
A Polícia Federal (PF), com apoio da Receita, mobilizou 1,4 mil agentes nesta quinta-feira (28) para uma megaoperação contra o crime organizado. O foco eram esquemas bilionários de fraude em combustíveis e lavagem de dinheiro, com envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do país.
Como criminosos ganhavam dinheiro com combustíveis?
Segundo a investigação, o grupo criminoso desviou 10 milhões de litros do composto químico metanol. O produto chegava ao Brasil pelo porto de Paranaguá, no Paraná, e era transportado clandestinamente, em caminhões dos bandidos, até postos de combustíveis em São Paulo.
O metanol era, então, usado para batizar a gasolina vendida, aumentando os lucros. Enquanto a Agência Nacional do Petróleo (ANP) limita a 0,5% a mistura deste químico na gasolina, a investigação encontrou concentração de até 50% em postos envolvidos no esquema.
O produto adulterado também seria distribuído a postos de outros nove Estados, além de São Paulo, inclusive o Rio Grande do Sul.
Lavagem de dinheiro
Para ocultar a origem e o destino do dinheiro obtido por meio do esquema envolvendo os postos de combustíveis, de acordo com a PF, centenas de empresas foram abertas. O grupo fazia transações por meio de fintechs (startups que oferecem serviços bancários), se aproveitando de brechas na regulação do setor para colocar o dinheiro ilícito no sistema financeiro.

Segundo a Receita Federal, uma fintech, utilizada pelo grupo investigado como "banco paralelo", movimentou R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024. Outras instituições do tipo também seriam utilizadas.
"Fintechs têm sido utilizadas para lavagem de dinheiro nas principais operações contra o crime organizado, porque há um vácuo regulamentar, já que elas não têm as mesmas obrigações de transparência e de fornecimento de informações a que se submetem todas as instituições financeiras do Brasil há mais de 20 anos. O crime organizado sabe disso e aproveita essa brecha para movimentar, ocultar e lavar seu dinheiro sujo", avaliou a Receita, em nota, destacando que publicou, no fim de 2024, uma instrução normativa que aumentaria a transparência deste segmento, mas a medida foi apontada por opositores do governo federal como tentativa de tributar o Pix e acabou revogada. A normativa será revista e republicada.
A operação desta quinta também apontou que o PCC tinha controle sobre ao menos 40 fundos de investimentos (multimercado e imobiliários), com patrimônio superior a R$ 30 bilhões. O esquema seria operado a partir da Avenida Faria Lima, em São Paulo, principal centro financeiro do Brasil.
As investigações apontam que os fundos foram usados para ocultar patrimônio e financiar a compra de ativos estratégicos. Entre eles:
- um terminal portuário;
- quatro usinas de álcool;
- 1.600 caminhões para transporte de combustíveis;
- mais de cem imóveis, incluindo fazendas milionárias no interior de São Paulo e uma residência de luxo em Trancoso (BA).
A operação identificou que os fundos eram fechados, com apenas um cotista, geralmente outro fundo, criando camadas de ocultação.
O esquema investigado envolvia mais de 1 mil postos de combustíveis, mas nem todos vendiam gasolina adulterada. Muitos eram usados somente para lavar dinheiro, recebendo os recursos e repassando para contas bancárias dos criminosos. Além disso, os estabelecimentos envolvidos sonegavam impostos, com desfalques ao erário que chegariam a R$ 8,6 bilhões.
Alvos da operação
A PF cumpriu 14 mandados de prisão preventiva nesta quinta. Até por volta das 19h, apenas seis dos alvos haviam sido presos.
Ao g1, um dos delegados envolvidos na operação classificou este número baixo como "totalmente atípico" e disse que os porquês serão investigados. A PF vai avaliar se houve vazamento de informações sobre a ação. Os investigados seguem sendo procurados.
Entre os alvos dos mandados estavam Mohamad Hussein Mourad, conhecido como "Primo" ou "João", e Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco". Mourad é apontado como chefe do esquema investigado. Ele seria controlador de uma rede de empresas do setor de combustíveis, de refinarias a lojas de conveniência, usada nas ações ilegais. Beto Louco é chefe de duas empresas investigadas que atuam na produção e distribuição de combustíveis.
Até esta publicação, não havia informação sobre a prisão deles, nem manifestação das defesas.



