inteiros.
Por meio desses processos, eles conseguiam dados das vítimas e se comunicavam com elas se passando por falsos advogados, pedindo que elas depositassem uma determinada quantia para dar andamento no processo.
Esses falsos advogados, explicou Ross, “inicialmente utilizavam fontes abertas para angariar informações e, num segundo momento, entravam no próprio sistema judicial e captavam fontes sensíveis de informações, dados das vítimas e dados do processo”. De posse desses dados, eles entravam em contato com a vítima, se passando por advogados do processo.
Vítimas
O advogado Guilherme Aquino Reusing Pereira, vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Joinville, foi um dos que teve seus dados utilizados pelos criminosos.
— Há vítimas que são clientes de nossos escritórios. Há pessoas que se passam pela gente como advogados. De forma sintetizada, é um golpe onde o meliante faz contato com o cidadão, que é parte do processo, se passando por um advogado que é parte daquele processo. Ao fazer esse contato, ele vem com o argumento de que há uma custa a ser paga para ser expedido um alvará judicial ou para que o processo tramite— explicou Pereira.
Uma de suas clientes, contou Pereira, chegou a depositar R$ 20 mil para os criminosos, acreditando erroneamente estar falando com ele. Os criminosos utilizaram uma foto do advogado e mandaram mensagens para a cliente por meio do WhatsApp se fazendo passar por ele, pedindo que ela depositasse um dinheiro referente a “custas do processo”.
A operação
A operação desta quarta-feira contou com a participação do Departamento de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo (Dipol) e de representantes do Poder Judiciário e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Só no território paulista foram cumpridos 12 mandados de busca e cinco de prisão nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Itaquaquecetuba e São Vicente.
Em entrevista coletiva, os delegados que participaram da operação informaram que ainda não é possível mensurar a quantidade de vítimas ou quanto foi movimentado pelos criminosos.
Segundo o delegado Vinicius Ferreira, da Delegacia de Combate a Estelionatos de Joinville, que presidiu as investigações, os valores depositados pelas vítimas variavam. Mas houve clientes que chegaram a depositar até R$ 100 mil para os criminosos.
Dicas para não cair em golpes
Para não cair em golpes como esse, alertaram os delegados, é preciso que a população tenha cautela.
— Tem que ter um certo cuidado porque quando ela (a vítima) recebe essa ligação, com uma série de informações verídicas, ela tem que estar atenta ao processo do qual participa. Ela precisa fazer contato com advogado, que é o (legítimo) advogado da causa e sempre desconfiar de grandes benefícios — disse o delegado-geral da Polícia de São Paulo.

